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Nos dias 23 e 24 de fevereiro, o Prior Geral, Frei Fernando Millán Romeral, O.Carm., orientou o retiro espiritual dos jovens frades do “Studentato San Pier Tommaso” (Roma). O retiro aconteceu no Centro de Espiritualidade dos Carmelitas Descalços, em Monte Compatri, Região Metropolitana de Roma, e teve como tema de meditação a figura do Beato Tito Brandsma.
Os momentos de oração, silêncio e fraternidade foram iluminados por quatro reflexões onde o Padre Geral indicou aspectos do caminho espiritual do Beato Tito que servem de exemplo aos estudantes e aos que desejam viver o carisma carmelitano na concretude do dia a dia. O texto que segue apresenta de modo muito sintetizado alguns pontos das meditações:
Os depoimentos do processo de beatificação do Beato Tito Brandsma revelam que sua vida pode ser lida e interpretada de diversos ângulos. Muitos são os testemunhos sobre o jornalista, o professor universitário, o pioneiro no ecumenismo, mas, existe um aspecto que perpassa todas as suas outras atividades, o ser frade, a sua Consagração na Ordem do Carmo. “O Beato Tito – disse o Padre Geral – não era um professor que celebrava Missa”. Em tudo aquilo que fez, ele deixou a marca da sua vocação carmelitana como homem de oração, de profecia e de fraternidade. Nascido na Frísia, região norte da Holanda com menos de 10% de católicos, o Beato Tito soube dirigir ao seu tempo e à sua gente um olhar contemplativo. O seu entusiasmo e alegria profunda encontraram na vida carmelita um lugar perfeito para realizar a sua vocação, o próprio Beato disse: “o espírito do Carmelo me fascinou”.
Em uma era de tanta superficialidade, a vida do Beato Tito Bransdma pode ser um sinal de uma vida religiosa profunda e enraizada em terra fértil. Essas raízes, porém, não o imobilizaram e isso pode ser observado na maneira como pensou além do seu tempo, dando passos importantes de abertura e inclusão sem deixar a sua identidade. Uma serenidade teológica que é própria de quem coloca em Deus toda a confiança. Isso explica o caráter ecumênico do Beato Tito que trabalhou para que cristãos de diversas confissões se unissem diante do sofrimento e da dor principalmente no campo de concentração. Assim atesta um depoimento do processo de beatificação por um pastor protestante: “posso testemunhar que Tito Brandsma era um filho de Deus pela graça de Jesus Cristo. Espero voltar a vê-lo no céu…”.
Anno Sjoerd Brandsma (Tito) nasceu um uma família católica, seu pai era membro muito ativo na paróquia e muitos outros parentes foram missionários e até bispos em diversas regiões. Dos seis irmãos Brandsma, cinco se tornaram religiosos, o que o assemelha a Santa Teresa de Lisieux, recorda o Padre Geral. A vida religiosa no Carmelo reforçou ainda mais o sentido de família incentivado pelo Oikos da Regra, na instrução sobre o governo, o lugar escolhido, o cuidado com o ambiente comum e a acolhida. O Padre Geral insistiu sobre a importância da vida fraterna em nossos conventos, lugar onde podemos mostrar nossas alegrias, tristezas e medos, discernindo juntos como comunidade.
No meio de tanto ódio e sofrimento somente uma alma totalmente entregue à graça de Deus pode emanar bênção e perdão. Foi assim com o Beato Tito no calvário vivido nos campos de concentração por onde passou. Certamente não foi um super-herói e nem viveu essa experiência de forma romantizada, mas, seus gestos de amor eram reconhecidos pelos seus companheiros de prisão. Um dos depoimentos mais importantes nesse sentido é o da enfermeira que aplicou a injeção letal que matou o nosso carmelita. “Tizia”, que preferiu manter a identidade em segredo, relatou que recebeu como presente um terço do próprio frade e que esse a olhou com compaixão.
A Providência Divina se ocupou em concluir o retiro espiritual com as palavras do próprio Jesus aos discípulos por meio do texto proposto pela liturgia da Igreja para o 7º Domingo do Tempo Comum:
“A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam”. (Lc 6, 27-28).
Que a vida do Beato Tito Brandsma seja para nós Carmelitas um exemplo de como podemos viver nosso carisma no mundo independente das circunstâncias.
Frei Juliano Luiz da Silva, O.Carm.
Roma, 25 de fevereiro de 2019.
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