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O ouvido humano é sempre o mesmo. Talvez a audição seja o mais instintivo dos sentidos e é o menos consciente, ou seja, é muito pouco explorado pela humanidade: a escuta consciente e o discernimento sobre os sons que chegam aos ouvidos.
O cérebro não faz distinção. O som entra e atua no sistema nervoso, no mundo psíquico e nos afetos de quem o ouve. Com a entrada das redes sociais no quotidiano da maioria e de inúmeras possibilidades de ouvir música, o desafio de uma escuta consciente multiplicou de tamanho. Assim, a música serve como meio de sedução. Não vamos nem falar nas cifras que enriquecem bolsos com a sedução musical em espetáculos, propagandas etc. Outro fator importante é a poluição sonora dentro de casa. Ela contribui muito para que o campo de sedução sonora crie um clima de alienação e suposta satisfação.
A música cristã atua de forma inversa. Os sons na vida do cristão não são produzidos para seduzir, mas, para conduzir.
É a voz do pastor conduzindo seu rebanho. Toda a estrutura da música litúrgica conduz o coração ao belo, ao equilíbrio, à presença do Espírito Santo. Tudo com o pé no chão. A música cristã é o reflexo do Evangelho, isto é, vem libertar o coração de suas angústias e tristezas, mentiras e alienações. É importante lembrar que o canto cristão deve conduzir uma pessoa ao próximo. Amar é escutar. O coro da Igreja é o povo, a assembleia, a família unida em oração. Eusébio de Cesareia escreve sobre como os primeiros cristãos expressavam a fé e a unidade: “Através do orbe do universo, em todas as igrejas de Deus, tanto no meio das cidades como nos povoados e no campo, os povos de Cristo, reunidos de todas as gentes, cantam hinos e Salmos ao único Deus, anunciado pelos profetas, em alta voz, de tal forma que o som do canto pode ser escutado até por aqueles que estão fora do templo”. Não é uma questão de volume! É o reflexo da qualidade de amor entre os primeiros cristãos que ressoava fora do templo.
Jesus ensinou que é fácil reconhecer uma árvore bastando observar os frutos que ela dá. O fruto que a música cristã oferece é o amor entre os irmãos, a unidade, o desapego de si mesmo e o desejo de ver Cristo no rosto do irmão.
O mundo está muito carente de entendimento entre as pessoas. O egoísmo toma conta de todos os lugares, mas, a música litúrgica tem uma única direção: a Eucaristia. É por meio dela que a Igreja realiza todas as outras obras de caridade. A música cristã é caridade. Santo Agostinho inicia o comentário sobre o Salmo 132 dizendo “Este Salmo é breve, mas muito conhecido e citado: ‘Como é bom e agradável habitar juntos os irmãos’. Tão doce é esta melodia que até os que não conhecem o Saltério costumas cantar este verso. Tão doce como o amor que faz habitar juntos os irmãos”. A música cristã não seduz e sim conduz, porque é composta de humildade. Sem humildade não há cristianismo. Sem humildade não é possível viver em unidade fraterna.
A Eucaristia nos faz cantar em uma só voz!
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