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“Sacerdote integérrimo e operário infatigável, ensinou a ciência alcançada de fonte puríssima.”
Comumente é chamado João Câncio devido à latinização de Kenty ou Kety, sua cidade de origem, nas proximidades de Cracóvia, na Polônia, onde nasceu em 1390.
Nada sabemos do primeiro período da sua vida. Aos 23 anos de idade, inscreveu-se na Universidade de Cracóvia e em breve tempo tornou-se bacharel e depois mestre em artes. Em 1416, tornou-se sacerdote e mais tarde foi designado como diretor da escola do mosteiro do Santo Sepulcro em Miechow.
HOMEM DE CIÊNCIA E DE FÉ
Tendo desempenhado muito bem esse ofício, em 1429 foi chamado à Universidade de Cracóvia como professor de artes. Ali, além de ensinar, aproveitou o tempo para estudar a fundo a Teologia, tornando-se depois ele mesmo mestre dessa matéria. Não era um especulativo e não escreveu livros, só copiou por seu próprio punho cerca de quinze códices, colocando-lhes ao lado interessantes observações. Foi um ótimo professor que sabia transmitir a ciência, comunicando ao mesmo tempo sua fé límpida e profunda.
Num tempo em que na Europa circulava entre os intelectuais a teoria do conciliarismo, que sustentava a superioridade do concílio ecumênico acima do Papa, ele não aderiu a isso, afirmando num dos seus manuscritos que a fidelidade à Igreja inclui também o reconhecimento do ministério de Pedro e é a condição indispensável para participar da comunhão dos santos. Não se deixou atrair nem mesmo pelas ideias hussitas difundidas na sua pátria e, a quem nos debates públicos o ofendia gravemente por sua adesão à Igreja, respondia com calma: Deo gratias (Graças a Deus).
POBRE E HUMILDE
Viveu sempre pobremente e quando o nomearam prelado de uma rica colegiada, vendo que não podia atender bem ao mesmo tempo ao estudo e ao cuidado pastoral, renunciou à nomeação.
Da sua vida narram-se alguns fatos pitorescos que colocam em evidência sua simplicidade de coração e sua fé genuína.
Ainda estudante, enquanto estava à mesa com os companheiros, bateu à porta um pobre. Ele, sem hesitar, doou sua ração diária de alimento e, diante do espanto dos colegas, que pediam explicações, respondeu simplesmente: “Veio um pobre, é Jesus Cristo que veio”. Daquele dia, de comum acordo, quando preparavam o almoço aprontavam uma porção a mais para Jesus.
Noutra ocasião, já sacerdote e professor universitário, enquanto estava para chegar a Roma como peregrino, a diligência foi assaltada por ladrões que exigiram que lhes dessem todo o dinheiro. Quando entregou sua contribuição, os bandidos perguntaram: “Isto aqui é tudo?”. Ele respondeu que era, mas, enquanto os ladrões se afastavam, lembrou-se que lhe tinha restado uma moeda nas pregas do manto. Desceu da diligência e correu a encontrá-los para entregar-lhes a moeda. Os ladrões estupefatos tiveram a sensação de se encontrar diante de um santo, restituíram-lhe tudo e prometeram mudar de vida. Assim também aos ladrões, a tradição encontrou em são João Câncio um protetor para ajudá-los a encontrar o caminho correto.
PEREGRINO EM BUSCA DO SEU SENHOR
A propósito de peregrinações foi cerca de quatro vezes a Roma para visitar os túmulos dos príncipes dos apóstolos e uma vez se dirigiu até a Palestina. As peregrinações eram então uma verdadeira e profunda experiência ascética que devia purificar a alma de toda adesão às vaidades do mundo e uni-la mais profundamente a Deus. Realizava-as com essa finalidade e para reforçar e renovar sua fé.
Na Universidade de Cracóvia era estimado pelos professores e pelos alunos, que o quiseram na cátedra até a sua morte, ocorrida no dia 24 de dezembro de 1473, na venerável idade de 83 anos. Seu túmulo tornou-se logo meta de numerosas peregrinações não só da Polônia, mas também dos países vizinhos. A pedido dos professores de Cracóvia foi proclamado beato em 1690 e declarado santo em 1767. Pela influência que teve sobre a formação do clero foi tomado como patrono dos seminaristas e dos seus professores.
O Cardeal Schuster escreveu sobre ele: “Muitos entendem que a posição do professor universitário, inebriado pela volúpia do próprio saber, seja a mais inadaptada à profissão da perfeição cristã. João Câncio desmontou esse preconceito e mostrou que não é a fatuidade, mas o ascendente de uma vida santa que torna imensamente eficaz o ensinamento do mestre sobre o ânimo da juventude estudantil”.
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