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Na parábola do semeador Jesus mostrou como há diversas maneiras de se receber a palavra de Deus, que ele compara com uma semente. Segundo Santo Agostinho, “escutar a palavra de Deus é como se alimentar de Cristo”. Ele explicava que há duas mesas na Igreja: a mesa da Eucaristia e a mesa da Palavra. Com isto ele patenteava que a Palavra de Deus é um alimento espiritual. Quem bem se nutria desta refeição santificadora era Maria, a irmã de Marta e Lázaro, elogiada por Jesus pelo fato de O escutar atentamente, deixando todos os outros afazeres.
Aliás, o próprio Cristo aconselharia: “Procurai, antes de tudo o reino de Deus e tudo mais vos será dado em acréscimo (Mt 6,33)”. Portanto, estar atento à Palavra constitui a melhor parte da vida do batizado. Ao deixar Deus entrar na mente pela sua Palavra, meditando-a profundamente e fazendo dela a força e o sustentáculo de cada instante o cristão age menos pela emoção, mas solidificado em profundas raízes espirituais.
Isto porque há então uma conexão admirável dos esforços humanos com o pensamento divino e se colhe um fruto tanto mais saboroso, quanto maior for a docilidade em se acatar as inspirações celestes advindas da Palavra. A grande questão é saber discernir a voz de Deus da voz humana. Ele fala a cada um de maneira diferente. Faz ressoar a sua Palavra por meio de outras pessoas; por meio dos acontecimentos tão repletos dos gestos divinos; das provações de cada hora; mas, sobretudo, é claro, pela Escritura Sagrada ouvida na Liturgia, que é o lugar privilegiado no qual Deus se faz ouvir; e, ainda, na conversa pessoal com ele numa leitura bíblica individual.
Tanto isto é verdade que a mesma passagem da Bíblia cada vez que é refletida traz novas mensagens para a alma de acordo com suas necessidades naquele momento. O citado Santo Agostinho lia e relia muitas vezes certos trechos da Bíblia para que pudesse entender o que Deus lhe queria comunicar. Quem assim procede percebe a reciprocidade da parte do Espírito Santo que exige uma persistência em querer discernir sua luz que ilumina, guia e salva.
Desenvolve-se desta maneira uma amizade pessoal com Deus, a capacidade de perceber as minúcias de seus recados, que, muitas vezes, parecem interpelações que cumpre sejam analisadas. Elas dizem a respeito a nós mesmos, aos que estão em nosso derredor e à nossa relação com Ele.
Por tudo isto, cumpre que se viva na presença de Deus que quer falar a cada um a cada instante num colóquio repleto de luzes, mas tantas vezes exigente, provocador, requerendo sempre um esforço maior em busca da própria santificação e da do próximo. Com efeito, o ato de escutar a Palavra que gera a fé é não só a escuta da palavra escrita, mas também a escutada palavra interior pronunciada pelo Espírito Santo no íntimo da consciência. Isto supõe evidentemente empenho existencial que envolva todas as potencialidades humanas, uma vez que é Deus que quer agir em cada um e com cada um.
No Evangelho Cristo compara a sua palavra a uma semente que produz mais ou menos abundantemente de acordo com a qualidade do terreno. Esta palavra segundo a Carta aos Hebreus é como a “espada de dois gumes” que “penetra até dividir alma e espírito, junturas e medulas. Ela julga as disposições e as intenções do coração (Hb 4,12)”. Eis por que sempre que ouvida com humildade ela é transformante, operando uma cristificação radical, de onde o que é ser necessária sempre ter a atitude de Maria que disse ao Anjo: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)”.
O efeito da Palavra de Deus depende, assim, do empenho de cada um sempre aberto ao diálogo como Criador. É preciso deixar que a Palavra se apodere inteiramente do coração que vai assim ao encontro com as Pessoas divinas, ou seja, ao diálogo inefável da dileção profunda na qual se responde sinceramente a Deus que fala e que exige uma atitude obediencial. Por este acatamento é que a alma se torna terra boa, produzindo fruto cem por um!
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