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Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de setembro sobre o querigma. A fé em Jesus é a única resposta, sobretudo, porque a Igreja particular do Brasil neste mês reflete sobre a Bíblia Sagrada. É preciso falar de querigma e de fé como condição para compreender o projeto de salvação do nosso Deus.
No mundo secularizado, que tem por deusa a razão e no qual a ciência é quem dita os parâmetros do cotidiano da humanidade, deparamos com situações que muitas vezes são inexplicáveis, então, a única saída é buscar uma resposta por meio da fé. Mas, em que consiste a fé? Qual o conceito que se tem de fé num mundo que se torna cada vez mais incrédulo e ateu? Jesus continua sendo a nossa resposta diária?
O senso comum define a fé como acreditar naquilo que não se vê; porém, a fé tem raízes mais profundas, nas quais desde a Antiguidade move povos e nações a manifestar a sua crença numa divindade ou em vários deuses. No entanto, nós nos deteremos na fé da Igreja Católica Apostólica Romana.
Na história da salvação, o querigma perpassa necessariamente o anúncio do amor de Deus por meio do seu filho, Nosso Senhor Jesus. Contudo, é preciso ter fé, ou seja, acreditar na mensagem evangélica. Sendo assim, a fé foi vista por vários âmbitos.
O Antigo Testamento compreende a fé como anseio por uma salvação prometida, ainda obscura, sendo, neste caso, objeto de esperança e de confiança na vinda do Messias, que libertaria todo o povo de Israel. Essa fé é consumada com a vinda do Salvador, o ungido do Pai: Jesus Cristo.
No Novo Testamento, crer é aceitar a pregação (testemunho) dos apóstolos sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus; é aceitar o querigma cristão como verdade de fé (cf. At 2, 44; 4, 4.32; 8, 13).
Na visão paulina é pela fé que se tem acesso ao mistério, ao Evangelho, à Palavra pronunciada por Deus. Para São Paulo, a fé é a acolhida da palavra (cf. Rm 10, 16; Gl 3, 5), é a obediência ao Evangelho (cf. Rm 1, 5). Assim, temos como “expressão” da teologia da revelação paulina: a “obediência da fé” (cf. 2or 10, 5; Rm 16, 26).
Na visão dos padres da Igreja², que são as primeiras testemunhas da viva tradição, a dimensão da fé está relacionada com a visão do Novo Testamento. Para eles, a fé “é o ponto inicial duma penetração sempre mais profunda da verdade recebida, de uma busca da inteligência, sempre mais intensa e ardente”². Segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a fé “é a resposta do homem a Deus que se revela e a Ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida”³.
Diante de todos esses conceitos expostos acima, temos um panorama geral sobre a fé, portanto, fé é a resposta livre e consciente do homem que adere a Deus, que se revela, e também aos seus desígnios de salvação e por amor o faz participar de sua vida divina. Em poucas palavras, fé é abrir o nosso coração ao amor de Deus, que se humanizou no Cristo pela encarnação.
No tempo presente, vai-se perdendo o sentido da reconciliação, sobretudo porque se vai também perdendo a consciência de pecado. Na verdade, para quem não há pecado não há necessidade de renovação espiritual, de arrependimento e de reconciliação. Ora, como tudo isto está errado, a Igreja luta com sérios problemas por falta de pessoas que buscam no Senhor Jesus a resposta para suas vidas, por falta de fiéis fervorosos na vivência da Palavra e no testemunho do Evangelho e, consequentemente, por falta de evangelização.
É necessário estar atento – todos os dias – ao chamado que Deus faz em nossas vidas. O tempo presente é um período propício para repensar a caminhada, para ajustar o caminho a ser perseguido. O homem consciente não constrói sua vida e família pautadas nos valores contrários aos do Evangelho. O católico se vale da Sagrada Escritura e da fé para descobrir quais areias têm demolido suas casas e quais ações precisa tomar para reedificar-se junto à glória de Deus.
¹ A expressão “padre da Igreja” é caracterizada por quatro traços: 1) antiguidade, grandes teólogos do século II até o século VIII d.C.; 2) ortodoxia do ensinamento; 3) aprovação da Igreja; e 4) santidade de vida. Também essa época pode ser chamada de “patrística”.
² LATOURRELE, René. Teologia da revelação. 1970 p. 164.
³ Cf. Catecismo da Igreja Católica, 26.
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