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Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja abre a Semana Santa. Também ocorre neste domingo a Coleta da Solidariedade – fruto de nossas penitências quaresmais e reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade.
Nesta semana encerraremos o tempo da Quaresma e viveremos o ápice da liturgia católica no “tríduo pascal”. Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor traz a tradição da entrada em Jerusalém e a nossa profissão de fé solene, e a leitura da paixão, abrindo esta semana especial.
No Evangelho da bênção de ramos (Mc 11, 1-10 ou Jo 12, 12-16) vemos que o cortejo organizou-se rapidamente. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém como Messias, montado num burrinho, conforme havia sido profetizado muitos séculos antes (Zc. 9,9). Jesus aceita a homenagem, e, quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19, 40).
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Naquele cortejo triunfal, quando Jesus vê a cidade de Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloquentes estas lágrimas de Cristo. O Papa Francisco, em sua homilia na abertura da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas lembrou que devemos pedir o “dom das lágrimas”.
Nessa Eucaristia solene que abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana Santa, que culminará com a Solenidade da Páscoa, domingo próximo, fizemos memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade Santa. Mas, que surpresa! É um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez. Ei-lo: seu serviço será dar a vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória. Termos seguido o Senhor nessa solene procissão com ramos é tê-Lo reconhecido como nosso rei, rei pobre e humilde. Tê-Lo seguido é nos dispor a segui-Lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de Sua paixão e cruz para ter parte na glória de Sua ressurreição. Trazer os ramos bentos nas mãos simboliza que cada um de nós quer acolher Jesus Cristo como Senhor de sua vida e professar solenemente a fé que nos distingue como católicos.
O Evangelho da Paixão (Mc 14,1-15,47) é hoje proclamado pela primeira vez na Semana Santa. Acolhendo a Palavra do Profeta Isaias (50, 4-7) que nos fala do servo sofredor, e da Carta aos Filipenses (2,6-11) com o belo hino cristológico, nos revela o espírito que deve reinar nesta última semana do tempo quaresmal, e como nos devemos preparar para a Páscoa que se aproxima.
O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo Sofredor da primeira leitura a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”. O Filho buscou, humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Neste mundo que se julga dono da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!
Depois, o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Não se deve seguir Jesus de longe! Quem O segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão estes? Farão o mesmo que Pedro naquele momento: “negando conhecer Jesus!” – Senhor, olha para nós como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto (dom das lágrimas) pela covardia e frieza em Te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos Teus, que Te sigam de perto até a cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de Tua Santíssima Mãe!
Uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto da misteriosa mulher que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! São Marcos detalha: “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso, ou seja, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com abundância! Para o Senhor, tudo; para o Salvador, o melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo” (Jo 12,3). Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor de um amor sem reservas! Senhor Jesus, faz-nos generosos para contigo! Que Te amemos como essa mulher: sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a Te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso, em especial as nossas vidas, a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da Tua presença!
Neste domingo, somos chamados a um gesto concreto na conclusão da Campanha da Fraternidade, com a coleta especial, como nos ensina o Texto Base: “O primeiro gesto concreto de conversão quaresmal para os discípulos missionários é a participação na vida da comunidade que serve e celebra. O segundo é a oferta da doação em dinheiro na Coleta da Solidariedade, a ser realizada no Domingo de Ramos, dia 29 de março. Esta coleta é destinada aos pobres. Por meio deste gesto concreto, a Igreja dá testemunho de fraternidade e aponta o caminho cristão da partilha (cf. At 2,45) para a superação das grandes desigualdades presentes nas estruturas da sociedade brasileira” (Cf. Texto Base, CNBB, CF 2015, número 241).
A coleta deste ano “destina-se também a combater a fome no mundo por meio de uma ação promovida pela Caritas, com o lema: ‘Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas” (Cf. Texto Base, CNBB, CF 2015, número 242).
Ao acolhermos Jesus, relembrando a Sua entrada em Jerusalém, lembremos que a conversão profunda deste tempo propício nos pede um gesto concreto, despertando e nutrindo em nosso espírito a vida comunitária e a verdadeira solidariedade na busca do bem comum, educando para a vida fraterna, a justiça e a caridade, exigências fundamentais do Evangelho. Participemos ativamente e de coração aberto da Semana Santa!
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