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Por: Maria Helena Brito Izzo
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
Existem duas espécies de ciúme: o normal e o doentio. O normal revela carinho e cuidado, porque representa aquela pitadinha que faz com que as pessoas se sacudam um pouco, zelando pelo que é seu. É a busca da troca que deve haver entre aqueles que se amam. O doentio, como q próprio adjetivo diz, arrasa a pessoa. É um sentimento possessivo, agressivo, baseado na insegurança e no medo, e os que se deixam levar por ele destroem os outros e a si.
Há quem é muito ciumento, mas sabe se controlar. O ciúme doentio, porém, além de desequilibrar o sujeito,reflete também nos outros, que são controlados e importunados o tempo inteiro. Faz com que se criem e alimentem fantasias, impedindo que o objeto do ciúme, em geral a pessoa amada, progrida, mantendo sua individualidade.
Quem se deixa dominar por esse sentimento envenena a própria vida. Seu modo de agir está baseado numa concepção distorcida do eu interior ou num complexo de superioridade que de superior nada tem. Trata-se de um complexo de inferioridade camuflado, que leva a pessoa a sofrer demais e a fazer os outros sofrerem também e, o que é pior, correr grande risco de perder o ser amado, porque o massacra e anula. Tanto o agride que chega o momento em que este, cansado e revoltado, reage e se liberta desse jugo. Não agüenta a insegurança em que vive, pois nunca sabe qual será a reação e o posicionamento do outro.
O ciúme doentio denota que o indivíduo não confia em si, é inseguro mas, ao mesmo tempo, considera-se dono da verdade. Não se importa com os sentimentos dos outros, provando assim que possui um desequilíbrio, às vezes baseado na rejeição. Não sabe trabalhar consigo mesmo e, conseqüentemente, encontra problemas para lidar com os outros. Como não resolveu suas frustrações, em vez de consertar-se, projeta sobre os outros o que tem dentro de si, mas de forma odiosa. Dentro dessa análise, são perfeitamente explicáveis os crimes passionais, frutos da imaginação exacerbada levada às últimas conseqüências.
O maior agravante é que o ciumento doentio é tremendamente infeliz. Vive angustiado, criando traições que, na realidade, não existem. Busca a verdade de forma errada, porque a vê e sente sob o seu ângulo, quando a realidade é outra. Por isso, perturba todo mundo. Controla a vida do outro, castra-o, sufoca-o, desnorteia-o, refletindo o clima insuportável que reina em seu interior. Quem é ciumento não age assim apenas em casa, mas em todos os lugares, inclusive no trabalho. Continuamente vê coisas que não existem e, nesse estágio, demonstra não estar nada bem.
Às vezes, o ciumento tem consciência dessas limitações, mas não imagina que sejam destrutivas a ponto de prejudicar a si e aos outros. Por outro lado, não se acha um fraco. Considera-se esperto, convencido de que está controlando tudo, quando na realidade está castrando o desenvolvimento de quem julga amar. Tem a petulância de se denominar o dono da verdade, embora não passe de um fraco.
Uma das maneiras de a pessoa descobrir que está trilhando o caminho do ciúme doentio é tentar ver se nutre em si a desconfiança e se controla demais a vida de quem ama. Também pelo relacionamento existente é possível perceber se a vida é um tumulto geral: por um lado, as cobranças seguidas e indevidas; por outro, a revolta de quem se vê continuamente vigiado. Se chegou a esse ponto, é hora de procurar a ajuda de alguém para analisar os pontos positivos e negativos desse relacionamento e dar-lhe orientação adequada.
O retorno, através das reações dos que vivem ao seu lado, é o melhor termômetro para medir tal temperatura. Até um indivíduo de inteligência mediana, vendo tantas reações violentas, perceberá que as coisas não vão bem. É o momento certo para parar e refletir sobre o que não vai bem com ele e não jogar a culpa apenas nos ombros dos outros.
Em geral, os portadores do ciúme doentio estão sempre competindo. Mas às avessas. No fundo, têm medo de perder o que julgam possuir, porque não se valorizam o suficiente.
Quem busca a felicidade e percebe que está trilhando o caminho errado precisa assumir uma postura radical para mudar a rota. Procurar um especialista para detectar o problema nesses momentos é mais que necessário, para que o ciúme doentio não se transforme em insanidade.
Também um amigo qualificado pode oferecer a ajuda de que se necessita para se libertar de um comportamento tão prejudicial. Tratar-se com um psicólogo, porém, não significa que a pessoa não terá mais problemas. Ela apenas passará a enxergá-los melhor e a lidar com eles de forma mais correta.
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