Frei José Lucas, O.Carm, partilha sobre o seu tempo de missão em Roma e fala sobre vocação

“Neste segundo domingo do advento, pude renovar os votos de pobreza, castidade e obediência, dentro do retiro de nossa paróquia. Anualmente como frade professo simples repito esse gesto, contudo, não se trata apenas de cumprir um ritual, mas sim, de uma renovação do compromisso assumido diante de Deus, da Igreja e do Carmelo. De fato, como religioso carmelita sou convidado através dos conselhos evangélicos, a viver em obséquio de Jesus, configurando a minha vida a D´Ele.

O sentimento que animou a minha renovação nesse ano foi aquele de retornar às fontes da minha vocação, reconhecendo em todo o meu caminho a presença de Deus e da Santíssima Virgem Maria, que me conduziram até aqui e me dão as forças necessárias para continuar. É preciso renovar para fazer nova a motivação de viver em obséquio de Jesus Cristo, e para não deixar esfriar a chama da vocação.

A celebração de renovação esse ano foi muito especial, por que aconteceu dentro de um contexto diferente. Desde março estou vivendo aqui em Roma. Fui enviado a Cidade Eterna para compor a comunidade de Torre Spaccata (Paróquia Santa Maria Regina Mundi), uma missão que nossa Província Fluminense assumiu em comunhão com a Província Italiana, e também, para dar continuidade ao processo formativo e para fazer o Mestrado em Liturgia, uma grande oportunidade de aprofundar as raízes da nossa fé para servir melhor como carmelita.

A missão aqui em Roma é repleta de desafios pastorais, é preciso ressaltar que estamos de fato em uma área de missão, pois aqueles que outrora nos evangelizaram, hoje precisam de nosso auxílio para a evangelização. A realidadeda paróquia é muito similiar a de algumas paróquias do Brasil, temos muitos grupos pastorais de diversas faixas etárias, e uma juventude muito viva e feliz em trabalhar pelo Reino.

Desde que aqui cheguei fui recebido calorosamente e encontrei na comunidade religiosa e paroquial um espírito familiar, isso faz com que a saudade da família, que é uma constante, seja vivida de forma mais tranquila. O idioma inicialmente foi uma dificuldade, mas aos poucos foi superada depois que comecei a ajudar no serviço pastoral e com o intenso contato com os jovens, o Coro Litúrgico e com a Catequese. Uma verdadeira imersão cultural sabendo que: “Nós, Carmelitas, devemos realizar a nossa missão no meio do povo antes de tudo com a riqueza da nossa vida contemplativa” (Constituições, 95).

No que toca aos estudos, comecei o Propedeutico de Grego e Latim para o estudo da Sagrada Liturgia, se trata de um curso de um ano, onde somos inseridos nos métodos de tradução de textos antigos (litúrgicos e bíblicos) para a melhor compreensão do desenvolvimento da doutrina litúrgica na Igreja. É um grande desafio, porque essas duas línguas me acompanharão durante todo o percursso acadêmico como um instrumental indispensável para a pesquisa.

Trago comigo uma imensa gratidão a Deus e a Ordem por tudo que tenho experimentado e vivido. Que a renovação dos votos possa reavivar em mim o desejo sincero de continuar no serviço de Deus como Carmelita, de modo, a transmitir aos outros a alegria do chamado, e não obstante as dificuldades do caminho e da missão, possa sempre afirmar: “Eis-me aqui, enviai-me! (Is 6,8)”.

Frei José Lucas, O.Carm, frade juniorista