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A Bíblia conta que Matusalém viveu 969 (Gênesis 5,27). Além desse caso, outros personagens que viveram antes do dilúvio têm uma idade muito grande, quando morrem (Adão 930 anos, Set 912, Enosh 905, Qenan 910, Mahalalel 895, Yared 962, Enoch 365 e Lameck 777). Portanto a dificuldade não se limita à idade de Matusalém, mas a todos aqueles que viveram antes do dilúvio. Uma das resposta que, às vezes, escutamos em referência a esta dificuldade é que naquele tempo o ano era mais curto. Porém essa resposta não tem fundamento, pois na narração do dilúvio é evidente que o ano tem cerca de 360 dias e o calendário vigente é aquele lunar.
Os nossos patriarcas não viveram efetivamente tantos anos quanto diz a Bíblia. É uma linguagem simbólica influenciada pela literatura do daquele ambiente. Textos suméricos, por exemplo, contam que os primeiros reis viveram cerca de 241 mil anos. Esses reis também teriam vivido antes de um dilúvio (de fato o dilúvio não é uma novidade bíblica: está presente também em outras narrações fora da bíblia).
A Bíblia sofre muito, em relação ao estilo literário, a influência do mundo que envolve o povo bíblico. Todavia não se limita a tomar emprestado as formas literárias, mas coloca elementos particulares. De fato as narrações de personagens com idade avançada tem uma mensagem teológica. Primeiro de tudo, sublinha como esses personagens, mesmo sendo os primeiros da humanidade, não são imortais. Ao mesmo tempo, contando uma história muito antiga pensou que os tempos antigos precisavam ser indicados com algo de extraordinário, que, na perspectiva do autor, devia ser diverso das nossas categorias. O elemento escolhido foi a idade.
Um elemento teológico importante é ligar a vida longa com a santidade de vida. Em relação a isso, leia Gênesis 6,1-4, quando Deus reduz a idade dos seres humanos. De fato a longevidade é dom de Deus (Salmos 21,5), que é concedida àqueles que vivem segundo a vontade divinna (Jó 36,11; Provérbios 3,2; 16,31). As promessas divinas ligam o número de anos de vivência com a observância dos mandamentos. Onde Deus encontra a obediência humana a tais promessas, como em Moisés e em Caleb, garante ao homem, apesar dos anos avançados, a conservação das energias físicas (Deuteronômio 34,7; Josué 14,10; Salmos 92,15), enquanto que o juízo de Deus pune a pessoa antes que esta chega à velhice (1Samuel 2,31.32). É por isso que mais tarde, na literatura sapiencial, o fato que os ímpios vivem mais do que os fiéis se torna um motivo de tentação e de escândalo (Jó 21,7.13).
Não há nenhuma passagem que fala que Jesus tinha 33 anos quando morreu. Todavia há elementos nos evangelhos que conduzem a este número.
Para chegar a esta idade se somam dois fatores que vem de duas fontes diversas. O primeiro encontramos nos sinóticos, exatamente no evangelho de Lucas, onde se diz que Jesus tinha aproximadamente 30 anos quando começou a vida pública (Lucas 3,23).
O segundo elemento para o nosso cálculo vem da narração de João, onde aparecem a menção a 4 festas da páscoa, que era celebrada uma vez por ano (2,l3-23; 5,l; 6,4 e a última, quando Jesus morre). Isso indica que o período do ministério de Cristo teria sido de 3 anos, ou alguns meses mais.
O número 33, portanto, é o resultado da soma da indicação de Lucas com aquela de João.
Cristo morreu jovem, aos 33 anos de idade. Matusalém viveu um pouco mais: morreu com 78 anos de idade.