ACONTECE NA IGREJA Amor Bíblia Carmelitas Carmelo Catecismo Catequese Catequista Catequistas CNBB Coronavírus Deus ESPAÇO DO LEITOR Espiritualidade Espírito Santo Eucaristia Família Formação Fé Igreja Jesus juventude Maria MATÉRIA DE CAPA Natal Nossa Senhora do Carmo O.Carm. Ocarm Oração Ordem do Carmo Papa Francisco Pentecostés provocarmo Páscoa Quaresma Reflexão SANTO DO MÊS Sociedade Somos Carmelitas somoscarmelitas São Martinho Vida vocacional Vocação vocação carmelita
A pergunta que não quer calar: como Adão e Eva tiveram descendentes? Foi por meio de relações incestuosas?
A Bíblia não explica como se desenvolveu a descendência de Adão e Eva. Sabemos que Adão e Eva tiveram muitos filhos (Gn 5, 4), dos quais os primeiros foram Caim e Abel (Gn 4, 1-2), e conhecemos também o fato do fratricídio (Gn 4, 3-16) que levou uma descendência de Caim (malvada e irreligiosa – Gn 4, 17-24) separada da descendência de Set (boa e religiosa – Gn 5, 6-32), o filho “escolhido” por Deus (Gn 4, 25-26. 5, 3-4) para substituir Abel, do qual depois se chegará a Noé e o dilúvio.
Como se gerou essa descendência? Houve muitas hipóteses e todas acabaram encontrando o problema do incesto (relações sexuais entre parentes próximos), fruto de uma interpretação literal da Bíblia.
Para tentar mitigar o problema, foram buscadas muitas explicações: não havia uma lei contra o incesto; viviam muitos anos e casar-se com sobrinhos parece que era “menos grave” etc. Mas nenhuma delas deu uma explicação convincente.
Felizmente, os dois últimos séculos de estudos da Bíblia nos permitem compreender algumas coisas sobre ela que nos ajudam a resolver dificuldades como esta.
Sobre como se deu a descendência de Adão e Eva, é preciso dizer duas coisas:
A primeira se refere ao gênero literário dos primeiros capítulos do Gênesis. Os estudos deixam claro que Gn 1-11 não pode ser considerado uma narração histórica real. Não podemos achar que esses capítulos sejam a crônica dos primeiros anos da história humana.
Além disso, sua redação, procedente de fontes orais, aconteceu na época do exílio e pós-exílio babilônico (aprox. séc. VI-V a.C.). A intenção dos autores não era fazer história, mas contar verdades fundamentais para a relação do homem com Deus.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter claro que tampouco se trata de mitologia, ainda que o texto utilize uma linguagem mítica. João Paulo II explicou isso: “O termo ‘mito’ não designa um conteúdo fabuloso, mas simplesmente um modo arcaico de expressar um conteúdo mais profundo” (Catequese de 7/11/1979).
Para compreender isso, podemos comparar o texto com as parábolas de Jesus. Está claro que tais parábolas têm uma linguagem de “conto” e que não são relatos históricos. No entanto, expressam, muito melhor que uma crônica, qual é a verdade das coisas, e assim “contam” a “verdadeira” história da humanidade (por exemplo, o filho pródigo).
Acontece o mesmo com os primeiros capítulos do Gênesis: “Estes textos não devem ser interpretados como história nem como mito (…), senão que o texto proclama a relação particular que Deus mantém com sua criação” (W. Brueggemann, Genesi, Claudiana, Turim 2002, p. 34).
A segunda reflexão é mais simples e deriva da primeira: quando a Bíblia não especifica e não dá detalhes, isso não é necessariamente um erro, também porque não dizer tudo faz parte do estilo narrativo que estes relatos utilizam.
Quem não gostaria de saber a que idade Maria teve Jesus ou o que Ele fez nos primeiros 30 anos da sua vida? Quantas curiosidades temos sobre a Bíblia! Mas as Escrituras não foram redigidas sob a inspiração de deus para satisfazer nossa curiosidade, mas para fazer-nos crescer e agir segundo a vontade de Deus.
Ainda que soubéssemos como Caim e Set tiveram filhos, isso não seria de muita utilidade. Os textos como Gn 1-11 contêm a verdade sobre o projeto de Deus com relação à criação do homem, sobre a Queda e suas consequências, e esta é a verdade que precisamos buscar.
Via Aleteia
Comments0