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A falha do homem fez com que ele perdesse o paraíso, mas não podia comprometer definitivamente o bem do universo e da humanidade. Deus continua querendo ser amigo do homem. É por isso que, no fundo de todos nós, existe a certeza inabalável de que o bem vencerá. Essa certeza se baseia na promessa divina: o mundo será resgatado e o homem será salvo. E com isso a história humana passa a ser também a história da salvação.
Às vezes pensamos que a dificuldade em ler a Bíblia vem do fato de que é um texto muito antigo, escrito em outra língua, com preocupações e valores completamente diferentes dos nossos.
A distância que existe entre nós e os autores dos primeiros capítulos da Bíblia é comparável à que há entre nós e os índios, que eram os donos das terras do Brasil antes da chegada dos europeus.
Sabemos mais do que eles a respeito das leis físicas, mas eles tinham o seu modo de encarar o mundo, que era, talvez, melhor do que o nosso. Seus valores eram outros, mas viviam em harmonia com a natureza e eram mais felizes, menos nervosos e menos corrompidos do que nós. Ainda hoje, os antropólogos se espantam com o fato de os índios nunca baterem em seus filhos.
Como acontece com os índios, os hebreus de três mil anos atrás eram muito diferentes de nós. Não tinham noção de muitas coisas que sabemos, mas eram dotados de algumas capacidades que perdemos completamente.
A dificuldade em ler a Bíblia vem do fato de que esses homens, tão diferentes de nós, percebiam que o homem era solidário com a natureza e, junto com o universo, estava completamente entregue nas mãos de alguém, de quem tudo dependia. E chamavam esse alguém de Deus.
Sua convicção mais profunda era de que nada, absolutamente nada, acontecia sem que Deus o quisesse ou permitisse. Dessa forma, o universo inteiro era uma mensagem de Deus, cujos pensamentos e vontades a gente podia ler nos fenômenos da natureza, nos sucessos e nos insucessos da vida.
Fora dessa visão, a Bíblia perde todo o seu sentido. Torna-se um livro chato e pretensioso, sempre repetindo que o homem é ignorante e violento. Mas a Bíblia fala de certos traços de Deus, que são, fundamentais. E é preciso lembrá-los, para entendê-la. Um deles é a certeza de que Deus quer o bem. Fará sempre tudo para consegui-lo, por mais estranhos que sejam os seus métodos e caminhos.
Nesse sentido, o homem é a imagem de Deus. No fundo de todos nós também existe a convicção de que é sempre bom fazer o bem. Mesmo quando queremos o mal, procuramos, de certa maneira, o nosso bem -achando, erradamente, que do mal podemos tirar o bem!
Se me perguntarem, de repente, quem é Deus, responderia sem hesitação: é aquele que quer sempre o bem. O homem ainda pode se enganar, se atrapalhar, preferir um bem aparente ao que é realmente bem. Mas Deus nunca se engana, embora às vezes não entendamos os seus planos. A afirmação central da Bíblia é exatamente essa: apesar das aparências, Deus quer sempre o bem. Ora, como tudo depende de Deus, o bem vencerá. Vencerá a verdade. Vencerá a justiça. Vencerá o amor.
É o que diz a Bíblia, contando a história da origem do mal e do pecado. A dor, o sofrimento e a morte entram no mundo pela falha do homem, que abusa da confiança de Deus. Por isso o texto sagrado diz que o homem e a mulher perdem a felicidade em que foram criados e são expulsos do paraíso – essa é a alegoria, isto é, a história simbólica que o hino do Gênesis traz e que foi concebida há mais de 5.000 anos.
Mas ao mesmo tempo que as trevas cobrem o horizonte, surge uma luz: a promessa da salvação. A morte entrou no mundo, mas a morte não é o fim. Será um caminho, pois a descendência da mulher, embora mordida no calcanhar, acabará esmagando a cabeça da serpente e vencendo o mal (Cf. Gn 3,15).
Vivemos num dilúvio de incertezas e de dificuldades. Mas um dia a chuva passará. No céu do universo refeito brilhará para sempre o arco-íris da esperança e da paz, sinal de que, acima de tudo, o que conta é a aliança, a promessa, a disposição de salvar o homem e o universo. Essa disposição é o traço mais profundo e característico da fisionomia de Deus (Cf. Gn. 9,12-17).
Fonte: Catequisar
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