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No paraíso, destacam-se duas árvores: a árvore da vida e a árvore da conhecimento do bem e do mal. Gratuitamente ornado por magníficos dons de Deus, Adão foi submetido a uma prova: “Não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal”.
“Conhecer o bem e o mal”, significa poder determinar para si mesmo o que é bom e o que é mau, sem o esforço que é próprio do homem, mas intuitivamente, como um anjo ou como Deus (“Sereis como Deuses”). Por aquele preceito, o Senhor Deus indicava que o homem não devia cobiçar uma perfeição superior à sua natureza, ou seja, não devia desejar um bem de modo que ultrapassasse as suas forças, isto é, de um modo desordenado. O primeiro pecado constitui em querer uma coisa boa (a semelhança com Deus), mas desordenamente, contra a ordem de Deus.
O homem fora criado como rei, senhor do mundo. Deus, impondo-lhe um preceito, lembrava-lhe que, apesar disso, como criatura, devia sujeitar-se a alguém. Deus queria a sua obediência – e tinha o direito a isso. E o homem, obedecendo, seria feliz.
Mas… por inveja, o demônio tentou-o.
Eis como a Bíblia narra a queda do homem: “A serpente disse à mulher: ‘Por que vos mandou Deus que não comêsseis de toda a árvore do paraíso? Respondeu-lhe a mulher: ‘Nós comemos do fruto das árvores que estão no paraíso. Mas do fruto da árvore que está no meio, Deus nos mandou que não comêssemos e nem a toçassemos a fim de não morrermos. Porém, a serpente disse à mulher: ‘Vós de nenhum modo morrereis. Mas Deus sabe que, em qualquer dia que comerdes dele, os vossos olhos se abrirão e sereis com deuses, conhecendo o bem e o mal”.
A própria Bíblia identifica com o demônio esta serpente. O Livro da Sabedoria, por exemplo, depois de afirmar que “Deus criou o homem imortal”, acrescenta: “Mas, por inveja do demônio, entrou no mundo a morte” (Sb 2, 24). Jesus refere-se ao demônio como “homicida desde o início, mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). E o Apocalipse fala no “grande dragão” que se opõe à outra mulher (à Igreja) como “a antiga serpente que se chama Diabo e Satanás, que seduz a terra inteira” (Ap 12, 9).
Note-se que os bens espirituais são desejáveis. O bem da semelhança com Deus, pelo conhecimento perfeito de si mesmo, era sedutor – no Evangelho, o próprio Jesus nos convida a “sermos perfeitos como nosso Pai”. O erro estava na soberba, e em querer ser como Deus, contra Deus ou sem Ele.
Prosseguindo a narrativa: “A mulher viu o que o fruto da árvore era bom ao paladar. Agradável de aspecto e valioso para abri o entendimento; tomou, pois do fruto e o comeu; deu-o, também, ao marido, que estava com ela, e este o comeu. Então, os olhos de ambos se abriram; perceberam que estavam nus, e, entrelaçando folhas de figueira, fizeram cinturões para si. Então ouviram o ruído do Senhor Deus, que passeava no jardim à brisa do dia. O homem e a mulher se ocultaram aos olhos do Senhor Deus por entre as árvores do jardim.
O Senhor Deus, porém, chamou o homem e disse-lhe. ‘Onde estás’ Este respondeu: ‘Ouvi o ruído dos vossos passos no jardim: tive medo, porque estou nu, e escondi-me’. O Senhor Deus disse: ‘Quem te revelou que estás nú? Terás comido do fruto da árvore que te proibi de provar?’ O homem respondeu: ‘A mulher que puseste comigo apresentou-me o fruto da árvore, e comi-o.’ O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso?’ – ‘A serpente me enganou, repondeu ela, e comi.”
Certamente, antes do pecado, Adão e Eva estavam nus. Estavam, porém, vestidos com a graça de Deus. Por isso, a nudez não os pertubava. Depois do pecado, “os olhos se abriram” e, despidos da graça, olharam-se com vergonha. Então, cobriram-se com “folhas de figueira”, folhas ásperas, desagradáveis (sinal da necessidade de penitência).
O autor Sagrado destaca a familiaridade das relações entre Deus e o homem, quando este lhe voltava as costas. Vemos o contraste entre o comportamento do Criador, Amigo, Companheiro, e o da criatura, infiel e indigna daquela amizade. Apresentando Deus como se ignorasse o que havia acontecido, o autor pretende resaltar o quanto Ele tinha motivo para não esperar aquela atitude do homem. Note-se a desordem interior e o obscurecimento da inteligência produzidos pela pecado: ambos se esconderam de Deus… – como se isso fosse possível.
No diálogo, o homem se desculpa, acusando a mulher – e esta faz o mesmo, acusando a serpente. Aliás, Adão não perde a oportunidade de frisar: a mulher que o tentara, lhe fora dada por Deus… Estão ai, bem caracterizadas, a covardia, a ingratidão, a insolência, a mentira. Nenhum dos, dois se refere ao motivo da desobediência: o amor próprio exaltado, o orgulho na ambição de ser como Deus (ainda que contra Deus).
É necessário esclarecer que o pecado de Adão e Eva não foi de origem sexual. Deus é coerente: não lhes daria o sexo proibindo-lhes o seu uso (dentro da lei natural, estabelecida por Deus). É bastante conhecida a frase: “Crecei e multiplica-vos”, dita antes da queda. O pecado se chama original, por ser o primeiro, por ser o princípio e a origem de nssos males – pois o pecado é o mal.
Note-se ainda, que o pecado desuniu Adão e Eva. Com o rompimento das relações com Deus, as relações humanas – consigo mesmo e com os outros – tornaram-se difíceis. Assim como a graça de Deus é harmonia, equilíbrio, paz, amor – o pecado (afastamento de Deus) é a desordem, a divisão já dentro do próprio homem, como, também, desequilíbrio, discórdia, ódio, guerra entre os homens.
Segundo, então, a ordem inversa do interrogatório, Deus começa por amaldiçoar a serpente: “Serás maldita entre os animais (…), andarás de rastro (…). E estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, ente a tua linhagem e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu hás de lhe ferir o calcanhar”.
Quanto ao sentido da últimas frases, ali está a primeira promessa do Salvador. Deus é a Justiça e Misericórdia. Opondo-se à falsa amizade entre Eva e a serpente, está predita uma verdadeira inimizade entre o demônio e a outra mulher (Maria). Esta, a mãe de outra linhagem, por aplicação antecedente dos méritos de de seu Filho Jesus, foi imaculada desde a sua concepção. Jamais o demônio teve sobre ela algum poder, ao contrário do que acontece com os “degregados filhos de Eva”.
Porque, exceto Jesus e Maria, todos somos concebidos em pecado (original). Como filhos de pais riquíssimos que perderam sua fortuna, nascemos na miséria (do pecado). Com o pecado original, Adão e Eva perderam os dons sobrenaturais e preternaturais e tiveram enfraquecidos os naturais. O pecado original, ainda que indiretamente, atingiu a própria natureza de Adão – e, por isso, nós o herdamos.
Jesus (o 2º. Adão) veio, pela graça, resgatar a natureza humana, reatar o vínculo da justiça – a preço de sangue. Instigando os judeus a crucificá-lo, o demônio feriu o Salvador, mas, nessa mesma hora, feria-se a si mesmo, porque, pela cruz, viria a salvação. Assim o demônio feriu Cristo “no calcanhar”, mas Este “o feriu na cabeça”.
E, quanto a nós, também o combate é sangrento. A própria Virgem Maria, Rainha do Céu e dos Anjos, também é a Senhora das Dores. Já agora, como herdeiros de Cristo, como filhos de Maria, podemos, na ventura da graça, no conforto da Fé, na vida em união com Deus, na paz interior, encontrar algo do paraíso perdido – mas isso tem um preço: o sacrifício, o domínio de si mesmo, a vitória sobre o orgulho, sobre o orgulho que vitimou nossos primeiro pais. Só assim teremos, na terra, uma antevisão da felicidade prometida no céu. Esperar ser feliz de outro modo é insensatez.
Porém, no combate, não estamos sós. Pelo Batismo, recebemos a graça de Deus – que jamais nos desampara. E a Imaculada Conceição – aquela que representamos esmagando uma serpente – é, também, O Auxilio dos cristãos, a Consoladora dos aflitos, o Refúgio dos pecadores. Cada vez que damos ouvidos à tentação, imitamos Eva, Eva imprudente, que se entregou contemplando o fruto proibido, deleitando-se, deixando-se envolver (em vez de desprezar o tentador). Cada vez, que reagimos, esmagamos a serpente, embora esta nos moleste, embora nos fira o calcanhar – porque a luta exige sacrifício. Mas, não estamos sós.
Cristo, na cruz, além de se entregar por nós, deu-nos, também, Sua Mãe que sensivelmente, nos protege. Exemplo : Na frança, em 27 de novembro de 1830, a irmã de Caridade Catarina Labouré encontra-se na capela, em oração. Envolta, num círculo em que se distinguiam as palavras “Oh, Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”, a Virgem lhe apareceu, dizendo-lhe : “Mande cunhar uma medalha conforme este modelo.
Todos aqueles que a trouxerem alcançarão graças”. A medalha foi cunhada. E inúmeras graças são concedidas aos que nela confiam, razão por que passou a chamar-se “Medalha Milagrosa”.
Além dessa oportunidade, são inúmeras as vezes, que Maria tem-se manifestado aos homens. Sempre pedindo oração e penitência, sempre exortando aos bons costumes, à concórdia, à virtude. Sempre extravasando seu amor de Mãe zelosa pela salvação de seus filhos.
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