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Maria Madalena foi a primeira a anunciar que Jesus não estava mais morto, que havia ressuscitado! O evangelista João, no capítulo 20 de seu livro, conta que Jesus apareceu a Maria Madalena e a convidou a anunciar aquela que é a notícia mais importante da fé cristã. Ela esteve também aos pés da cruz junto com Maria, mãe de Jesus e de João, e foi sempre fiel ao seguimento de Jesus.
Por esses motivos citados, no ano de 2016 o Papa Francisco elevou a celebração de Santa Maria Madalena, comemorada em 22 de julho, à categoria de festa litúrgica no calendário romano. O Pontífice a chamou de “Apóstola dos Apóstolos” (leia mais no box com trechos do decreto), definição dada por São Tomás de Aquino, justamente por ele ter sido testemunha ocular da ressurreição de Cristo.
Em entrevista à reportagem, Maria Cecilia Domezi, doutora em Ciências da Religião e professora de Teologia, enfatizou que a celebração de Santa Maria Madalena como festa litúrgica é de fundamental importância: “Por muitos séculos ela foi celebrada apenas como memória, mas o Papa Francisco a elevou ao grau de festa, com um prefácio especial. Essa corajosa iniciativa do Papa foi o reconhecimento de que Maria Madalena é testemunha e anunciadora de Cristo ressuscitado assim como os outros apóstolos. Além disso, a missão que ela exerceu foi tão especial que se tornou exemplo para todas as mulheres na Igreja”.
Domezi recordou também que “A liderança e o testemunho de Maria Madalena aparecem muito claramente nos escritos bíblicos do Novo Testamento e noutros escritos chamados. Os quatro evangelhos falam dela, sendo que o de João mostra a coragem, a força e a beleza do seu encontro com o Cristo ressuscitado. De fato, muitas comunidades cresceram ao redor do ministério de Maria Madalena”.
SERVIÇO FRATERNO
Santa Maria Madalena estava junto a outras mulheres que foram curadas por Jesus, libertas de doenças crônicas, de submetimentos, de males que o povo chamava de “sete demônios”. O capítulo 8 do Evangelho de Lucas narra a transformação vivida por ela. Domezi recorda que a entrega total da sua vida dentro do movimento de Jesus deve inspirar os cristãos hoje. “Maria Madalena e muitas mulheres se punham a serviço dos que seguiam Jesus, sustentando a caminhada com Ele. Ela também nos dá o exemplo do amor sem medida. Amor de entrega, de serviço fraterno, de liderança, de sabedoria. Amor que sustenta uma corajosa missão, que faz enfrentar uma cultura patriarcal discriminatória das mulheres, que faz avançar no anúncio do Evangelho. Amor que sustenta o coração no enfrentamento das perseguições”, destaca.
“Maria Madalena nos mostra que, para ser cristãos, precisamos ser comunidade fraterna, Igreja viva na igual dignidade do Batismo. Igreja da inclusão, do respeito e do diálogo, que promove a vida e a dignidade. Para isso, assim como ela fez, precisamos pôr em prática o que o apóstolo Paulo escreveu em Gálatas 3,28: ‘Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos sois um só em Cristo Jesus’.”
(Maria Cecilia Domezi)
MULHER COM AS MULHERES
“Há sempre um pouco de Madalena em cada líder indígena, negra, agente de saúde ou professora em lugares remotos e desassistidos. Ela simboliza a revolução das mulheres que promovem uma união de forças entre todos os seres humanos, na defesa dos mais vulneráveis”, explica Domezi ao recordar que a história de Santa Maria Madalena mostra que é possível vencer as injustiças, as discriminações e exclusões. Além disso, a teóloga afirma que ela simboliza a grande e necessária revolução da verdadeira sinodalidade, do caminhar juntos, do ser comunidade fraterna: “Santa Maria Madalena é um referencial marcante para sermos mais humanos! Foi sempre lembrada a figura da Madalena prostituta arrependida, numa mistura de biografias. Seu carisma, sua liderança, sua missão extraordinária ficaram ocultados, mas, hoje retomamos o seu protagonismo marcante e toda a sua inspiração”.
NA HISTÓRIA DA ARTE
Sergio Ricciuto Conte, artista plástico e teólogo, explicou que a arte e a tradição iconográfica reuniram três personagens distintas na figura de Maria Madalena: Maria Madalena, irmã de Marta; a pecadora que lavou os pés de Jesus; Maria de Magdala, a mulher liberta dos sete espíritos malignos e que presenciou a crucificação. De acordo com uma tradição hagiográfica, Madalena passou os últimos trinta anos de sua vida como eremita, jejuando e realizando atos de expiação.
“Desde a Idade Média e especialmente depois da Contrarreforma ela é o protótipo do penitente. Pela sua dupla natureza de pecadora e mulher redimida, Madalena é, pela sua humanidade, uma das santas mais representadas na arte cristã. Seu atributo mais importante é o pote de unguento, na mão ou nos pés; ela normalmente tem longos cabelos ruivos caindo sobre os ombros”, recordou Sergio.
Assim, ao longo da história, Santa Maria Madalena é representada principalmente de duas maneiras: antes de sua conversão, ela aparece como uma mulher ricamente vestida e cheia de joias; após o arrependimento é pintada vestindo roupas consumidas, com a caveira, o crucifixo, o chicote, a coroa de espinhos, os olhos cheios de lágrimas. Tais características podem ser vistas nas obras de George de La Tour e do próprio Sergio, que tem duas obras figurando Santa Maria Madalena.
GEORGE DE LA TOUR
Durante os anos 1600, a figura de Maria Madalena foi praticamente identificada com a da pecadora arrependida. Em sua pintura de 1638, George de La Tour representa a santa com decote, símbolo da vaidade, com uma caveira apoiada no colo, símbolo do limite da vida terrena. A longa vela da chama simboliza o arrepio que a abalou de amor. Por fim, a luz cria uma atmosfera quente e intimista ao realçar as linhas do corpo de Madalena, evocando a sensualidade como elemento a renunciar.
SERGIO RICCIUTO CONTE
Atributos específicos de Santa Maria Madalena retomados pelo Concílio Vaticano II são o vaso, o olhar para o observador, o ovo vermelho.
Na obra de Sergio Ricciuto Conte a santa é representada como apóstola por meio do símbolo cristológico da pertença, o peixe. O livro, o ovo e as flores sublinham a importância fecunda em termos eclesiológicos, como mulher protagonista da Igreja primitiva. Outra representação particular de Madalena é o chamado “noli me tangere” (“não me toque”), palavras ditas por Jesus a Maria Madalena quando ela o reconhece após a sua ressurreição. Na obra também Cristo aparece a Madalena e, ao reconhecê-lo, a mulher tenta tocá-lo, mas ele a proíbe. Assim, nessa composição, Madalena está de joelhos, enquanto Cristo a empurra, estendendo o braço.
DECRETO
No decreto assinado pelo prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, e pelo Arcebispo Arthur Roche, secretário, recorda-se que a Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente, reservou sempre a máxima reverência a Santa Maria Madalena, primeira testemunha e evangelista da ressurreição do Senhor, celebrando-a, contudo, de modos diversos.
O texto afirma também que “essa mulher, conhecida como aquela que amou Cristo e foi também muito amada por Cristo, chamada por São Gregório Magno ‘testemunha da misericórdia divina’ e por São Tomás de Aquino ‘apóstola dos apóstolos’, hoje pode ser vista pelos fiéis como paradigma da missão das mulheres na Igreja”.
DICA DE FILME
O filme Maria Madalena, adaptação do texto bíblico, foi lançado no Brasil em março de 2018. No roteiro, Maria Madalena aproxima-se de um oficial romano e torna-se sua amante, porém, quando conhece o profeta João Batista, o oficial a abandona. Prestes a cometer suicídio, ela conhece Jesus e sua vida muda radicalmente.
Diretor: Garth Davis.
Elenco: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor.
País de origem: Reino Unido da Grã-Bretanha.
Ano de produção: 2018.
Disponível em streaming por assinatura.
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