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“Um só coração e uma só alma” (Atos 4,32)
Os primeiros cristãos eram reconhecidos pelos pagãos pelo amor mútuo que viviam. Quando se ama, cresce-se e progride-se espiritualmente, constroem-se novos relacionamentos, nova civilização. Quando falta o amor, tudo é frio, seco, difícil.
Nós cristãos temos como vocação, como missão, viver o amor: “Quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1Jo 4,21).
Não é possível separar o amor de Deus do amor ao próximo. Amar ao próximo, servir a ele, ampará-lo e padecer por sua causa são expressões do amor a Deus. Aquele que ama a Deus ama a seu irmão. Quando amamos ao irmão, ao próximo, estamos amando a Deus.
Se nos amamos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito (cf. 1Jo 4,12). A mais sincera e verdadeira expressão de que vivemos na graça de Deus, que estamos fazendo a sua vontade, é o amor que temos pelos outros. Deus habita em nós se amamos. Não basta viver entre os outros, nem com os outros, é preciso viver pelos outros. Assim se vive para Deus. Quem vive por Jesus, que deu sua vida por amor, vive para todos, porque todos são imagem de Cristo. Dessa forma, amando, vemos Cristo em cada próximo, sem olhar pobreza ou riqueza, sabedoria ou ignorância, simpatia ou antipatia.
Ser cristão é amar a fraternidade, permanecer unido para o bem, ajudar-nos uns aos outros em todas as coisas. No amor encontramos paz, segurança, consolo. A vida se torna mais feliz. O exemplo dos primeiros cristãos deve ser a nossa norma à qual devemos ajustar o nosso comportamento.
O amor leva a honrar a todos, aos amigos e aos inimigos, a refutar os erros, a não responder ao mal com o mal, mas em tudo amar. Amor no coração, no pensamento, nas palavras, nas atitudes.
Quem se acha rodeado de poder, de prestígio, desprestigiando os outros, quase sempre obtém o resultado oposto.
Se a virtude nos assusta e o bom exemplo não nos convence, nossa enfermidade espiritual é grave e precisa urgentemente ser tratada.
Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros (cf. 1Jo 4,11). Que Deus nos ama, ninguém pode duvidar. Mas, e nós? Será que nos amamos uns aos outros? Como? Que amor julgamos viver? Egoísmo, satisfação, miséria? Ou abnegação, sacrifício e até heroísmo?
“Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade” (1Jo 3,18). Amamos com ações quando fazemos o bem ao nosso próximo, praticando as obras de misericórdia, como orar por ele, aconselhando-o, corrigindo-o, ajudando- o, livrando-o de perigos, socorrendo-o em todas as necessidades possíveis. E para amar de verdade não é preciso falar muito. Ame sempre, diz São Francisco; se precisar, use palavras. Amar é atitude, gesto concreto, mais do que palavras ou meras doutrinações. Amar a Deus por Deus e para Deus, pois todo ser humano é imagem dele, porque Deus considera como feito a Ele tudo o que fazemos ao nosso próximo, tanto o bem quanto o mal.
Para amar muitas vezes é preciso sofrer e dar todo bem ao próximo. Que eu padeça para que o irmão usufrua. Assumir eu mesmo as amarguras para que os demais assumam suas alegrias. Esse é o verdadeiro amor cristão, tal como Jesus amou e ensina a amar.
Não é possível viver “no fogo do amor divino” e ser egoísta, procurando apenas sua satisfação pessoal e esquecendo-se do bem do próximo. Aqueles que buscam sua própria satisfação zangam-se quando sofrem, querem apenas usufruir de benefícios, são brandos consigo mesmos e duros com o próximo, não amam.
“Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7a,12). Essa é a regra de ouro, a mais segura. Curta e objetiva. Fazer aos outros o que gostaríamos que fosse feito a nós. É preciso abrir mão de si mesmo e procurar dar aos outros o amor mais sincero, puro, simples, verdadeiro. Mas, muitas vezes, exigimos do próximo o que não damos. Dói-nos ver que os outros não nos estimam nem nos respeitam, mas não pensamos que tudo isso pode ser fruto de nosso comportamento para com eles.
Enganamo-nos a nós mesmos quando dizemos que amamos, respeitamos os outros e depois nossas ações dizem o contrário.
Há mais alegria em dar do que em receber. Esse deveria ser o nosso lema. São palavras de Jesus registradas nas primeiras comunidades cristãs (cf. At 20,35). É melhor dar: dar a vida, o tempo, as capacidades, os dons, os talentos, entregar tudo por amor. Dar o repouso, a saúde, a graça… Dar-lhes tudo, tornar-se tudo para todos, a fim de salvar a todos (cf.1Co 9,22).
Amar sempre, até o fim. Assim, podemos estar certos do retorno; os que haverão de receber, não para nós, mas para Deus. Onde não há amor, coloque amor e encontrará amor (São João da Cruz).
“Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e Eu em Ti” (Jo 17,21). Esta é a verdadeira fé, o único e verdadeiro cristianismo. Uma novidade ainda a ser descoberta e vivida. Esta é a fé que assumimos ao ser batizados, é a nossa regra de vida. A fé que professamos. O compromisso que assumimos em cada Eucaristia.
“Para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). Conservando-nos assim, vivendo dessa maneira, o mundo não poderá deixar de reconhecer que “Eu sou o enviado do Pai e estou no meio de vocês”. O que Jesus pede é tão grande, excede de tal modo as forças humanas, que, quando nos damos conta do que é essa unidade, do que significa, do que pode, as pessoas terão como reconhecer que Deus é real, Jesus está vivo entre nós e é o próprio Deus.
“Todo reino dividido contra si mesmo será destruído” (Lc 11,17). A unidade é efeito da caridade, do amor recíproco. Nossa força está na unidade. Se for assim, a nossa força será invencível. A palavra de Jesus é infalível. Não anuncia um mal possível, mas um mal inevitável que decorre imediatamente da divisão.
“Um só coração, uma só alma” (At 4,32), uma só fé, um só Batismo. Essa unidade vivida pelos primeiros cristãos era fruto da cruz. E assim será sempre. A unidade tem um preço. Não importa que sejamos de regiões diferentes, de línguas, culturas, personalidades diversas. Cada um, com a personalidade que tem, com sua própria fisionomia, é alguém que pode viver e construir a comunidade com o seu verdadeiro amor.
Artigo de autoria do Padre José Alem, cmf.
Texto extraído da seção “Espiritualidade” da Revista Ave Maria – Edição Maio/2017.
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