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A espiritualidade quaresmal, com seu acento batismal-penitencial, visa a reconciliação. A Palavra de Deus conduz os cristãos a renovar o batismo na solene vigília pascal. Este tempo convida os cristãos a viverem as exigências cristãs do batismo e, por isso, a um caminho de conversão. É um “tempo favorável” para redescobrir e aprofundar o sentido de sermos discípulos de Jesus Cristo. Esta conversão se expressa no sacramento da reconciliação, conhecido como “segundo batismo”.
O perdão e a paz são os frutos da graça deste sacramento. Na fórmula da absolvição o sacerdote, ao implorar o perdão de Deus, finaliza dizendo: “te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz.” Neste sacramento se manifesta de maneira sublime a misericórdia de Deus. É uma alegre notícia, pois o perdão de Deus renova, regenera, reconcilia. Quantas vezes as palavras de Jesus à mulher pecadora, “vai em paz e não tornes a pecar” (Jo 8,11), se repetem e sãofonte de verdadeira alegria após a celebração sacramental da penitência! Ou, então, pode-se recordar o abraço misericordioso e terno do pai no regresso de seu filho à casa, bem como a festa, as roupas novas, o anel que o pai lhe deu (cf. Lc 15,11-32). Neste sentido, nos disse nosso Papa: “celebrar o Sacramento da Reconciliação significa ser envolvido em um abraço caloroso: é o abraço da infinita misericórdia do Pai.” (19/02/14).
“Aqueles que se aproximam da Penitência obtêm da misericórdia divina o perdão da ofensa feita a Deus e ao mesmo tempo são reconciliados com a Igreja que feriram pecando, e a qual colabora para sua conversão com caridade, exemplo e orações” (CIC 1422). A misericórdia e o perdão são, essencialmente, gratuitas. Não somos merecedores do perdão, nem o conquistamos unicamente pelo nosso esforço. É um dom imerecido, que deve ser pedido a Deus.
Mas, não basta pedir perdão a Deus? Nosso Papa responde: “Não basta pedir perdão ao Senhor na própria mente e no próprio coração, mas é necessário confessar humildemente e com confiança os próprios pecados ao ministro da Igreja. Na celebração deste Sacramento, o sacerdote não representa somente Deus, mas toda a comunidade, que se reconhece na fragilidade de cada um de seus membros, que escuta comovida o seu arrependimento, que se reconcilia com ele, que o encoraja e o acompanha no caminho de conversão e amadurecimento cristão. Alguém pode dizer: eu me confesso somente com Deus. Sim, você pode dizer a Deus “perdoa-me”, e dizer os teus pecados, mas os nossos pecados são também contra os irmãos, contra a Igreja. Por isto é necessário pedir perdão à Igreja, aos irmãos, na pessoa do sacerdote.” (Audiência Geral, 19/02/14). Não devemos temer a confissão de nossos pecados. É uma grande graça, que cura e liberta! Como o filho pródigo arrependido, nós também temos necessidade de dizer a Deus Pai Misericordioso o que nos pesa e a esperança que carregamos de uma vida nova.
Uma vida reconciliada deve se fazer instrumento de reconciliação. Na medida em que os cristãos forem agradecidos e fiéis a Deus pelo grande dom da reconciliação recebida, tornam-se testemunhas de reconciliação dentro da existência cotidiana, na vida familiar, na comunidade e na sociedade humana. Como nos diz o Concílio, “a penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social.” (SC 110). O perdão e a reconciliação são condição para relações humanas e sociais fraternas. É um grande dom de Deus, expresso no sacramento da penitência, mas que nos empenha a todos, como diz Paulo: “Sejam bons e misericordiosos uns com os outros, como também Deus perdoou a vocês em Cristo.” (Ef 4,32).
Enfim, nesta Quaresma, vivamos a alegria do abraço reconciliador do Pai, na celebração da confissão. É só na absolvição do sacramento da reconciliação que podemos ouvir as palavras libertadoras: “os teus pecados estão perdoados, vai em paz.”
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
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