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Muito se fala sobre a riqueza da Igreja, sobre o ouro do Vaticano etc. A Igreja, sendo também uma instituição humana, incumbida por Jesus para levar a salvação a todos os homens, precisa evidentemente de um “corpo material”, sem o qual não pode cumprir sua missão em toda a Terra.
A palavra “católica” quer dizer “universal”. Qualquer instituição que esteja em várias nações precisa de meios materiais para manter-se. O Papa é o único chefe de Estado que tem “filhos” em todos os cantos da Terra, falando todas as línguas. São cerca de 180 Núncios Apostólicos no mundo todo. Toda essa estrutura exige, claro, recursos financeiros. No último Concílio, o Vaticano II, Papa João XXIII reuniu cerca de 2600 bispos de todas as nações, no Vaticano, durante três anos. Que chefe de Estado faz isso?
Desde 1870, quando a guerra de unificação da Itália tomou, à força, as terras da Igreja, até o fim da chamada Questão Romana (11/02/1929), os Papas se consideraram prisioneiros no Vaticano por cerca de 60 anos. Esse período foi de relacionamento difícil entre a Igreja e o governo italiano. À força das armas, a Igreja perdeu seu Estado Pontifício, adquirido por doações, desde Pepino o Breve, pai de Carlos Magno, em 1752. De 40 mil km2, o Vaticano ficou reduzido a 0,44 km2.
Apesar de toda a pressão contrária, os Papas desses 60 anos, Pio IX (1846-1878), Leão XIII (1878-1903), São Pio X (1903-1914), Bento XV(1914-1922) e Pio XI (1922-1939) julgaram que não podiam abrir mão da soberania territorial da Igreja em relação às demais nações, com direito a um território próprio, ainda que muito pequeno, a fim de que tivesse condições de cumprir a missão que Cristo lhe deu.
Benito Mussolini, chefe do governo italiano, em 1929, percebeu a grande conveniência política de conciliar a Itália com o Vaticano. As negociações levaram dois anos e meio, terminando com a assinatura do Tratado do Latrão, aos 11/02/1929, que encerrava 60 anos de disputas entre o Vaticano e o governo da Itália.
A cidade do Vaticano, geograficamente situada dentro de Roma, é mínima territorialmente. Quando começou a discussão da Questão Romana, muitos diziam que, em caso de restauração da soberania temporal da Igreja, ela deveria ter apenas um Estado do tamanho da República de São Marinho (60,57 Km2); ora, o Estado Pontifício renasceu com apenas 0,44 Km2, tamanho que tem hoje o Vaticano. Esse território é apenas um pequeno corpo, onde a alma da Igreja pode viver.
Os objetos contidos no Museu do Vaticano foram, em grande parte, doados aos Papas por cristãos honestos e fiéis, e pertencem ao patrimônio da humanidade. Pelo Tratado de Latrão, a Igreja não pode vender esses bens, apenas tem usufruto deles. Os Papas não veem motivo para não conservar esse acervo cultural muito importante. Não é a pura venda desses objetos, de muito valor para todos os cristãos, que resolveria o problema da miséria do mundo. Será que a rainha da Inglaterra aceitaria vender o museu de Londres, ou o presidente da França vender o Louvre?
Não há motivo, portanto, para se falar, maldosamente, da “riqueza do Vaticano”. Podemos até dizer que a Igreja foi rica no passado, antes de 1870, mas hoje não.
Qualquer chefe de Estado de qualquer pequeno país tem à sua disposição, no mínimo, um avião. Nem isso o Papa tem.
É inegável que a Igreja cresceu em espiritualidade depois que perdeu o grande poder temporal que o Estado Pontifício antigo lhe dava. Os últimos Papas, a partir de 1870, foram homens santos, que entregaram a vida pela Igreja, sem limites. Pio IX (Beato), Leão XIII, S. Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII (Beato), Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II, foram grandes homens, exemplos para o mundo todo.
O Vaticano tem um órgão encarregado da caridade do Papa, o Cor Unum. Ao fim de cada ano, é publicada, no jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano, a longa lista de doações que o Papa faz a todas as nações do mundo, inclusive ao Brasil, especialmente para vencer as flagelações da seca, da fome, dos terremotos etc. É uma longa lista de doações que o Papa faz com o chamado óbolo de São Pedro, arrecadado dos fiéis católicos do mundo todo.
A Igreja Católica, nesses dois mil anos, sempre fez e fomentou a caridade. Muitos hospitais, sanatórios, leprosários, asilos, albergues etc., são e foram mantidos pela Igreja em todo o mundo. Quantos santos e santas, freiras e sacerdotes, leigos e leigas, passaram a sua vida fazendo a caridade! Basta lembrar aqui alguns nomes: São Vicente de Paulo, D. Bosco, São Camilo de Lelis, Madre Teresa de Calcutá… a lista é enorme!
Desde quando Roma desabou, no ano 476, diante dos bárbaros, quem salvou a civilização foi a Igreja, com o Papa, os mosteiros, os bispos e as igrejas. Em torno das catedrais, mosteiros e igrejas, surgiram escolas, hospitais, orfanatos, leprosários etc. Os Papas, como Leão XIII, saiam às ruas de Roma, pessoalmente, para atender os pobres e doentes. A Igreja cuidou da caridade social até o século 18, só depois é que surgiram as demais instituições sociais.
Quem como a Igreja Católica? Segundo revelam os dados do último “Anuário Estatístico da Igreja” (2015), publicado pela Agência Fides por ocasião da Jornada Missionária, a Igreja administra 115.352 institutos sanitários, de assistência e beneficência em todo o mundo. Deste número, 5.167 hospitais: parte na América, 1.493, e 1.298 na África; 17.322 dispensários (serviços de saúde), a maioria na África com 5.256; América 5.137 e Ásia 3.760; 648 leprosários distribuídos principalmente na Ásia (322) e África (229); 15.699 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes – Europa (8.200) e América (3.815); 10.124 orfanatrófios, principalmente na Ásia (3.980) e América (2.418); 11.596 jardins da infância, a maior parte na América (3.661) e Ásia (3.441); 14.744 consultores matrimoniais, distribuídos no continente americano (5.636) e Europa (6.173); 3.663 centros de educação e reeducação social, além de 36.386 instituições de outros tipos.
Além disso, a grande riqueza da Igreja são seus santos. São Papas, mártires, virgens, doutores, profetas, patriarcas, monges e remitas. A sua liturgia, os sacramentos e o Cristo que nos espera no sacrário e na confissão, na sua Palavra e na sua moral cheia de amor.
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