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O terceiro carmelita, um leigo de Maria
Desde tempos antigos, a memória de Maria, a mãe do Senhor, esteve ligada à formosura e beleza de um dos lugares mais emblemáticos da terra santa, o monte Carmelo. As sagradas escrituras fazem referência à beleza do Carmelo: “foi-lhe dada a glória do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron” (Is 35,2); “tua cabeça eleva-se como o monte Carmelo” (Ct 7,5). A liturgia da Igreja viu nestas frases adjetivos eloquentes para falar da beleza que adorna Maria.
O vínculo com a Santíssima Virgem e o monte Carmelo remonta também há tempos proféticos, quando o profeta Elias defendeu os direitos do Deus verdadeiro nesse monte. Ali é o lugar onde profeta orou para que a chuva caísse sobre os esgotados campos de Israel, depois de uma seca de vários anos.
Durante esse instante decisivo da história do povo de Deus, Elias vislumbrou uma nuvenzinha que subia do mar. Era o sinal imediato de que as chuvas estavam próximas. Todavia, para a tradição dos primeiros carmelitas que deram origem à ordem do Carmo nesse monte, o acontecimento teve um significado a mais além da precipitação da chuva. Para eles era um prelúdio do nascimento da Virgem Santíssima, que com seu nascimento traria abundantes e inesgotáveis graças, já que dela o Senhor se revestiria de nossa humanidade para realizar nossa redenção.
Os primeiros carmelitas que habitaram o monte Carmelo – daí o nome de carmelitas – viram sempre em Maria o ideal de vida à qual aspiravam. Ela é o espelho das virtudes, beleza na qual Deus se alegra, imagem do contemplativo em sua plenitude, enfim, a encarnação de seu ideal carmelitano de vida juntamente com o profeta Elias.
Destas origens, dirá o grande mestre de espiritualidade moderna Thomas Merton O.C.S.O: “o propósito da ordem fundada em sua honra consiste em capacitar seus membros para que, sob a guia de nossa senhora, alcancem o cume da contemplação”. Pode-se dizer que a vocação do carmelita é caminhar rumo à santidade, tomado pela mão de Maria, em direção ao cimo do monte da salvação que é seu filho Cristo, o Senhor, orando, contemplando, servindo e amando como ela o fez.
Muitos pensam que a vocação contemplativa carmelita se restringe só aos frades e monjas de clausura de nossa ordem, coisa que não é certa, já que desde a idade média e já desde os princípios do renascimento, a Igreja e a ordem reconhecem a vocação do leigo à vida do Carmelo.
Primeiramente, temos que ver que a vida carmelitana no laicato é uma vocação, como o é a vida religiosa ou sacerdotal. A vocação à vida terceira carmelita é, antes de tudo, um desafio para sermos contemplativos no mundo em que vivemos; é viver em estreita amizade com Deus, mais com atos que com palavras, como sempre fez a Virgem Santíssima.
A Ordem Terceira Carmelita (OTC) é uma via pela qual a família carmelita oferece ao povo de Deus, a todo o laicato em geral e aos membros do clero secular a oportunidade de viver o carisma carmelita. Seguindo este caminho queremos intensificar a busca da santidade por meio de um maior compromisso com a vocação batismal que tem todo cristão, que é a busca da santidade à qual todos somos chamados ao nos tornarmos filhos de Deus pelo batismo.
O programa de vida espiritual pelo qual nos guiamos para alcançar a meta de realizar esta vocação à santidade, que tanto o Senhor como nossa Santíssima Mãe e a Igreja esperam de nós, se baseia numa norma de vida aprovada pela Ordem do Carmo e a Santa Sé, pela qual se rege nosso estilo de vida. Este documento nos recorda qual o nosso ideal de vida e como temos que viver com fidelidade nosso compromisso como terceiros carmelitas; e, se seguimos fielmente nossa norma de vida, poderemos avançar no caminho da perfeição cristã, tal como nos recorda uma das filhas mais ilustres de nossa ordem, Santa Teresa de Jesus, a qual exortava suas monjas para que guardassem com fidelidade a regra e as constituições, e não seria necessário outro milagre para que fossem santas.
A missão do terceiro, segundo nossa norma de vida, é bastante clara: o terceiro carmelita de hoje é “chamado a iluminar e a dar o justo valor às realidades temporais, de maneira que sejam realizadas segundo os valores proclamados por Cristo e em louvor do Criador, do Redentor e Santificador” (regra da OTC, 10). Somos convidados, como nos diz São João Paulo II, na exortação apostólica, Christifidelis Laici, a “ultrapassar em si mesmos a ruptura entre o evangelho e a vida, refazendo na quotidiana atividade em família, no trabalho e na sociedade, a unidade de uma vida que no evangelho encontra inspiração e força para se realizar em plenitude” (n.34).
Como vimos, a Igreja não pede outra coisa senão que saibamos viver nossa vocação como cristãos, iluminados pelos exemplos de Maria e de Elias, e dos demais santos e mestres espirituais que a ordem tem dado à Igreja, ao passar dos séculos, cada um com um carisma e um magistério espiritual distinto, porém unidos numa mesma vocação carmelitana.
A pessoa de Maria na vida e na espiritualidade do terceiro ocupa um lugar central depois da de Cristo. A relação dos carmelitas com Maria é estreita, já que remonta aos tempos em que a ordem nasceu no monte Carmelo.
A vida intensamente mariana de nossa ordem, que nos distingue de outras ordens religiosas, está no fato de que em nossas origens no Carmelo (séc. XII), por não termos um fundador jurídico como os franciscanos ou dominicanos, tomamos o nome do lugar onde fomos fundados. Além disso, a relação com Maria advém do fato da primeira capela que teve a ordem ter sido dedicada à Virgem, lá no monte Carmelo. Desta primeira capela surge o título de Irmãos de Santa Maria do Monte Carmelo, que nos vinculará para sempre a ela.
Maria é para os primeiros carmelitas a domina loci, a senhora do lugar, a quem servem como homens consagrados. Ela se torna mãe e irmã daquele pequeno núcleo de ermitãos que decidiram levar uma vida santa naquele lugar venerável.
Outro acontecimento que une mais intensamente os carmelitas a Maria, de maneira particular e com um vínculo mais forte ainda, é o da entrega do santo escapulário, 16 de julho de 1251, ao prior geral de então, São Simão Stock, a quem lhe prometeu que aquele que morresse com o escapulário da Ordem do Carmo não pereceria no fogo eterno. A este acontecimento se acrescente o fato de que a intervenção direta da virgem em várias ocasiões foi o que ajudou a ordem para que fosse definitivamente aprovada pelo papa Inocêncio IV.
Ao longo de nossa história, vemos como a mão da Virgem Santíssima tem acompanhado os carmelitas desde suas origens até os dias de hoje. Maria é para todos os carmelitas de todos os ramos – frades, freiras e terceiros –, o modelo que desejam imitar para ser agradáveis ao seu filho Jesus.
Maria encarna o duplo ideal do carisma carmelitano, que se encerra na sentença: “contemplata aliis tradere”, que em português significa dar ao outro o que foi contemplado. O terceiro carmelita, por meio de uma vida sacramental saudável e de uma oração intensa, carrega-se de frutos produzidos por estes encontros pessoais com o Senhor e os dá, transformados em serviço, à Igreja e ao próximo.
Maria, como mulher orante, sempre esteve atenta ao serviço da obra de seu filho e sempre obteve a força para levar sua missão através da sua intensa vida de oração. O melhor exemplo nos dá o evangelho com a frase que nos recorda que ela meditava e guardava tudo no seu coração.
Outro aspecto não menos importante na vida do terceiro, de que a virgem é seu modelo e espelho no qual deve olhar-se, é o coração de Maria. Esse Imaculado Coração de Maria para o terceiro carmelita é a meta última à qual aspira, pois ele deve aspirar a ter um coração limpo e imaculado como o dela, para servir ao senhor com um coração puro, tal como pede nossa santa regra. Tomados pela mão de Maria, devemos procurar limpar nosso coração de tudo àquilo que não nos permite unir-nos de um modo mais perfeito ao Senhor, e é impedimento para seguir o que Deus espera de nós em nossa vida.
O Carmelo, com o passar dos séculos, demonstrou ser mestre da ciência da circuncisão do coração, como o definem os antigos autores da ordem. O grande São João da Cruz, em sua doutrina, nos ensina a limpar o coração de todo afeto desordenado para servirmos ao Senhor com maior liberdade.
Por último, o terceiro carmelita sempre leva com amor aquele dom precioso que a virgem deu a seus carmelitas: o santo escapulário. Para o terceiro este escapulário é o sinal das virtudes de Maria que ele deve encarnar para ser autêntico discípulo de Cristo; é também sinal da predileção da Virgem Maria para com o ele, e de seu amor maternal.
Por isso, sempre professamos na Ordem do Carmo um amor tão especial à Virgem Santíssima. Ela nos chamou à sua ordem, nos vestiu com seu santo hábito e escapulário, nos alimenta com a meditação assídua das sagradas escrituras à qual todo carmelita é chamado, e com os ensinamentos de nossos irmãos mais velhos, os santos.
Tanto amor da senhora para conosco nos fez que, com o passar do tempo, nós, carmelitas, sejamos os propagadores de sua devoção, seus pregadores mais ardorosos, os que com mais solenidade e terno amor celebram suas festas, os que com maior fervor e entusiasmo defendem com a pena suas prerrogativas como virgem, mãe, imaculada conceição e irmã do Carmelo. Enfim, o Carmelo é todo de Maria. Se quiseres seguir a Cristo, guiado pela mão de Mãe tão terna e doce, une-te a nossa família. Vem e verás.
Fonte: Comissão Provincial para a Ordem Terceira do Carmo (otcarmo.org)
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