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A Igreja pode ser entendida como reflexo dos seus fiéis, como membros do corpo místico, mas, sobretudo como pertencente a uma comunidade viva onde seus membros crescem juntos no aprofundamento da fé. A Igreja, assim, pode ser entendida como comunidade (e instituição), nessa compreensão a experiência de fé é mais profunda, pois compreende que os fiéis batizados são irmãos numa mesma fé que caminham rumo à salvação.
A Igreja sendo universal abraça os diferentes espaços e pessoas, por isso a compreensão primeira é que todos são filhos e filhas de Deus, pertencem a uma única família, o que podemos dizer é: a Igreja por sua universalidade possui uma beleza que se encontra na diferença de seus membros que formam um só povo.
Sendo uma Igreja com diferentes perfis de seus membros, mostra também a necessidade de um corpo clerical que acompanhe essa diversidade étnica e cultural. E por isso não se podem opor presbíteros e leigos, mas caminhar num mesmo seguimento, isto é, discípulos e discípulas de Cristo. A diferença que há entre clero e leigos se dá no contexto ministerial. Não se tratam de duas classes distantes e distintas. Por isso a doutrina da Igreja deve ser compreendida num processo de crescimento conjunto do povo sacerdotal, e não como um corpo de legisladores que definem os dados da fé e a outra parte são apenas receptários de dogmas e doutrinas.
É preciso que todo o povo de Deus caminhe numa mesma direção e numa mesma busca, fruto de uma experiência de Deus. Pode-se dizer de uma ministerialidade que é a ajuda e o colocar-se a serviço da Igreja, é assumir a fé de forma concreta em busca de responder as necessidades do Evangelho. E somente a partir dessa concepção de irmãos que se servem em ministérios em função de um mesmo projeto salvífico é que podemos compreender a vida eclesial da Igreja como povo eleito e sacerdotal.
Temos em pleno andamento as indicações do Concilio Vaticano II, que evidência a Igreja como algo comum de todos os fiéis. Abriu-se um horizonte para uma maior participação e contribuição do povo no enriquecimento do conhecimento doutrinal, sendo sujeitos ativos da fé na Igreja. Os cristãos ao formarem a Igreja, ao formar o sensus fidei, buscam primeiramente compreender a sua consciência e experiência de fé, formando assim também o sensus fidelium, que apresenta o senso de fé da comunidade. É o consenso dos fiéis uma concordância da fé e dos conteúdos da mesma, o povo de Deus apreende e vivencia essa fé professada.
Tratamos com isso sobre o ato de crer. Sabemos que toda Igreja é crente e que o ato de crer é de todo o povo de Deus. É por isso que com o advento do Concílio Vaticano II se têm um resgate do essencial da fé cristã e uma renovação no modo de perceber a eclesiologia, partindo do modo comunitário, em que os fiéis não são figuras passivas, mas contribuem para o conhecimento do ato de fé.
A fé (ato livre) é experimentada por indivíduos que se encontram numa comunidade (Igreja). E ao falarmos sobre a experiência de indivíduos, não estamos falando em uma fé isolada ou em diferentes maneiras de interpretar a fé ou multiplicidade de verdades, mas na busca de reconhecer o ato de fé em concordância com o magistério da Igreja. Sabe-se que o depósito da fé, deve ser mantido e cabe também ao magistério nos transmitir e ensinar as competências doutrinárias. E por isso em concordância com o magistério surge a Teologia que ao refletir sobre seus temas busca conservar a tradição da fé e aprofundar sobre a experiência de fé, se preservando de malícias e ideias desconectadas do senso fidei.
O que torna belo o sensus fidei na sua ação conservadora e transformadora da fé é a resposta de cada tempo para a experiência profunda de encontro com Deus. O que nos permite perceber que a consciência universal da Igreja e faz com que os fiéis não se percam em interesses pessoais, ideologias e mesmo interesses mesquinhos que visam impor uma doutrinação teológica contrária ao Evangelho ou que vise excluir pessoas ou grupos.
Cabe portanto a comunidade sempre buscar efetuar a unidade da fé, seguindo sempre o Espírito Santo que nos move e mantendo unidade com o colégio episcopal. Trata de compreender que a fé dita oficial por parte da Igreja enquanto instituição é a fé do povo, desses que constituem a comunidade de fiéis e seguidores de Cristo.
Movidos pelo Espírito Santo entendemos que o sensus fidei surge de um seguimento, surge do aprofundamento da experiência da Palavra de Deus, ou seja, do testemunho de que Jesus é o Cristo. A Palavra encarnada na história é Jesus. E no seguimento de discípulos e discípulas de Jesus, o povo, também contribui para compreender a mensagem dada por Cristo formando uma comunidade eclesial – anunciadores da Boa Nova. Essa comunidade se enriquece com os o decorre da história, que é mémoria viva de Jesus.
A hierarquia e as formulações doutrinarias são frutos de uma caminhada de fé. O sensus fidei é a leitura na perspectiva da comunidade de fé. Com essa reflexão podemos compreender que o magistério é fruto da comunidade de fé dos fiéis. A comunidade contribui para formulação do conhecimento de Jesus, isso ocorre graças ao testemunho apresentado por muitos fiéis. O seguimento a Cristo se manifesta em diferentes realidades e culturas, mas buscando uma fidelidade a uma tradição que foi transmitida e é vista como patrimônio de todo o povo – da Igreja.
Na busca de melhor entender a tradição os cristãos buscam aprofundar na sua identidade, na mensagem encarnada e na sua adesão a verdadeira tradução da fé que recebemos da Igreja pelo Batismo. Tornamo-nos membros não somente da instituição, mas do corpo místico de Cristo. E por sermos membros pertencemos ao magistério comum dos fiéis, sendo assim sujeitos da própria expressão de fé.
Nessa perspectiva de comunidade ativa que expressa à fé a participação dos fiéis, bem como as ciências e outros conhecimentos enriquecem nosso testemunho e caminhada e possibilitam de forma séria e madura o aprofundamento da experiência de Igreja, permitindo que o crente tenha uma participação e firmeza naquilo que vive e crê. E por meio do bom senso possa auxiliar na formação dos demais irmãos fiéis.
Por se tratar de uma comunidade, destaca-se não a hierarquia, mas a autoridade do testemunho e da vida. Por isso o sensus ou consennsus deve gerar um comprometimento. Esse que deve ser fruto da consciência da dignidade humana e que abarca o ser enquanto pessoa social, cultural e cristã. Não se trata de uma Igreja que apenas escuta as autoridades do ministério autoritativo, mas uma Igreja circular em que os ministérios e funções são cooperações para uma experiência de fé.
Entendendo a vida em comunidade se vive a unidade e não a lógica clero versus laicato. Passa-se a formar uma estrutura em que todos sejam e se sintam parte do povo de Deus, como sujeito ativo na reflexão da fé, na manutenção e na contribuição da tradição. Retornando as prímicias da Igreja em que todos que celebram a fé e confessam o seu testemunho. E não somente olhando para os primeiros cristãos, mas também para cumprir o desejo do Vaticano II, que todos devemos intuir que a função magisterial não pode ser reduzida apenas as questões de artigos de fé, mas a celebração da vida de fé.
Todos devemos assumir a função profética de Cristo dando testemunho vivo da fé e de caridade. O consenso universal da fé e dos costumes são conduzidos pelo Espírito Santo que conduz a Igreja e seus fiéis, tendo diferentes ministérios que permitem que todos sejam participantes da função sacerdotal, profética e real de Cristo. A comunidade ao permitir que seus membros batizados sejam conduzidos pelo Espírito Santo permite que o ato de crer se torne vivo, fazendo com que todos sejam verdadeiro povo de Deus.
Por: Frei Renê Villela, O.Carm
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