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A ignorância, seja da fé ou da educação em geral, constitui-se um mal. A misericórdia reside em resgatar das trevas do erro e do relativismo aqueles a quem o Cristo redimiu por sua paixão. Por isso, a catequese, enquanto educação da fé, e caminho da iniciação cristã, também é uma obra de misericórdia. Esta é a tese defendida por Santo Agostinho em seu De catechizandis rudibus, publicado no Brasil como A Instrução dos catecúmenos. A obra é datada por volta do ano 400 e foi escrita para atender ao pedido de um diácono de Cartago, chamado Deográtias, encarregado de ensinar e de instruir, na doutrina cristã, aqueles que pretendiam conhecer a fé cristã.
No capítulo quarto do texto, Santo Agostinho assevera sobre o amor de Deus manifesto em Jesus Cristo que revelou o desígnio salvífico de Deus ao longo da história, que se condensa no amor e na misericórdia de Deus para com a humanidade. Partindo dessa premissa: o amor misericordioso de Deus para com o ser humano, o Bispo de Hipona estrutura sua pedagogia catequética. Esta é toda moldada pela mensagem de amor, fundada no amor de Cristo, «que veio ao mundo para que o homem saiba quanto Deus o ama e aprenda a abrasar-se inflamado no amor de Deus que o amou primeiro, e no amor ao próximo, de acordo com a vontade e exemplo de quem se fez próximo ao amar previamente, não o que estava perto, mas o que estava longe dele» (De catechizandis rudibus 4,7) .
Neste sentido, Santo Agostinho sustenta que, a partir da misericórdia de Deus face à miséria humana, nasce a caridade que deve nortear todo o ato catequético. A caridade como núcleo da revelação cristã e, por conseguinte, como núcleo da transmissão da fé. O catequista deve apreender que a todos se deve a mesma caridade, porque não há nenhum remédio melhor do que caridade, que ensina, corrige e cura a todos. Na verdade, é movido por este amor que o catequista se une aos seus ouvintes. Por isso, a caridade deve ser comunicada, não só na exposição da fé, que parte do amor e da misericórdia de Deus, mas, sobretudo, deve ser o fundamento na relação catequista-catequizando. Porque quanto mais o catequista ama aqueles que lhe foram confiados para catequizar, mais procurará empenhar-se com muita alegria, e sem grande fadiga, em ensinar o caminho do amor de Deus aos seus catequizandos
Para o Santo, somente a caridade do catequista poderá motivá-lo a prestar atenção às necessidades dos diversos ouvintes que compõe o grupo de catequese. Na obra De catechizandis rudibus, Santo Agostinho destaca a humana delicadeza que exige do catequista manifestar profunda simpatia e sincera amizade para com aqueles que ele deve instruir. Esta caridade catequética sintetiza toda a missão do catequista, pois será expressão viva da simpatia e do amor que Deus tem pelo ser humano pessoalmente. Nesse sentido, o Bispo orienta o diácono Deográtias para que tente todos os meios possíveis para fazer com que os que eventualmente estejam apáticos, temerosos ou duvidosos saiam da letargia da timidez e tenham mais confiança e segurança nas palavras que escutam. Isto implica num grande gesto de amor para com os ouvintes da mensagem. E acrescenta: Ora, se o coração entorpecido desperta ao sentir-se amado, se o que já ardia, mais se acende ao saber-se correspondido, é evidente que nada é mais capaz de despertar o amor daquele que ainda não ama, que saber-se amado (De catechizandis rudibus 4,7).
Por Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)
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