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Quando você pensa em Deus e lhe diz coisas íntimas, só com o pensamento e os sentimentos do coração, está fazendo “oração mental”.
Quando você, na Missa, reza com todos os participantes as orações litúrgicas (“Confesso a Deus todo-poderoso…”, “Glória a Deus nas alturas…”, “Cordeiro de Deus…”); quando reza o Terço; quando reza o Pai-nosso e a Ave Maria em vários momentos do dia, está fazendo “oração vocal”.
Jesus amava e praticava esses dois tipos de oração, e nos ensinou a amá-los e a praticá-los. Basta lembrar o seguinte:
1) — como já comentamos atrás, Jesus, com muita frequência passava horas – às vezes a noite inteira – conversando a sós com Deus Pai (Lc 6,12), fazendo “oração mental”;
– e fazia também “oração vocal”: rezava os salmos e as orações tradicionais judaicas, ao participar no culto da sinagoga (Mc 6,2) ou nas festas no Templo (Jo 7,1 ss.); e seguia todo o cerimonial litúrgico e as preces e cânticos prescritos, na celebração da Páscoa judaica (Mt 26, 30).
2) — a nós, pede-nos que, como Ele, façamos “oração mental”: «Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo» (Mt 6,6);
– mas, ao mesmo tempo, pede-nos que estimemos muito a “oração vocal”. Ele próprio nos ensinou a mais bela “oração vocal” que existe, o Pai-nosso (Mt 6,9-13), que milhões de cristãos vêm repetindo ao longo dos milênios. E os primeiros cristãos aprenderam dele a amar a recitação dos Salmos (At 2,46 e 4,25-26).
Oração espontânea ou “fórmulas”?
Nunca ouviu alguém dizer: “Eu não gosto de recitar fórmulas, eu gosto é de rezar com os pensamentos e sentimentos que saem espontaneamente do coração”?.
Há muitos que já disseram isso. Mas, infelizmente, se esquecem de uma coisa. Do nosso coração sai o que há realmente dentro dele (não o que não há), e nele não estão presentes todas as riquezas da fé, da esperança e do amor. Pode até ser um coração muito “pobre”, vazio e cheio de egoísmo gelado. E então, o que é que vai “sair” daí?
Ora, as orações vocais enriquecem, porque “oferecem”, “colocam” dentro do coração tesouros de pensamentos, de verdades, de sentimentos e desejos, que o coração sozinho não possui nem poderia criar. Bem rezadas, enriquecem muito a alma.
Santo Agostinho, por exemplo, recebeu o último “empurrão” para a sua conversão no dia em que se emocionou até derramar lágrimas, ao participar na basílica de Milão – onde era bispo Santo Ambrósio -, do canto dos Salmos e de hinos litúrgicos compostos por esse santo bispo, que o povo todo sabia de cor. As “orações vocais” tornaram sua alma – alma de um homem extraordinariamente culto e inteligente – mais cheia de luzes espirituais, despertaram nela, com o auxílio de Deus, sentimentos, perspectivas, alegrias e esperanças que ele, sozinho, não teria sido capaz de conseguir.
Santa Teresa de Ávila conta de uma freira muito santa, que a vida inteira alimentou a sua conversa de amor com Deus quase que exclusivamente com o Pai-nosso; e ela própria, Santa Teresa, escreveu um belo livro (“Caminho de perfeição”) em que dedica muitas páginas a comentar as maravilhas dessa oração vocal “que o Senhor nos ensinou”.
Dois perigos
Como rezar bem as orações vocais? É bom ter em conta que há dois perigos que sempre nos ameaçam e que podem “acabar” com as nossas orações vocais:
1º) O primeiro é o “perfeccionismo”, ou seja, a ideia de que, se não rezamos colocando muita consciência, atenção e sentimento em cada palavra, mais vale não rezar, seria como fazer “oração de papagaio”.
Os que pensam assim também se esquecem de uma coisa importante: Jesus afirmou que, se não nos fizermos simples como crianças, não entraremos no Reino de Deus (ver Mt 18,3). Ora, ninguém pede a uma criança uma atenção total nem uma perfeição de “doutor em conversa”. O que se lhe pede é carinho, amor, e esse existe mesmo que a criança se distraia – não o faz por mal -, e se esqueça de coisas que acaba de ouvir.
Como é bonito o que dizia São Josemaria Escrivá: «Sei que te distrais na oração. – Procura evitar as distrações, mas não te preocupes se, apesar de tudo, continuas distraído. – Não vês como, na vida natural, até as crianças mais sossegadas se entretêm e divertem com o que as rodeia, sem atender muitas vezes às palavras de seu pai? – Isso não implica falta de amor nem de respeito; é a miséria e a pequenez própria do filho. – Pois olha: tu és uma criança diante de Deus» (“Caminho”, n. 890).
2º) O segundo perigo é o contrário: é a frieza, é o “calo” da alma, o mau costume de rezar por mera rotina. É isso o que fazem os que rezam mecanicamente, por puro hábito frio, sem empenho, sem consciência do que dizem, sem amor a Deus nem desejo de melhorar. Esses, como dizia Santa Teresa de Ávila, não fazem oração, por muito que mexam os lábios. «Esse falar às pressas, sem lugar para a reflexão – como diz São Josemaria – é ruído, chacoalhar de latas» (“Caminho”, n. 85).
O valor da boa vontade
O bom caminho da oração vocal evita tanto o perfeccionismo como a rotina mecânica. Então, o que é que Deus nos pede? Pede-nos as coisas de sempre:
1) Primeiro, amor: que saibamos esquecer-nos do nosso egoísmo (“gosto, não gosto de rezar agora; tenho vontade, não tenho vontade; isso de rezar quando estou cansado é um fardo, não é comigo…”). Santa Teresinha, mesmo em períodos de grave cansaço e dores de cabeça, não se dispensava do esforço por colocar amor na oração vocal: «Algumas vezes – dizia – , quando o meu espírito se encontra numa secura tão grande que me é impossível formar um só pensamento para unir-me a Deus, rezo muito devagar o Pai-nosso e depois a Ave-Maria. Assim rezadas, estas orações encantam-me e alimentam a minha alma…»;
2) Segundo, boa vontade (rezar do melhor modo possível, naquele momento previsto, ainda que esse “melhor modo” seja bastante imperfeito). Pense que Deus não precisa das nossas obras “perfeitas” – pois Ele pode dar-se a Si mesmo infinitas obras perfeitas-, mas do nosso amor, desse amor (o “teu” e o “meu”), que só nós lhe podemos dar.
Façamos, portanto, o propósito de valorizar, de praticar e de “cuidar” mais as orações vocais: as orações litúrgicas (Missa; para alguns, a Liturgia das Horas), as orações da manhã e da noite; as orações às refeições; o Terço; o Anjo do Senhor; e outras devoções sérias aprovadas pela Igreja (à Santíssima Trindade, ao Coração de Jesus, ao Espírito Santo…; e à Virgem e aos santos, que são intercessores nossos diante do Senhor). Com a ajuda de Deus, em outras meditações subsequentes refletiremos sobre o Rosário e algumas outras devoções.
Por Padrefaus.org via Aleteia
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