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Em outubro, a Igreja celebra o mês do Rosário, uma oração querida por muitos santos ao longo da história e divulgada por São Domingos de Gusmão a pedido da Santíssima Virgem Maria.
Antigamente romanos e gregos costumavam coroar com rosas as imagens que representavam os seus deuses, como símbolo da oferta dos seus corações. A palavra “rosário” significa “coroa de rosas”.
Seguindo essa tradição, as mulheres cristãs que marcharam ao Coliseu Romano para serem martirizadas, usavam coroas de rosas nas suas cabeças, como símbolo da alegria e da entrega dos seus corações para ir ao encontro de Deus. Estas rosas eram recolhidas à noite pelos cristãos, que rezavam uma oração ou um salmo pelo eterno descanso dos mártires.
A Igreja recomendou rezar este rosário recitando os 150 salmos de Davi, mas só faziam isso as pessoas cultas. Diante dessa situação, sugeriu que aqueles que não sabiam ler, substituíssem os salmos por 150 Ave Marias, divididas em quinze dezenas. Este “rosário curto” era conhecido como “o saltério da Virgem”.
Alguns séculos depois, a Virgem Maria ensinou a São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores (dominicanos), a oração do Rosário.
Em entrevista exclusiva, Frei Renê Vilela, O.Carm, que estuda a fundo Mariologia, explica mais sobre a oração do Santo Rosário. Confira este bate-papo abaixo:
1) Quais os benefícios que a oração do rosário gera na vida de quem reza?
O Santo Rosário é uma oração de profunda intimidade com Deus, nisto já teríamos a resposta sobre os benefícios da oração do Rosário. Esta oração deve ser continua na vida do cristão, pois é a confirmação de fé em Cristo. O Rosário é a síntese da nossa profissão de fé, pois nessa oração professamos que somos criaturas de Deus e que reconhecemos a sua graça agindo em nosso favor, como fez com a Virgem Santíssima.
Pela oração afirmamos que Deus se comunica conosco graças a sua encarnação pela ação do Espírito Santo. Aquilo que outrora o arcanjo São Gabriel anunciou se tornou realidade e hoje buscamos agir conforme o Evangelho. Pela oração do Rosário realizamos a nossa profissão acreditando que Deus é conosco e que graças a Cruz somos resgatados e vivemos a esperança da vida eterna.
Devemos nos colocar como Maria na presença de Deus e permitir que ele faça de nós uma nova criatura. Pois, como Maria devemos nos entregar a esse mistério. Como nos diz frei Miguel de Santo Agostinho no Tratado de vida Mariana: “É um mistério de amor. Maria é a imagem deste mistério de amor. ‘Ave, cheia de graça’, lhe diz o anjo Gabriel. Ela está evolvida totalmente na graça. [E nos acrescenta o místico:] Por outro lado Deus espera o consentimento dela [Maria]. ‘Faça-se em mim segundo a vossa palavra’. Assim se concretiza nela a aliança.”
Como nos diz São Domingos de Gusmão: “quem devotamente servir a Santíssima Virgem Maria por meio da recitação do Rosário, infalivelmente, receberá as bênçãos conforme suas necessidades espirituais e materiais.” O Rosário é profícuo em nossa vida, pois nos leva a viver uma dimensão de paz e alegria, mesmo diante das adversidades, pois nos despojamos a viver a esperança pela fé. E graças a essa fé somos lançados a viver a caridade, pois da oração surgem os frutos que geram paz, justiça, vida, amor ao próximo.
2) Como podemos crescer no hábito da oração do rosário?
Para crescer no hábito da oração do Rosário, primeiramente devemos abrir nossa alma para que Deus nos preencha com sua graça. Ao rezar o terço ou as dezenas dos mistérios (Gozosos, Dolorosos, Gloriosos e Luminosos) contemplamos a vida de Cristo, por isso podemos recorrer a Sagrada Escritura para melhor conhecer e aprofundar no que estamos rezando. Cada mistério é um aprofundamento na história da salvação e é conhecer melhor os ensinamentos de Cristo.
A oração do Rosário é devocionalmente mariana, mas é essencialmente cristológica, pois são as passagem da vida daquele que é o Salvador. A oração do Rosário é uma verdadeira catequese, pois contemplamos passa a passo a vida de Jesus e seus ensinamentos. Como devotos de Nossa Senhora compreendemos que o terço nos une a Mãe de Deus. “Nós vivemos, trabalhamos, sofremos e morremos por Jesus, assim também devemos viver, trabalhar, sofre e morrer por Maria. Assim como Jesus deve ter o Seu Reino em nós, assim Maria deve também reinar em nós e dispor de nossos trabalhos e sofrimentos.” (frei Miguel de Santo Agostinho – Tratado de vida mariana).
A terço é parte de nossa vida, da mesma forma a Palavra de Deus. Aqui vale ressaltar que muitos nos ensinam que Rosário, ou melhor, cada Ave-Maria corresponde a um Salmo da Bíblia, nessa perspectiva outra indicação seria a cada dia lermos um salmo e meditarmos na oração do terço. Os salmos são diversos (ação de graças, oração, louvor, súplicas, clamores, meditação) e ao meditarmos atualizamos a nossa oração, isto é, passamos a rezar sobre a nossa realidade, da mesma forma que se encontra nos salmos.
Outro passo para melhorar nossa oração ou hábito de rezarmos o Rosário é termos uma intenção verdadeira de transformar a nossa realidade e de convertemos os corações para que conheçam o amor de Deus para conosco. A oração do Rosário ou mesmo de uma dezena do terço deve ser um ato livre e de entrega, não se trata de uma obrigação ou uma sentença, mas é demonstração de fé, de intercessão de Nossa Senhora pelos seus filhos no Filho, é sinal de carinho e amor – não é um presente visível, mas são as graças de Deus que são sentidas na alma de quem reza e daqueles que são lembrados na oração.
3) Como os mistérios contemplados no rosário impacta na vida de oração?
“Depois da missa, a devoção do terço faz cair sobre as almas mais graças que qualquer outra; e, pelas Ave-Marias, opera-se muito mais milagres que qualquer outra oração.”(São Vicente de Paulo). O que os santos nos ensinam que das nossas práticas de devoção somos destinados a viver o mistério eucarístico. Nossa devoção não é apenas uma oração particular, mas faz parte da comunhão da Igreja. Somos povo de Deus que caminha em comunhão uns com os outros tendo como centro Jesus Cristo – Eucaristia.
Os mistérios contemplados no Santo Rosário são fontes de conversão, isto é, rezamos a nossa fé. Contemplamos nosso Deus e ao abrirmo-nos a ação divina permitimos ser transformados. A oração do terço é uma fonte de graça e também um instrumental que permite um fortalecimento diante das situações que a vida nos apresenta.
Grandes sãos os impactos da vida de oração do terço, pois nos conformamos à Virgem Santíssima, seus exemplos e virtudes passam ser um referencial em nossa vida. Ao rezar somos transformados em novas criaturas, pois correspondemos às demandas do mundo com um olhar contemplativo e agraciado. Pela oração aprendemos que as alegrias desse mundo são vividas para um bem maior e para que todos tenham vida e passamos a lidar com os sofrimentos e adversidades com uma perspectiva de esperança.
Como nos diz São João Paulo II na Rosarium Virginis Mariae, o Rosário “Na sua simplicidade e profundidade, permanece, […] uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade.” (n.1) Um dos maiores impactos que a oração do Rosário realiza em nossas vidas é que passamos ser como a Virgem Santíssima, dizemos nosso ‘sim’ com firmeza e passamos a entoar um cântico em favor da humanidade, em favor da vida, em favor do Reino de Deus.
4) Rezar o rosário é uma forma de ter vida de oração e intimidade com Deus?
Rezar o Rosário é sim uma forma de intimidade com Deus. Pois, é um diálogo constante com nosso Criador. A oração é uma entrega e uma busca, isto é, uma confiança Naquele que nos ama e uma busca de saciarmos a nossa sede das bênçãos desse amor eterno. Como nos mostra Santo Afonso de Ligório: “Entre todas as homenagens que se devem a Mãe de Deus, não conheço nenhuma mais agradável que o terço; a esta devoção devo minha salvação eterna.” E ainda como nos diz a mestra de oração Santa Teresa de Jesus: “No Rosário encontrei os atrativos mais doces, mais suaves, mais eficazes e mais poderosos para me unir a Deus”.
A intimidade se dá pela constância, algo que o Rosário nos ensina, pois as palavras proferidas são repetidamente as mesmas, mas o sentido é atualizado, isto é, enraizamos numa intimidade. Aparentemente seria uma oração que se repete, mas cada dezena, cada terço, cada Rosário é um novo tempo, nova intenção, novo diálogo. A oração pode manter a mesma estrutura e palavras, mas carregam diferentes sentidos, intenções, reações e por isso a cada Ave-Maria é um novo passo e um aprofundar na intimidade entre o fiel que reza e Deus.
O Rosário, precisamente a partir da experiência de Maria, é uma oração marcadamente contemplativa. Do contrario como dizia São Paulo VI: ‘Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas’. Por sua natureza, a recitação do Rosário requer um ritmo tranquilo para que possa meditar os mistérios da vida do Senhor, vistos através do Coração d’Aquela que mais de perto esteve em contato com o mesmo Senhor (Rosarium Virginis Mariae, n.12).
Devemos compreender que a nossa vida de oração se torna um elo entre nossa alma e a vontade de Deus, da mesma forma que Maria está intimamente ligada a Cristo. “Assim, a alma, que ama com o mesmo amor e gozo a Deus, ama simultaneamente nossa Mãe. […] Do mesmo modo a alma contempla e ama, então, Jesus e Maria como Mãe e Filho estreitamente ligados”. (Miguel de Santo Agostinho – Tratado de vida mariana). O que a Virgem Santíssima nos ensina é que ao nos entregarmos a Cristo pela oração estamos inteiramente vivendo uma relação de intimidade. Que possamos unir nossa alma a Cristo, assim como a Virgem Santíssima fez ao se entregar como serva para o plano de Amor.
E conforme nos diz papa Leão XIII na sua encíclica Supremi Apostolatus Officio: “Nos momentos de apreensão e de incerteza, foi sempre o primeiro e sagrado pensamento dos católicos o de recorrerem a Maria, e de se refugiarem na sua maternal bondade. E isto demonstra a firmíssima esperança, antes a plena confiança, que a Igreja Católica com toda razão sempre depositou na Mãe de Deus” (n.3). Sabe-se que a intimidade se dá pelo conhecimento e presença continua em determinada relação ou técnica. A pessoa que reza firmemente o Rosário cria uma intimidade, pois está sempre na presença de Deus e passa conhece-Lo e ao mesmo tempo passa conhecer os desígnios divinos para si e para a humanidade.
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