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Depois de abordarmos as funções sacerdotal e real, concluímos a tríade batismal com a função profética. A dimensão profética do Batismo se realiza por meio de dois movimentos: a escuta e a fé, de uma parte, e o anúncio do Evangelho, de outra. Isso supõe estar enraizado profundamente em Jesus Cristo, ou seja, “Segui-lo, viver em intimidade com Ele, imitar o seu exemplo e dar testemunho” (Papa Bento XVI).
A vocação profética é um dom de Deus que sempre rompe todas as barreiras, sejam econômicas, sociais ou culturais. Curiosamente, quando se fala dos profetas do século XX são citados os bispos Óscar Romero e Pedro Casaldáliga, um pastor luterano, Martin Luther King, e a religiosa Madre Teresa de Calcutá, mas, os profetas podem estar em qualquer estrato social e nas mais diversas circunstâncias econômicas e culturais. Poderíamos nos perguntar: quais características marcam a vocação de um profeta?
Segundo um grande estudioso do profetismo bíblico, José Luis Sicre, os profetas de hoje devem estar marcados por algumas características: profunda experiência religiosa e a ideia da soberania de Deus, que irrompe contra toda forma de idolatria; capacidade de suscitar um compromisso nos níveis social, político e religioso em favor das pessoas que padecem de injustiça e em favor dos valores conformes à vontade de Deus; esperança num mundo que parece absurdo e numa história que aponta para a destruição. Tendo como exemplo Jesus, o profeta e mais que profeta, os profetas de hoje devem ser capazes de dar uma palavra de ânimo aos corações abatidos, de criticar toda manifestação religiosa de estilo farisaico, legalista, que coloca a norma por cima das pessoas, bem como manter uma postura crítica às instituições, inclusive as religiosas, quando estão a serviço do dinheiro e do poder.
O profeta tem sempre uma palavra, mas não qualquer palavra. A sua é uma palavra que nasce da Palavra de Deus, que, escutada e acolhida na fé, é força salvadora e transformadora do mundo. Felizmente, o Concílio Vaticano II recuperou a Sagrada Escritura para todos os fiéis, pois não é possível conceber a vida de um cristão sem a força transformadora e transfiguradora da Palavra de Deus. Como ressaltou a Constituição Dogmática Dei Verbum, nº 21, a Palavra de Deus “constitui o sustentáculo e vigor para a Igreja e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual”.
Para despertar o sentido da profecia na vida laical é importante a leitura assídua e orante da Bíblia, que é capaz de abrir nossos olhos não para ver coisas novas no mundo, mas ver o mundo com olhos novos, cheios de esperança e de fé. Com isso, o cristão leigo estará em condições de identificar-se com quem sofre e se sentirá interpelado pelos famintos, pela violência, pelo desemprego e por outras tantas situações de que padece a humanidade e ser capaz de dar uma palavra de sentido, ancorado sempre na Palavra definitiva de Deus, que é Jesus Cristo.
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