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Quando os guardas imperiais invadiram o cemitério de São Calisto para prender e matar Sisto II e seus diáconos, aos 6 de agosto de 258, não encontraram o Arquidiácono Lourenço ou talvez pensaram que não seria oportuno fazê-lo perecer juntamente com os outros.
Ele, de fato, era a pessoa de confiança do Papa na administração dos bens da comunidade e se tornaria facilmente, segundo a tradição, o sucessor na sede de Pedro. Dele as autoridades esperavam, portanto, algo de maior importância.
São Leão Magno, numa homilia, relata o martírio de Lourenço assim como tinha sido transmitido até os seus dias: o ímpio perseguidor se enfureceu contra o levita, que estava mais em evidência, seja porque preposto ao sagrado ministério, seja porque encarregado da administração dos bens eclesiásticos. Encarcerando somente um homem, esperavam uma dupla presa, porque, se fosse considerado traidor do tesouro sagrado, tornar-se-ia também um apóstata da verdadeira religião.
Lourenço, nos quatro dias antes de ser aprisionado, conseguiu colocar os bens que administrava num lugar seguro, distribuindo-os aos pobres. Quando o juiz perguntou onde ele havia escondido o tesouro da Igreja, que por lei nesse momento seria confiscado, o diácono não se perturbou e convidou-o a segui-lo, mostrando-lhe – continua São Leão no relato – “uma multidão numerosíssima de pobres fiéis, para manter e vestir aos quais havia ele empregado os bens nesse momento imperecíveis, que estavam tanto mais salvos quanto mais santamente tinham sido empregados. Vendo-se enganado no desígnio de rapina, ele estremeceu e, ardendo de ódio contra uma religião que havia instituído tal emprego das riquezas, não tendo encontrado junto dele nenhuma quantia de dinheiro, tentou arrancar-lhe o melhor tesouro, procurando raptar-lhe o depósito que era para ele a mais sagrada das riquezas”. Lourenço não renunciou a Cristo e foi ao encontro do martírio. Era o dia 10 de agosto de 258.
De acordo com a passio de Policrônio, um comovente romance histórico do século IV, no dia da prisão de Sisto II, enquanto ele era conduzido ao martírio, chegou Lourenço e lhe disse: “Para onde vais tão apressado, pai santo, sem o teu diácono? Tu não tiveste jamais o hábito de oferecer o sacrifício sem o teu ministro. O que te desagradou em mim, pai? Talvez me tenhas considerado indigno? Prova-me e vê se escolheste um indigno ministro para a distribuição do sangue do Senhor. Rejeitarás, talvez, aquele que admitiste aos santos mistérios de ser teu companheiro no derramamento do seu sangue?”. Respondeu o Papa: “Filho meu, eu não te abandono. Aguardam-te maiores combates. Não chores; dentro de quatro dias me seguirás” e autorizou-o a distribuir os bens da Igreja antes que os inimigos se apropriassem deles.
Lourenço, cumprida sua missão, não podia esperar outra coisa senão a palma do martírio. O juiz, com efeito, depois de numerosos e atrozes tormentos, teria tentado a última cartada, fazendo colocarem-no em cima de uma grelha ardente. Mas “As chamas”, comenta São Leão, “não puderam vencer a caridade de Cristo; e o fogo que o queimava por fora foi mais fraco do que aquele que lhe ardia dentro”.
Ao mártir, muitíssimo amado pelos cristãos, foram erguidas igrejas em muitas partes do mundo. Em Roma, Constantino edificou uma basílica sobre o seu túmulo, que se tornou uma das sete grandes basílicas romanas. Também em Constantinopla, mais tarde, Teodósio, o Jovem, quis lhe dedicar uma das suas igrejas.
A mensagem que Lourenço deixou gravada na memória histórica é sem dúvida alguma o amor pela Igreja e pelos pobres, um amor que ele testemunhou com seu sangue.
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