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“Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.” (Lc 1,30)
O texto de Lucas neste capítulo se centra em Maria, apresentando os fatos que cercaram o nascimento de Jesus.
É um texto vocacional, pois revela a iniciativa divina na história e o necessário discernimento de quem é chamado. Após um clarear de que Deus em tudo age, o “sim” de Maria abre caminho para Jesus e, nele, para toda a humanidade.
Maria é modelo de resposta à vida em Deus a favor da vida. O mistério de Jesus se revela com a encarnação.
O “sim” de Maria prepara o caminho de Jesus e encoraja todos a que se abram a preparar o caminho do Senhor vivendo a justiça, o amor, o perdão, a fraternidade na partilha.
Lucas, desde o início de seu Evangelho, assegura a seriedade dele, dizendo que antes pesquisou, diligentemente, os acontecimentos a ser narrados (cf. Lc 1,1-4) com o objetivo de orientar bem o leitor.
Em 2,19, Lucas informa-nos que “Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração”. O acontecimento da anunciação deixa uma marca indelével no coração de Maria. Ela convida todos a participar e a partilhar com ela da manifestação de Deus na pessoa de Jesus, seu filho. Qual seria o sentimento a despertar em nós ao ouvir o anjo anunciar como anunciou a Maria esse extraordinário acontecimento?
No texto, aparecem três importantes frases: “Bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,42), “Não tenhas medo” (Lc 1,30) e “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
“Bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,42): Maria é bendita entre as mulheres pois ela será a mãe do Salvador. Ela é bendita entre as mulheres pois reconhece a ação de Deus que entra de modo decisivo na história.
O encontro acontece entre duas mulheres, duas mães, Maria e sua parente Isabel. Esta, movida pelo Espírito Santo, pronuncia as palavras: “Bendita és Tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
Um encontro extraordinário, maravilhoso. Isabel reconhece os desígnios de Deus realizados em Maria, ao gerar em seu ventre o Salvador: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1,43-45).
A criança exulta de alegria no seio de Isabel. Esse encontro das duas mulheres e mães é interpretado como o encontro do Antigo e do Novo Testamento e inaugura novos tempos. Realiza-se o primeiro encontro entre o precursor e o Messias, o Bendito Fruto.
Em Maria se realiza a união entre o divino e o humano, o Céu e a Terra.
“Não tenhas medo” (Lc 1,30): naquela jovem e simples mulher da Galileia, o Espírito de Deus gera a vida. O mesmo Espírito se manifesta hoje a contemplarmos a manifestação de Deus no que é simples, que é valioso, pois Maria de Nazaré, como as muitas Marias ao longo da história, traz consigo a manifestação de Deus em Cristo pela sua presença.
Nessa revelação de Jesus, Deus chama nossas comunidades a serem lugares por excelência de acolhida da vida, das mulheres, mães, crianças com o mesmo amor com que recebemos Maria, a mãe de Jesus.
“Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38): no “sim” de Maria, Deus se revela na história no rosto humanizado de Jesus.
Em Maria se renova o convite a todos a fazerem parte da história de Deus. Maria se coloca inteiramente à disposição dele. Todos, igualmente, são convidados a se fazerem disponíveis, a deixar que o Espírito de Deus se manifeste plenamente, gerando vida nas vidas de muitos, em especial os que sofrem. Ao responder dia a dia ao chamamento de Deus nos acontecimentos da mesma forma que Maria, mãe, fez, pelo “sim” de cada pessoa Deus continua a se fazer presente na história que, a partir de Jesus, tornou-se história da salvação.
Podemos nos perguntar: deixamos verdadeiramente que a vontade de Deus se faça, plenamente, em nós? Permitimos verdadeiramente que Deus se encarne nas nossas ações do dia a dia?
A resposta a ecoar sempre: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Maria nos inspira no caminho a seguir.
Feliz e abençoado Natal!
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