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Certa ocasião, Jesus estava falando sobre as verdades do Reino de Deus para os seus discípulos. Ele dizia que era preciso renunciar, aceitar os desafios e enfrentar a cruz. Em Suas palavras, explicava valores eternos como a ternura, a sensibilidade para com os pobres, a simplicidade e a fidelidade. De repente, o atrevido Pedro tomou a palavra e perguntou: “Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?”. Jesus respondeu: “Todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Mt 19,27-29).
Isso tem a ver com a Ladainha da Felicidade que Jesus pronunciou no conhecido Sermão da Montanha: “Felizes os pobres, porque deles é o céu; felizes os que choram, porque serão consolados; felizes os mansos, porque possuirão a terra […]; felizes sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.” (Mt 5,1-12). Deixar tudo para seguir Jesus não é um caminho de frustração e tristeza, mas de realização e felicidade. Por isso, sou padre e sou feliz.
Jesus prometeu aos Seus seguidores a felicidade já na terra e a garantia de um lugar no céu. Isso nos deixa totalmente seguros e felizes. Mas atenção! O mestre de Nazaré não vendeu um pacote de ilusões. Ele avisou – como disse o poeta – que, no meio da caminho, haveria uma pedra: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna” (Mc 10,29-31).
A vida do sacerdote é um caminho de felicidade entre riscos. O profeta tem que estar preparado para colher os frutos de sua profecia. Podem ser elogios ou críticas; admiração ou incompreensão. Se o padre vai à casa das pessoas, muitos dirão que é popular; outros dirão que é populista, vive passeando, escolhe as pessoas etc. Se o padre é mais místico e prefere ficar na casa paroquial em oração e estudo, dirão que é antissocial. Se faz um sermão mais social, dirão que é metido em política. Se a homilia é mais espiritual, alguém dirá que ele é alienado. Se é zeloso com a liturgia, haverá quem o critique por ritualismo. Se é criativo, dirão que não prepara seus sermões. Se fala o básico, alguém dirá o mesmo: não prepara seus sermões.
Nem Jesus agradou a todos. João Batista era um profeta dedicado à ascese e foi criticado como antissocial e possesso por um demônio. Jesus ia à casa das pessoas e comia do que Lhe ofereciam. Foi chamado de guloso e beberrão (cf. Mt 11,18-19). Não tem jeito. O coração maldoso das pessoas teima em criticar quem faz o bem. O padre, no entanto, não toma como parâmetro as palavras malditas. A sua referência é a promessa das palavras benditas de Jesus. Ser padre traz imensa felicidade nesta terra e a certeza de que o meu lugar é o céu.
Tenho muitos irmãos sacerdotes que são criticados injustamente. Nenhum deles é perfeito, mas vivem o que é possível da sua vocação. Cheguei à conclusão de que ninguém joga pedras em uma árvore sem frutos. Os sacerdotes mais criticados normalmente são os que mais frutificam. Continuamos nosso caminho apesar desses rumores. Ser padre sempre passou pela cruz e pela renúncia, mas posso lhe garantir: é muito bom! Sou padre e sou feliz.
Padre Joãozinho, SCJ,
Canção Nova
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