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Deus, à medida que criava o mundo, via que este era bom (Gn 1,10.12.18.21.25). E a narrativa da criação conclui: “E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom” (Gn 1,31).
Sem deturpar o sentido bíblico, podemos acrescentar que “tudo era muito belo”. O texto bíblico desmancha-se em literatura para descrever-nos a beleza do ato criador de Deus.
Mal interpretada durante longo tempo como se fosse uma descrição científica da criação, a narração bíblica havia perdido toda a sua poesia.
Hoje sabemos que se trata de belíssimo hino de louvor à grandeza de Deus, repleto de símbolos e alusões cujo significado se faz relevante e atual.
No centro da passagem bíblica não está a operosidade de Deus, mas o descanso sabático, que o judeu já cultivava e que no texto recebe belíssimo fundamento no próprio Deus. Tudo está a dizer-nos que a maravilha da criação existe, num primeiro momento, para ser contemplada, rezada em forma de louvação.
Brotou do gesto de um Deus que sai de seu mistério silencioso e eterno para derramar fora de si todas as coisas. Os salmos captaram melhor tal significado. Todo o Salmo 136(135) canta as maravilhas de Deus porque ele é bom, a começar pela criação: “Fez os céus com sabedoria, porque eterno é seu amor!”
O paraíso terrestre transformou-se hoje para nós num lugar de saudade e de esperança. Éramos felizes num mundo de contemplação e não sabíamos. Hoje sonhamos de novo com a harmonia primordial depois de tantas quebras. Soa-nos forte o hino de são Francisco.
J. B. Libanio, sj
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