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Como utilizar os recursos digitais no processo catequético? “A catequese, a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, passou a ser compreendida como processo de iniciação à vida cristã com inspiração catecumenal” (DC, 2014, p. 61). A Igreja no Brasil vem refletindo com o Povo Deus uma nova compreensão, ainda mais profunda, da relação entre Catequese e iniciação à vida crista. Aos poucos, se começa a compreender toda a inspiração catecumenal da Catequese, e de como ela está a serviço da Iniciação a vida Cristã. Na última publicação da Comissão Episcopal Pastoral para a animação Bíblica-Catequética, o Itinerário Catequético, fica mais claro este processo da Iniciação à vida Cristã. No entanto, neste texto vou me deter a refletir sobre a problemática e as possibilidades da catequese renovada no ambiente digital e sua influência na pastoral.
Catequese vem da palavra grega katá-ekhein que significa ressoar. (DNC, 2005, p. 46) Partindo desse ponto de vista, podemos entender a catequese como o ecoar de uma experiência de fé, ou seja, uma comunicação experiencial cristã. Já no ambiente digital, essa comunicação experiencial tem exigências tanto na linguagem usada como no meio em que é transmitida. Os meios de comunicação podem ser um instrumento para Igreja ressoar esta experiência desde que consigam compreende-los.
No passado a Igreja usou de imagens para comunicar a sua mensagem. Ao entrar em uma catedral tudo comunicava.
Arquitetura, pinturas, vitrais e as imagens estatuarias. Tudo era, como que um instrumento, para transmitir uma mensagem para todas as pessoas que ali entravam. Não era uma linguagem de correlação, a pessoa entrava no templo e podia na sua contemplação fazia a sua oração e dali brotava a sua interpretação. É claro que muitas vezes havia uma influência, devido as homilias ou histórias escutadas ao longo da vida. Com a invenção da imprensa de Johannes Gutenberg se popularizou o livro, e assim a leitura. Um longo tempo se passa, podemos classificar como “evolução dos meios de comunicação”, chegarmos no advento da internet, na era digital. Eles influenciam na forma como vivemos e como nos comunicamos. Mas é importante lembrar que era digital vai além dos aparelhos, ela está ligada ao comportamento do ser humano. “Os meios de comunicação estão intimamente ligados à linguagem corporal, verbal, simbólica. É importante a linguagem dos meios de comunicação para a catequese, como parte de enculturação da fé no mundo contemporâneo” (DNC, 2005, p. 186).
O processo catequético é todo ele permeado por um continuo intercâmbio de experiências. Para contribuir com este processo experiencial podemos contar com os novos recursos para educação da fé, oferecido pelos meios de comunicação. Este “educar” deve ser compreendido em sentido secundário e instrumental, ou seja, ele está mais ligado as mediações humanas que podem ajudar no processo de fé. A ação de Deus e ação catequética não estão em lados antagônicos, muito pelo contrário, caminham juntos.
Os conteúdos apresentados pelos meios de comunicação, que são relevantes para a catequese, e aqui compreendemos como o “educar para fé”, nas mais diversas plataformas apresentam-se como preciosos recursos. Uma das possibilidades, que as mídias apresentam e que já vem dando certo é a prática “educomunicativa”. A creditasse que por meio de uma metodologia, se possa usar dos mais diversos recursos para a produção de narrativas, sob diversos formatos, tendo como tema assuntos que podem ser relevantes para a catequese.
Ao abordar um determinado tema, com os meios digitais, assumem o que chamamos de “trasmídias”. O assunto em si, pode ser interligado com várias plataformas ajudando na construção e na compreensão de determinada abordagem (THOMPSON, 2013, p.127).
Um exemplo: ao trabalhar com um grupo de jovens o assunto da “Missão”, é possível ter a Bíblia, seja em papel ou em um arquivo digital, e ler os textos bíblicos que ajudam a refletir sobre a missão de todo cristão. Muitas vezes os jovens estão lendo a bíblia em seus aparelhos eletrônicos, por meio de aplicativos. É possível acessar sites, com textos, vídeos, áudios, fotos de missionário da igreja no mundo todo. Neste processo a experiência tende a ser mais relevante, não ficando apenas na leitura de um texto. Acontece neste momento uma transmutação da informação, ela não está apenas vindo em um único meio, mas em vários, ajudando a olhar o tema de vários angulas e nas mais diversas formas.
É possível organizar uma ligação via videoconferência com um missionário, que pode partilhar ao vivo a sua experiência como discípulo a todo grupo. Aquele encontro pode continuar, eles podem adicioná-lo em alguma rede social (facebook, twitter, instagram…) e acompanhar as suas histórias e narrativas diárias, criando uma relação, mesmo que digital. Aos poucos aqueles jovens verão fotos ou vídeos, postagens do missionário e vão recordar da experiência que tiveram, lembrarão dele em suas orações e até mesmo criar um desejo missionário.
As redes sociais são uma oportunidade de encontro e reflexão do processo catequético. Presente nela o cristão é chamado a muito mais do que compartilhar imagens de santos, mas testemunhar na rede a vivência cristã, uma interação entre fé e vida. A rede social pode auxiliar como instrumentos de fortificação dos laços da comunidade, mas nunca excluirá a vivência presencial comunitária. A utilização de uma não exclui a outra.
Existe amplo canal criativo para unir a catequese com os meios e a experiencial da vida na era digital. Mas o importante é que tudo isso deve ser usando sempre com uma mística, o testemunho pessoal, os contatos presenciais são e serão sempre em primazia. Conforme o teólogo italiano, Antônio Spadaro (2012, p. 87), este é um aspecto fundamental. Hoje o homem da rede confia nas opiniões em forma de testemunhos. Na era digital tudo se completa, é “BeUseful”, tudo deve ser útil, colaborativo?—?os meios e as mensagens podem ser útil para esta educação experiencial da fé. Sabemos que em nosso tempo, muitas vezes, a comunicação se torna estratégia de construção de perigos e medos iminentes. Mas no meio deste murmúrio se houve um sussurro: Não tenhas medo, que Eu estou contigo (Is 43,5). Esta citação do livro de Isaias, será o tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais 2017. Comunicar esperança e confiança no nosso tempo.
Os meios de comunicação são uma criação da graça do conhecimento humano, o qual Deus nos permitiu criar e usar. Com esperança precisamos aprimorar e compreender os benefícios e desafios que estes meios podem gerar. Sem nunca esquecer de ler também os efeitos da influência do comportamento humano e social, pois a igreja precisa falar a linguagem e interagir neste mundo digital.
Na história da Igreja Católica sempre se olhou para a comunicação como um elemento importante a ser contemplado. Os inúmeros documentos da Igreja, nos revelam o constante processo de aceitação e compreensão da comunicação como um ambiente de evangelização. Num processo lento, mas significativo a Igreja foi compreendendo a necessidade da construção do diálogo entre fé e cultura. A Igreja precisa atualizar e ser sinal neste ambiente. Como recorda a especialista em comunicação, Juana Puntel (2010, P. 188), “estamos como que no limiar de uma ‘história nova‘, porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, também mais o apelo de revelar o ‘rosto de Deus’, no mundo”.
Em nossos dias, nasce uma nova necessidade pastoral. Compreender a linguagem digital, mas sobre tudo entender como o “homem da rede” pensa e vive nessa nova cibercultura. Entramos em um novo processo de comunicação, que exige a passagem da simples transmissão da fé, para um modelo de interatividade participativo. A catequese pode ser esta ponte, para construção deste novo modelo pastoral de evangelização. Sem negar o passado, mas adicionando novos recursos, quem venham para ajudar na evangelização em nosso tempo.
[Frei Malone Rodrigues é frade franciscano – Religioso da Ordem dos Frades Menores.]
BIBLIOGRAFIA
CONFERÊNCIA DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório Nacional da Catequese. São Paulo: Paulinas, 2005.
CONFERÊNCIA DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. São Paulo: Paulinas, 2014.
PUNTEL, Joana. Comunicação: Diálogos dos saberes na cultura midiática.
SPADARO, Antonio. Ciberteologia: pensar o cristianismo nos tempos da rede. São Paulo: Paulinas, 2012.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: Uma teoria social da mídia. 14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013
Por Maria Aparecida de Cicco (Via Universo Vozes)
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