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O Evangelho de Lucas 15,11-24 ilustra um filho arrependido que retorna ao Pai após ter esbanjado a herança paterna até chegar à miséria extrema, tudo por causa do deslumbramento de uma liberdade ilusória. Que maravilhosa cena nos apresenta Jesus: o filho, envolto nos braços do pai e coberto de beijos, reconhece: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti, não mereço ser chamado teu filho” (Lc 15,18-19).
A beleza dessa mensagem de Jesus é, sem dúvida, o reconhecimento que o filho faz da santidade de Deus e da grandeza do amor do Pai. A confiança no amor benevolente do pai foi a causa de sua salvação. Que maravilha a saída que ele faz do mistério da iniquidade, como expressou Santo Agostinho: do “amor de si mesmo levado até ao desprezo de Deus” para o da piedade, que é “o amor de Deus até ao desprezo de si mesmo” (Santo Agostinho, De civitate Dei, XIV, 28).
De fato é reconhecendo a grandeza do amor compassivo oferecido pelo Pai que devemos nos aproximar diante de Deus. Como o filho pródigo é preciso “cair em si” e reconhecer como rezamos na resposta da oração eucarística VII: “Como é grande, ó Pai, a vossa misericórdia!”.
“Não mereço ser chamado teu filho” (Lc 15,19): essa expressão pode revelar duas faces no processo do autoconhecimento: a culpa ou o arrependimento. Muitos caminham sobrecarregados pelo peso de suas culpas. Na verdade, não importa quão grande são nossas culpas, é preciso reconhecer que o que cura nossas almas é a confissão da nossa pequenez e a confiança na misericórdia divina. O arrependimento, por sua vez, é um dom da graça de Deus. É o Espírito da verdade que convence do pecado e, ao mesmo tempo, é o Espírito como Consolador que dá ao coração do homem a graça do arrependimento e da conversão, como falou o Papa João Paulo II (cf. Carta Encíclica Dominus et Vivificantem, 27-48).
Creia, Deus “jamais nos rejeita quando quebramos a sua aliança” (Gn 17,7). O banquete festivo, o anel e os outros símbolos presentes nesse Evangelho (cf. Jo 15,11s) são sinais da vida nova do homem, que volta para Deus e para sua família, que é a Igreja. Nesse sentido, a prática dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia desempenha um papel fundamental para fortificar os que vivem a nova vida , como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (1436).
É tempo de voltar para casa! O Pai é sempre cheio de misericórdia para com todos e nos espera para o abraço da reconciliação. Sim, Ele nos ama e por meio do sacrifício do seu Filho único e do seu Espírito nos devolve a dignidade, a filiação e a casa paterna.
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