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Aprendemos na catequese que a cruz é o sinal do cristão; de fato, ela é o sinal da nossa salvação. Contemplar a cruz de Cristo é mais que um gesto devocional, é contemplar a beleza e a fonte de cura que existe nas chagas do Senhor, como diz o profeta Isaías: “Por suas chagas fomos curados” (Is 53,5).
Deus, que revela o seu rosto na pessoa de seu Filho, Jesus, enviou-o para nos salvar. Ele, que se fez carne, humilhou-se para a salvação da humanidade.
“Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja erguido do alto, a fim de que todo que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15): Jesus, que é Senhor do tempo e da história, faz vida em nossas vidas, quer nos alimentar com seu corpo e com seu sangue.
Ainda na sequência do Evangelho de João, vemos que Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho unigênito, a fim de que todo que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna (cf. Jo 3,16); essa é uma questão de fé. Ele entra em nossa história para fazer comunhão conosco, mas qual o ponto de partida para essa relação de comunhão? Pela graça do Sacramento do Batismo somos introduzidos nesse mistério de comunhão e como filhos amados do Pai que somos, estabelecemos essa comunhão, portanto, Deus nos dá a liberdade para querer estar ou não ligados ao seu amor e à sua misericórdia.
Na história do povo de Deus a iniciativa foi sempre dele, que vem ao nosso encontro, a fim de nos esperar e enxergar o que muitas vezes não vemos e não percebemos, que somos um povo eleito.
Deus sempre dá sinais de sua presença em meio aos homens. Se você tem alguma dúvida de que Deus é amor, que Ele percorre a sua história, olhe para Nossa Senhora, que é a mãe do belo Amor, a mãe de misericórdia. Maria soube viver a vontade de Deus por meio do seu fiat, que mudou o curso da humanidade. Maria cantou as misericórdias de Deus por meio do Magnificat.
Como podemos alcançar a misericórdia do Senhor a partir de sua entrega à cruz? Ter a clareza de nossa identidade, de que somos filhos de Deus, de que Ele nos ama, mas, para acolher esse amor existe uma necessidade inerente ao ser humano, que é voltar-se para Deus, deixando a vida de pecado, vivendo uma vida nova, testemunhando as maravilhas que o Senhor realizou e por que não cantar as suas misericórdias?
Olhar para a cruz de cristo com sinal da nossa salvação; de fato, a entrega de Cristo Jesus é mistério da fé, como nos aponta a liturgia da Igreja. Acreditar que muito tempo já se passou e que o sacrifício da cruz se atualiza a cada celebração eucarística, move-nos a uma esfera de vida eterna. Como peregrinos que somos estamos a caminho e o convite é sempre o de retorno para o nosso Criador, a cada instante, com a sua graça e a sua bênção. Basta olhar para os feitos do Senhor em nossas vidas, o fato de estarmos vivo, de ter família, casa, profissão, tudo é dom e bondade de Deus. Reconhecer a ação divina em nossa vida já é uma atitude de retorno, como nos ensina a parábola do filho pródigo, que tomou consciência da condição em que estava e se lembrou de que ele tinha uma filiação, tinha um bom pai que havia deixado para viver as aventuras que o mundo lhe oferecia. Acredito que o filho pródigo gastou mais tempo buscando outras referências para sua vida de ilusão do que usufruindo do que ele já tinha em casa, que era o amor do pai e sua filiação. Quantas vezes nos portamos como o filho pródigo e Deus, que é um pai que não se cansa em nos esperar, vem sempre ao nosso encontro.
Fazer a experiência do retorno, de voltar para o amor do Pai é deixar Deus ser Deus em nossas vidas, é adentrar o mistério da comunhão. Pela força da redenção nos tornamos portadores da graça e da misericórdia de Deus; eis a nossa missão de batizados, testemunhar as maravilhas que o Senhor realizou em nossas vidas pela ação do Espírito Santo.
Nessa relação com a cruz de Cristo, que é o sinal de todo cristão, alcançamos misericórdia; é uma relação de puro amor, por isso, não se distancie da cruz de Cristo, nela temos o remédio para curar as nossas feridas.
Jesus, que é um evento na história da humanidade, transformou a cruz em altar do sacrifício, encarnou no seio da Virgem Maria e veio para se entregar. “Eis o Homem”, assim foi apresentado e se entregou assumindo todas as consequências por amor a cada um de nós.
Gostaria de concluir esta partilha com um trecho do livro A Cruz: imagem do ser humano redimido, de Anselm Grün, página 31: “Antes de poder explicar a outras pessoas o que significa a representação da crucificação, precisamos prestar contas a nós mesmos, perguntando-nos se entendemos realmente meras representações do sofrimento, mas sempre imagens de superação de todo sofrimento, imagens que querem levar luz para nossas trevas, confiança para nossos medos e alegria para nossas tristezas. Cantamos numa antífona da Sexta-feira Santa: ‘Pois pelo madeiro da cruz veio alegria ao mundo inteiro’”.
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