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Muito já se falou sobre a relação entre música e saúde e incontáveis trabalhos pelo mundo têm comprovado os efeitos da música no corpo e na mente. Sendo assim, não há possibilidade de não entendermos a responsabilidade que temos sobre os sons que emitimos aos ouvidos do outro. Os sons podem ajudar, organizar e oferecer saúde ao ser humano, no entanto, se empregados de forma desequilibrada, podem causar muitos males.
A principal tarefa do músico litúrgico é o equilíbrio. A base do equilíbrio é o conhecimento. Alegar ser instrumento de Deus na música litúrgica exige conhecimento musical e humano. Não basta a tal da boa vontade, muitas vezes tão deturpada, é necessário juízo diante da execução musical. Como pode uma pessoa dizer que é instrumento de Deus quando desconhece a própria criação? Como criatura, deve-se conhecer seu Autor. É nesse ponto que encontramos uma imensa desconexão entre uma coisa e outra. A música deve estar em consonância perfeita entre Criador e criatura, desse modo, o conhecimento é fundamental para que se expresse com profunda ternura o verdadeiro valor da Eucaristia na vida do católico.
O ambiente onde se celebra a Eucaristia deve ser saudável em todos os sentidos, portanto, os sons emitidos nesse ambiente não podem em hipótese alguma provocar dissonâncias entre corpo e alma. Por exemplo: o sistema nervoso se defende do volume alto, o que desconstrói o espírito de escuta. A desafinação também é uma forma de desconexão com o corpo. O monge beneditino Anselm Grün nos alerta muito sobre o perigo de uma espiritualidade adoecida e se expressa de maneira clara e feliz em diversos livros sobre a importância de nos conhecermos o suficiente para encontrarmos Deus dentro de nós. No livro A saúde como tarefa espiritual ele traz um importante alerta para evitarmos uma espiritualidade asfixiante: “A espiritualidade neurótica reprime a sombra e agarra-se forçosamente a ideais, sem jamais conseguir realizá-los”. O neurótico deseja, mas não realiza. Música é realização. Eucaristia é realização.
No Evangelho de João, Jesus diz ser o pastor do rebanho e suas ovelhas o seguem. Discipulado é seguimento. Suas ovelhas são os que ouvem sua voz, porém, não basta ouvir: é necessário seguir, colocar-se em ação, entender a mensagem. O músico litúrgico deve estar pleno do Espírito para bem servir ao Senhor com o coração afinado à voz que diz “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem” (Jo 10,14). Quando a voz do Pastor se faz presente no coração do músico, nada o impede de dedicar-se inteiramente aos estudos, ao treino e ao trabalho que a música exige como reflexo de toda a criação de Deus.
Que a música litúrgica nos conduza à saúde do corpo e da alma, fazendo ressoar o Espírito Santo em todo o tempo, e que nossos corações cantem como no Salmo 83,5-6:
“Felizes os que habitam vossa casa;
para sempre haverão de vos louvar!
Felizes os que em vós têm sua força,
e se decidem a partir quais peregrinos!”.
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