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Entre pureza e martírio: as duas coroas
Auschwitz, Polônia. 1941.
– Por favor, tenho esposa e filhos!
Maximiliano Kolbe sai da fila:
– Minha vida por aquele pai de família – e faz um sinal com a mão em direção ao sargento Francisco Gajowniczek.
Atônito, o comandante pergunta:
– Quem é você?
– Um sacerdote católico.
– Aceito. E você! Volte para a fila!
Nus, descalços e sem esperanças, os dez escolhidos descem as escadarias rumo ao holocausto. Padre Kolbe é o último da fila, os lábios sussurram palavras. Na cela uma luz brilha, é Maximiliano a se recordar das duas coroas:
– O que vai ser de você, meu filho? – pergunta Maria Dabrowska.
Num canto da casa, ainda sem resposta, ele vê uma senhora e duas coroas. Uma branca e a outra vermelha.
– Você as quer?
– Sim, as duas – responde o menino.
O franciscano vive como um herói. No imaginário, segura firmemente as duas coroas. Em uma das mãos, a branca, simboliza a santidade que sempre almejou. “Quero ser santo, um grande santo.” E na outra, a vermelha, a do martírio: “(…) nada media e de nada se lamentava. Dava coragem aos outros, procurando persuadi-los a ter a esperança de que o fugitivo do bloco 14 certamente seria encontrado e então eles seriam libertados…”.
Conforme a escritora Patrícia Treece, o prisioneiro-intérprete Bruno Burgowiec, guardião do bunker da fome, relata detalhes do dia a dia dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz: “As vítimas despidas estavam em uma única cela, as dos que estavam morrendo em represália pelas duas fugas anteriores. O ar fétido era irrespirável, o chão da cela, de cimento. Não havia móvel algum, exceto um balde para suas necessidades fisiológicas. Pode-se dizer que a presença de Padre Kolbe no bunker era necessária para os outros. (…) Para que pudessem acompanhá-los, ele rezava em voz alta. As portas das celas eram de carvalho. Devido ao silêncio e à acústica, a voz de Padre Kolbe rezando espalhava-se pelas outras celas, onde podia ser ouvida bem. Esses outros prisioneiros juntavam-se a ele na oração. A partir de então, todos os dias, da cela onde se encontravam aquelas pobres almas e das celas vizinhas vinha o som da recitação de orações, do terço e de hinos. Padre Kolbe começava e os outros respondiam em grupo. Quando essas orações e hinos fervorosos ressoavam em todos os cantos do bunker, eu tinha a impressão de estar em uma igreja.”
Assim permanece Padre Kolbe por 21 dias, sem comer e beber, até um dos soldados da SS injetar ácido fênico em suas veias. Era 14 de agosto. No dia seguinte, festa da Assunção de Nossa Senhora, suas cinzas serão espalhadas ao vento.
Texto adaptado da edição de agosto da Revista Ave Maria. Para ler os conteúdos na íntegra, clique aqui e assine.
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