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A suprema origem, como diz Agostinho no livro De vera religione, é o Pai, do qual são todas as coisas e do qual procedem o Filho e o Espírito Santo. A perfeitíssima beleza é o Filho, que é a verdade do Pai, em nada diferente. A beatíssima alegria e o sumo bem é o Espírito Santo, que é o dom recíproco do mútuo amor entre o Pai e o Filho.
Era essa a teologia que Frei Antônio ensinava aos frades já nos tempos de São Francisco. Ele dava à ordem, que estava surgindo, uma preparação intelectual que a teria tornado capaz de levar o carisma franciscano a todos os ambientes sem perder o seu genuíno esplendor, entretanto, a figura de Antônio é pouco notada sob esse aspecto, enquanto que é conhecidíssima na versão elaborada pela piedade popular.
UM SANTO UNIVERSAL
Em uma biblioteca de um bispo brasileiro encontrei um bonito livro com o título Antônio de Lisboa, santo e soldado. Eu já sabia bem que os países de tradição portuguesa sempre gostam de recordar suas origens lusitanas, mas que o amor dos brasileiros por esse santo tivesse chegado até o ponto de colocá-lo na lista de pagamento do Exército isso eu jamais teria imaginado. Não só o escolheram para protetor dos seus soldados, mas fizeram-no percorrer toda a carreira militar desde simples soldado até capitão, pagando regularmente o estipêndio não a ele, que está no paraíso onde não existe moeda corrente, mas ao convento de Santo Antônio.
Por sua vez também não é de maravilhar, porque a devoção para com esse santo ultrapassou as soleiras da Igreja Católica, suscitando o interesse também dos ortodoxos, budistas e muçulmanos. Onde tenham chegado os franciscanos, aí os povos, sem distinção de fé religiosa, acolheram-no como um homem de Deus que com o seu poder taumatúrgico vai ao encontro das dores e das expectativas da humanidade de todos os tempos. Também por isso contam-se dele os seus milagres infindáveis e às vezes até mesmo sem sentido crítico.
AS PRIMEIRAS ETAPAS
Vamos olhar de bem perto a verdadeira história de Antônio. O seu nome de batismo é Fernando Martins. Nasceu em Lisboa, Portugal, de uma família abastada, no ano de 1195. Até os 15 anos, frequentou a escola da catedral. Nesse tempo, o livro de texto era o Saltério e os alunos mais inteligentes o aprendiam de memória. Servia para aprender a ler e a escrever, para cantar na igreja nas funções religiosas e também como catecismo para se instruir nas verdades da fé. Naturalmente era em latim, a língua de todas as escolas da Europa, que oferecia o privilégio muito grande de poder frequentar os mais prestigiosos centros de estudo desse continente. Junto com as verdades de fé, Fernando aprendeu também a gramática, a retórica, a música e a aritmética.
Aos 15 anos, entrou para o mosteiro de São Vicente, dos monges regulares de Santo Agostinho, a poucos quilômetros de Lisboa. Era a única maneira de progredir nos estudos, mas foi também uma ocasião para descobrir a beleza da vida religiosa segundo a regra agostiniana: a vida comum tinha por modelo a primeira comunidade cristã, em que os monges procuravam ser um só coração e uma só alma e com esse espírito se lançavam para fora do mosteiro, tendo como finalidade a edificação da Igreja.
Fernando teve ótimos mestres e tornou-se um fervoroso agostiniano. Tinha somente um desgosto: com muita frequência, seus parentes iam lá procurá-lo e isso o perturbava. Havia em Portugal o triste hábito de ir sempre aos mosteiros não para fazer uma visita breve ou para se aprofundar na vida espiritual, mas, para choramingar seus azares e com isso enganar os monges aparentados. Para o jovem Fernando, isso não lhe melhorava o gênio e, não podendo se opor a esse abuso já inveterado, precisava num só golpe talhar o mal e por isso pediu para ser transferido para o mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, distante 175 quilômetros de Lisboa.
Libertado da presença importuna dos parentes, pôde dedicar-se totalmente aos estudos e à oração. Orientado por ótimos mestres, aproveitou bem os estudos de Teologia como de costume, começando pela leitura e meditação da Sagrada Escritura, depois a leitura dos escritos dos santos padres, com Agostinho em primeiro lugar, e dos comentários mais prestigiosos, como os de Pedro Lombardo.
Foi em Coimbra que ele encontrou a possibilidade de saciar a sua sede de sabedoria, mas foi aí também que encontrou uma grande cruz. Essa comunidade há muito tempo estava dividida em duas. Alguns observavam fielmente a regra sob a orientação do mestre João Nunez, com o apoio até mesmo do Papa, enquanto que outros bem consistentes seguiam os costumes dissolutos do prior, Dom João César, que se sentia forte pelo apoio do rei. O régio e pontifício mosteiro agostiniano de Coimbra, mais famoso pela santidade e pela ciência, tinha-se tornado motivo de escândalo em todo o reino.
Aí Fernando terminou os seus estudos e tornou-se sacerdote, sempre fiel ao seu ideal de monge e cultivando a esperança de que o seu mísero prior mudasse de vida, sobretudo depois que ele retornou do Concílio Lateranense IV, que havia chamado a atenção de todos para a necessidade da reforma da Igreja. Uma esperança que o prior de Coimbra logo fez que se tornasse vã, visto que acarretou para o rei e para o reino de Portugal a interdição.
O CARISMA DO QUAL SE ENAMOROU
Nessas circunstâncias tão dolorosas, Fernando conheceu os frades de São Francisco. Eles moravam no cenóbio de Santo Antão das Oliveiras, não muito distante do mosteiro, e sempre vinham pedir esmola. O modo como eles se vestiam e a maneira como anunciavam a Palavra de Deus tocaram profundamente o jovem monge agostiniano, mas o que ainda mais o fez pensar foi a chegada a Coimbra dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados pelos muçulmanos no Marrocos. Esses filhos de Francisco de Assis não brincavam, tomavam o Evangelho ao pé da letra e estavam sempre prontos para dar a vida pelo seu ideal.
Fernando procurou quem o aconselhasse e, tendo obtido a permissão do prior, pediu para se tornar franciscano. A passagem para a ordem e a vestição do rude hábito aconteceu no verão de 1220 de forma humilde e quase que escondida, pois Portugal estava sob a pena da interdição; de fato não era a pompa das cerimônias o que atraía o apreço de Fernando.
A vida em Santo Antão das Oliveiras era aquela que ele, depois de se tornar frei Antônio, tinha sempre sonhado, porque aí a pobreza, a castidade e a obediência não eram dotes de dissertação, mas pérolas luminosas que resplandeciam no cotidiano e o viver em fraternidade atingia plenamente o sonho evangélico de Agostinho: ser um só coração e uma só alma.
Antônio abraçava o carisma de São Francisco quando já havia adquirido com os agostinianos uma riquíssima bagagem cultural, sobretudo bíblica e patrística, que naqueles tempos ainda não teria encontrado entre os franciscanos. Ao mesmo tempo, teve a felicidade de conhecer o franciscanismo no fervor da sua fundação.
DIRIGIDO AO MARROCOS ENCONTROU-SE EM ASSIS
Nesse período, o desejo de Francisco era o de evangelizar as terras onde habitavam os muçulmanos e então também Antônio se preparou para partir para o Marrocos, na esperança de que tal aventura terminasse com o martírio.
Frei Antônio partiu no outono do mesmo ano ou na primavera do ano seguinte. Assim que chegou a terras de missões, nelas permaneceu por bem pouco tempo, porque adoeceu e logo teve de retornar para a sua pátria. O navio que deveria levá-lo para Lisboa, devido a uma grande tempestade, mudou de rumo e teve de desembarcá-lo na Sicília. A essa altura dos acontecimentos, achou melhor tomar o rumo para Assis, onde São Francisco preparava o famoso “capítulo das esteiras”, acolhendo em torno de si os seus frades.
Antônio participou desse capítulo como um simples fradinho português, sendo até mesmo desconhecido pelo próprio Francisco. Passou aqueles dias encantando-se na contemplação da humilde figura do fundador. Francisco quase sempre estava sentado aos pés de Frei Elias, atento em escutar a palavra de quem ele considerava muito mais douto do que a si mesmo, mas muito decidido quando se tratava de defender o espírito da senhora pobreza.
Quando terminou o capítulo era preciso estabelecer a destinação de cada frade e com Antônio ninguém sabia o que fazer, mesmo porque ele só falava em latim e então não era útil para a pregação ao povo. Sendo ele sacerdote, tomou-o consigo Frei Graciano da Romagna para celebrar a Missa no eremitério de Monte Paolo. Antônio, além de celebrar a Eucaristia para os frades, preparava-lhes o alimento enquanto eles repousavam, oravam ou se preparavam para descer novamente pregar.
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