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No trabalho de evangelização e catequese das crianças, é muito comum ouvir testemunhos de catequistas acerca da sensibilidade, pureza e disposição ao transcendente que são próprios de sua experiência. Por outro lado, há crenças que fazem muitas pessoas assumirem uma ideia de que a criança “não entende” ou “não está preparada” para receber o anúncio do amor de Deus e, claro, relacionar-se com ele de modo real e profundo.
Poderíamos nos perguntar se esse relacionamento seria exclusivo para os adultos. Ou se as crianças – sobretudo até os 7 anos – por não terem atingido a idade da razão, não teriam condições de assimilar e se desenvolver religiosamente. Será que é assim, mesmo?
A biblista Sofia Cavalletti, italiana, que dedicou toda a sua vida ao trabalho de evangelização com as crianças, desenvolveu o método Catequese Bom Pastor, abençoado por São João Paulo II, e registrou mais de 25 anos de experiências neste universo. A pesquisadora concluiu que as crianças são potencialmente religiosas, abertas e sedentas por Deus. Isso responderia à pergunta do título. O essencial é saber que as crianças não apenas têm capacidade de acolher a experiência transcendental, mas também anseiam por isso.
Um ponto significativo que vem ao entendimento quando conhecemos o trabalho da Dra. Cavalletti é o fato de serem respeitados os processos cognitivos e o seu desenvolvimento humano e social dentro da experiência de encontro com Deus. “A resposta que as crianças dão a? experiência religiosa e? tal que parece envolve?-las no íntimo, em uma satisfação total. A facilidade e a espontaneidade da expressão religiosa e da orac?a?o da crianc?a fazem pensar em algo que surge do i?ntimo, quase como se fosse inerente a? pro?pria crianc?a”, escreve Sofia Cavalletti no livro O Potencial Religioso da Criança.
Dentro desta perspectiva, o que seria importante considerar na formação para catequistas para buscar eficiência na evangelização das crianças? Trazemos aqui algumas reflexões que podem iluminar o apostolado no meio infantil.
Pode parecer uma reflexão um pouco incomum, mas é preciso levar a sério o fato de que as crianças desejam o amor de Deus e, ainda, que, de forma não tão explícita, percebem-se necessitadas deste amor.
Evangelizar os pequenos vai muito além de ensinar fórmulas, técnicas e protocolos de comportamento ou mesmo simular o ambiente escolar com a temática religiosa. “Na?o e?, portanto, na procura de uma compensac?a?o que a crianc?a se volta para Deus, mas em uma profunda exige?ncia de natureza. A crianc?a tem necessidade de um amor global, infinito, tal que nenhum ser humano e? capaz de lhe dar. O amor e? para a crianc?a mais necessa?rio do que o alimento” (Sofia Cavalletti).
Quando acreditamos verdadeiramente que as crianças são capazes de viver uma experiência autêntica com Deus, o trabalho de evangelização pode ganhar um novo vigor e uma verdadeira injeção de esperança.
Embora este passo seja relatado como um desafio por muitos catequistas e coordenadores de ministérios, é preciso investir na experiência com Deus que a família da criança vive. Talvez, a porta de entrada da graça de Deus naquele contexto familiar seja justamente a criança. Por isso, sugerimos que os pais ou cuidadores sejam envolvidos – ainda que periodicamente – nas atividades e experiências de fé com a criança.
Sobretudo na primeira infância, período compreendido do nascimento aos 6 anos de vida, as crianças estão absorvendo consciente e inconscientemente as experiências e os vínculos mais profundos. É nessa fase que ela assume dentro de si as noções de confiança, segurança, amor, harmonia interior, ordem e a formação da personalidade. Assim, investir na relação com a família é um fator importante para que a criança forme bases sólidas na transmissão da fé.
Na metodologia da Catequese Bom Pastor, as crianças são introduzidas nos mistérios da fé por meio de um espaço lúdico – chamado Atrium – que possui todos os elementos da liturgia e das atividades propostas em formato lúdico: o altar é acessível ao tamanho delas, os objetos são adaptados. Tudo é colocado de modo que a criança encontre identificação com seu mundo infantil.
Por outro lado, é de suma importância inserir gradualmente as crianças na experiência litúrgica da paróquia. O que isso significa? Que é fundamental dar a elas a possibilidade de inserção no convívio e na participação da liturgia com os adultos, que é na verdade para todos. Não podemos concentrar nossos esforços em distrair as crianças do verdadeiro centro da experiência litúrgica, mas em possibilitar que elas vivam bem aquele momento. Isso exige de toda a comunidade caridade e acolhimento para com os pais e, sobretudo, com as crianças.
Por Edições CNBB
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