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“A formação permanente é um processo que requer esforço contínuo e quotidiano e não desemboca em atividades ocasionais. A formação integral da pessoa tem de implicar a dimensão espiritual e do carisma, humana, comunitária, apostólica, cultural e profissional. Há momentos e situações especiais nas quais é oportuno, e às vezes até necessário, oferecer possibilidades de formação específica para acompanhar adequadamente a passagem de uma situação da vida para outra, ou para a assunção de novas responsabilidades” (RIVC, n. 118).
Atentos a essa orientação da Ratio Institutionis Vitae Carmelitanae, os frades da Província Carmelitana de Santo Elias participaram, no dia 21 de outubro, do Encontro de Formação Permanente promovido pela instituição. Ministrada virtualmente pelo Prof. Dr. Rivaldave Paz Torquato, mais conhecido como Frei Riva, O.Carm., do Comissariado Geral dos Carmelitas do Paraná, a conferência trouxe como tema “Da ausência de Deus à Pastoral do Consolo”, com o objetivo de refletir e encontrar respostas, a partir da espiritualidade carmelitana, aos conflitos existenciais vividos pelo povo de Deus neste período de pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“Os frades da Província Carmelitana de Santo Elias ficaram muito agradecidos pela oportunidade de ouvirem a brilhante reflexão que o Frei Riva trouxe para nós nesse primeiro momento de formação permanente. Suas palavras e os textos bíblicos que citou nos ajudaram muito a pensar, sobretudo, nesse momento pandêmico em que estamos vivendo. Desejamos muito dar continuidade ao aprofundamento com o Frei Riva, principalmente, no que tange a Pastoral do Consolo”, afirmou o Prior Provincial, Frei Adailson Quintino dos Santos.
Traçando um caminho bíblico desde o livro de Gênesis até a Ressurreição, Frei Riva apresentou aos frades da Província de Santo Elias momentos em que o povo da bíblia vive a experiência da ausência de Deus. O frade carmelita ressaltou a importância de estarmos atentos para perceber a presença do Pai também nos momentos de dor e sofrimento.
“As narrativas bíblicas deixam transparecer o jeito misterioso do agir divino, pois quando parece que Ele não vem em nosso auxilio Ele já está lá. Deus surpreende. Não espera a verbalização da súplica, um ato de culto, uma liturgia, porque Ele nos precede. Nossos olhos não estão treinados para perceber isso no nosso dia-a-dia, portanto, estejamos atentos para perceber Deus conosco também no nosso sofrimento, na noite escura, na nossa insegurança. Isso não é fácil, mas é o desafio da fé”, disse.
Refletindo sobre a história de Elias, Frei Riva recorda que o profeta sentiu-se incapaz de contratar o poder autoritário de Acab e Jezabel, optando por fugir, apavorado, desejando morte. E é então que Deus o convida a empreender uma peregrinação de 40 dias pelo deserto até chegar às fontes da fé, o Horeb, o monte Sinai. A partir daí Elias descobre Deus e é através deste episódio que o religioso destaca que “as formas ordinárias e convencionais da manifestação de Deus não são absolutas”.
“Deus veio a Elias não pelas vias convencionais ou ordinárias que seria o furacão, o terremoto, o fogo… Deus veio a ele no rumor de uma simples brisa, isto é, de um jeito novo. Ocasião que o profeta não perdeu! E isso demonstra que as formas ordinárias e convencionais da manifestação de Deus não são absolutas. A narrativa é clara em mostrar que Elias faz a experiência de Deus na fuga, no medo, no deserto, na noite escura e, mais ainda, não no templo e/ou numa liturgia, o que dentro deste contexto pandêmico que estamos vivendo torna-se muito significativo para nós”, pontuou Frei Riva.
Após apresentar diversas passagens bíblicas que, num primeiro momento podem transparecer a ausência de Deus, mas que ao serem aprofundadas nota-se, na realidade, sua presença silenciosa, viva e ativa, o frade do Comissariado Geral dos Carmelitas do Paraná refletiu:
“A nossa noite escura não está de forma alguma alheia aos olhos e ouvidos de Deus, e aqui entra uma questão de fé! Ele sempre vê e ouve, porém, há seu tempo e a seu modo. Isso nos desafia a não desanimarmos sabendo que o caminho é longo, mas como diz o biblista alemão Ernst Axel Knauf: “quem deseja a luz tem que caminhar no escuro”. Eu creio nos textos bíblicos e toda essa situação que estamos vivendo com a pandemia não está ausente aos olhos de Deus. (…) As nossas formas convencionais ou ordinárias de alimentar a nossa fé e fazer a experiência de Deus, as nossas práticas religiosas, nossa liturgia, o rito, o culto organizado, os espaços sagrados agora fechados ou com a participação reduzida de fiéis, são essenciais e de extrema importância, é componente da nossa antropologia, precisamos desses ritos, porém, não esgotam as formas de manifestação de Deus que sempre surpreende e precede, sobretudo, nos momentos de crise. Precisamos estar atentos quanto as nossas práticas, mas também ajudar o nosso povo a atravessar essa noite escura. Reconhecer nas chagas humanas a presença do Ressuscitado é um desafio também para um carmelita. Portanto, temos uma ocasião diante de nós para redescobrir a solidariedade, a cumplicidade com o semelhante, a responsabilidade com a Casa Comum, descobrir o outro, o irmão”, reforçou.
Por fim, Frei Riva concluiu sua fala recordando as palavras do Papa Francisco durante o Capítulo Geral da Ordem dos Frades da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, em 2019: “A contemplação seria passageira se fosse reduzida a êxtases e arrebatamentos, que nos distanciam das alegrias e preocupações das pessoas. Cuidado com o contemplativo não compassivo! A ternura de Jesus ajuda-nos a aproximar-nos das feridas do Corpo de Cristo, que, hoje, são visíveis nos irmãos despojados, humilhados e escravizados. Precisamos de uma revolução de ternura, que nos torna mais sensíveis diante da obscuridade da vida e das tragédias da humanidade”.
O pároco do Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Brasília (DF), Frei João Carlos Dias, O.Carm., partilhou o desejo de um novo Encontro de Formação Permanente apontando que as reflexões sobre a Pastoral da Consolação ajudarão no trabalho cotidiano das Comunidades Carmelitanas.
“É importantíssimo termos esse segundo encontro, pois, de fato, os maiores problemas que nos aparecem são os sofrimentos humanos, a depressão, e formações como essa aplicada por Frei Riva nos ajudam a dar assistência ao povo de Deus porque temos a certeza que o Pai sempre esteve e está presente em todos os momentos de nossas vidas. Sendo assim, falarmos numa próxima oportunidade sobre a Pastoral da Consolação vai nos ajudar muito e agradeço esse momento valioso e importantíssimo para todos nós”, disse Frei João Carlos.
Frei Carlos André Bezerra de Lima, O.Carm., do Convento São Nuno, em Belo Horizonte (MG), também destacou a importância do Encontro de Formação Permanente como um momento de aprendizagem que se estende ao serviço pastoral.
“Nossa formação foi um momento muito bom, frutífero e proveitoso porque nos ajudou a entendermos não apenas o momento que estamos vivendo, mas também como ajudar a outros a entenderem essa aparente ausência de Deus que não é uma ausência, mas, pelo contrário, é uma presença silenciosa”, afirmou.
O pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, em Palmas (TO), Frei João Paulo Pereira Moraes, O.Carm., expressou seu entusiasmo e felicidade diante da formação que, de acordo com ele, foi permeada e pautada na Espiritualidade Carmelitana.
“Foi uma alegria poder participar desse momento – e proponho que a Província realize outros – porque existe um modo próprio de nós, carmelitas, vivenciarmos e testemunharmos a nossa fé, mostrando aquilo que é a nossa espiritualidade. Enquanto Frei Riva fazia suas reflexões eu recordava do Beato Tito Brandsma que dizia: “Sofrer não faz mal desde que nos sintamos amados”. Neste período de pandemia temos visto muitos conflitos existenciais, casamentos sendo desfeitos, brigas nas famílias, desentendimentos, e notamos que muitas dessas realidades acontecem porque o ser humano não percebe a presença de Deus. E trazer isso para nós carmelitas, sacerdotes, é iluminador, no sentido de darmos respostas ao nosso povo”, ressaltou Frei João Paulo.
O ecônomo provincial e reitor da Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro, no Rio de Janeiro, Frei Eduardo Ferreira, O.Carm., falou sobre essa nova dinâmica de encontro virtual e destacou a grande adesão dos frades da Província ao momento formativo.
“Neste ano tivemos a nossa Formação Permanente virtualmente em função da pandemia. Organizamos esse momento todos os anos, no mês de outubro, e buscamos trazer alguma temática que estamos vivenciando ou que atenda alguma necessidade da Província, por isso, trabalhamos o tema “Da ausência de Deus à Pastoral do Consolo”. Frei Riva fez um caminho desde o livro de Gênesis até a Ressurreição de forma muito simples, mas carmelita do jeito de ser, nos mostrando os momentos que o povo de Deus, o crente, viveu a experiência da ausência de Deus ou da noite escura. Diante desta realidade pandêmica estamos lidando com a tristeza daqueles que perderam seus entes queridos e com aqueles que se desesperam pela incerteza do amanhã. Esse momento foi muito valioso para encontrarmos meios e ferramentas para acolher esses nossos irmãos. Foi um ótimo encontro, com uma boa participação dos freis, inclusive, daqueles que ainda não são adeptos a essas novas ferramentas digitais e puderam fazer uma boa vivencia”, concluiu Frei Eduardo.
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