Neste mês iniciamos a Quaresma, tempo em que a Igreja nos convida a um intenso e longo caminho de reflexão, que culmina com a paixão e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e sua ressurreição. Não há felicidade sem dor, não há como celebrar a ressurreição se, primeiramente, não passarmos pelo calvário. Para bem vivermos esse período somos chamados a olhar para dentro de nós e vivermos a verdadeira experiência da doação, o despojar-se de si para unir-se a Deus e olhar para o irmão que, muitas vezes, passa despercebido aos nossos olhos.
Há três práticas que nos conduzem durante esse período: oração, jejum e caridade. Essas atitudes nos encaminham ao real sentido da Quaresma, que é a verdadeira conversão. Se o objetivo desse tempo é o nosso profundo reencontro com o amor do Pai, devemos nos perguntar o que tem nos tirado dessa meta ao longo do tempo.
Atualmente, utilizamos boas horas do nosso dia conectados aos nossos smartphones, vendo notícias, memes, fotos de animais fofinhos… Tudo isso ocupa, na maioria das vezes, um espaço bem maior do que o normal em nossas vidas, interferindo em nossos momentos de trabalho, de lazer, em família etc. Uma pesquisa realizada pelas empresas Hootsuite e We Are Social mostra que o brasileiro em 2018 gastou, em média, nove horas na internet. Se tiramos oito horas de sono de nosso dia de 24 horas nos restam apenas sete horas para outras atividades, sem contarmos nossos horários de atividades vitais como alimentação, higiene pessoal… Quantas outras coisas poderíamos realizar se não ficássemos tanto tempo conectados?
Pensando nisso, alguns católicos já adotam o chamado “jejum digital” no Tempo Quaresmal. Desde diminuir o tempo e o uso até pessoas que se dispõem a ficar quarenta dias longe da internet. Essa abstinência melhora não somente o tempo que gastamos e que pode ser substituído pela oração e pela caridade, mas também diminui más práticas que são comuns na internet, como fofocas e pornografia, entre outras. Muitas pessoas afirmam que, após esse período, aprenderam a controlar seus impulsos e viram que conseguem ficar muito mais tempo longe do ambiente virtual do que imaginavam.
Algumas paróquias também criaram o hábito de “sortear” penitências, não só alimentícias, mas também relacionadas à internet, jogos, televisão etc. Há quem seja “contemplado” com esses tipos de jejuns e, vendo-se obrigado a cumpri-los, acaba por tornar o sacrifício quaresmal um castigo, com queixas constantes e reclamações.
Sabemos que o mundo digital é uma poderosa ferramenta que, quando bem utilizada, ajuda-nos no conhecimento, no lazer, na evangelização…
Cada um, com sua própria consciência, deve se questionar se o uso da internet e das redes sociais tem afetado seus horários e prioridades e, principalmente, sua proximidade com Deus. Esse exercício com certeza trará benefícios para nossa vida pessoal e espiritual, ajudando na organização do nosso tempo e a dar o devido valor às coisas que realmente importam.
E você? Acha que está precisando de um “jejum digital”?
Luana Toledo Gazola
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