“Recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo.” (São João Paulo II)
A prática da oração do Rosário é bastante antiga na Igreja, surgida no primeiro milênio da Era Cristã, aproximadamente no ano 800. Inicialmente era denominado “Saltério dos leigos”, pois os monges rezavam os salmos, e os leigos, que em sua maioria não sabiam ler, aprenderam a rezar 150 ave-marias, equivalendo aos 150 salmos.
São Domingos de Gusmão foi o grande incentivador dessa oração, pois, no ano 1206, em uma aparição, Nossa Senhora indicou o Rosário como potente arma para a conversão dos pecadores: “Quero que saiba que a principal peça de combate tem sido sempre o Saltério Angélico [Rosário] que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Assim, quero que alcance essas almas endurecidas e as conquiste para Deus com a oração do meu saltério”.
Outra relação que fazemos a essa oração é o dia 7 de outubro, no qual celebramos a memória de Nossa Senhora do Rosário. Essa festa foi instituída pelo Papa Pio V em 1571, primeiramente como festa litúrgica de Nossa Senhora da Vitória, quando foi celebrada a vitória dos cristãos na batalha naval de Lepanto (no mar Jônico, Grécia). A vitória foi atribuída a Nossa Senhora por ter sido feita uma procissão do Rosário naquele dia na praça São Pedro, em Roma, como intercessão para o sucesso da missão da Liga Santa (formada pela República de Veneza, Reino da Espanha, os Cavaleiros de Malta e os Estados Pontifícios) contra os turcos otomanos. Nessa batalha, os cristãos católicos resistiram aos ataques e venceram o combate.
Na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, de 2002, São João Paulo II nos apresentou uma bela síntese do Rosário e de sua importância na vida cristã: “O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da mãe do Redentor.”
Nessa mesma carta apostólica, o Santo Padre João Paulo II inseriu no Rosário, que significa “coroa de rosas”, os mistérios luminosos: “De tantos mistérios da vida de Cristo, o Rosário, tal como se consolidou na prática mais comum confirmada pela autoridade eclesial, aponta só alguns. Tal seleção foi ditada pela estruturação originária dessa oração, que adotou o número 150 como o dos salmos. Considero, no entanto, que, para reforçar o espessor cristológico do Rosário, seja oportuna uma inserção que, embora deixada à livre valorização de cada pessoa e das comunidades, permita-lhes abraçar também os mistérios da vida pública de Cristo entre o Batismo e a paixão. (…) Para que o Rosário possa considerar-se mais plenamente ‘compêndio do Evangelho’ é conveniente que, depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Cristo (mistérios da alegria), e antes de se deter nos sofrimentos da paixão (mistérios da dor) e no triunfo da ressurreição (mistérios da glória), a meditação se concentre também sobre alguns momentos particularmente significativos da vida pública (mistérios da luz). Essa inserção de novos mistérios, sem prejudicar nenhum aspecto essencial do esquema tradicional dessa oração, visa a fazê-la viver com renovado interesse na espiritualidade cristã, como verdadeira introdução na profundidade do coração de Cristo, abismo de alegria e de luz, de dor e de glória”.
1) Batismo de Jesus no rio Jordão: na reflexão de cada mistério, contemplamos a ação de Jesus em favor da humanidade. O Batismo de Jesus no rio Jordão nos remete ao nosso próprio, que é sinal de comunhão com Deus, que nos liberta e purifica do pecado original, fazendo-nos novas criaturas e concedendo-nos a condição de filhos de Deus.
2) Autorrevelação de Jesus nas bodas de Caná: Jesus se autorrevela, fazendo seu primeiro milagre, a transformação da água em vinho, passagem bíblica muito conhecida. Não podemos esquecer que nessa ocasião Maria, mãe de Jesus, exerceu sua grande missão de intercessora: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
3) Anúncio do Reino de Deus: Jesus nos vai iluminando sobre sua missão, anunciando pouco a pouco o Reino de Deus. Sua missão visava a atrair todos para uma nova vida, para um novo momento de graça na comunhão com Deus.
4) Transfiguração de Jesus: quando Jesus se transfigurou, e junto a Ele apareceram Moisés e Elias, os discípulos Pedro, Tiago e João puderam contemplar a divindade de Cristo e um pouquinho daquilo que será o Paraíso, onde os tementes a Deus terão seus corpos transfigurados.
5) Instituição da Eucaristia: Jesus nos confia sua grande graça, de participarmos da plena comunhão com Ele na recepção da Eucaristia. Sua doação nos confere a vida eterna, ilumina-nos e demonstra sua grande misericórdia.
Concluímos nosso artigo com as belas palavras de Bento XVI: “O Rosário é o meio que nos dá a Virgem para contemplar a Jesus e, meditando sua vida, amá-lo e segui-lo sempre fielmente”.
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