A Liturgia tradicional da Igreja chama de “tempo de salvação”, o tempo quaresmal. Convida-nos assim à reflexão, sobre o fim e conteúdo da Quaresma. A Quaresma visa preparar os fiéis a bem celebrar a Páscoa. E como a Ressurreição gloriosa de Jesus Cristo – a nossa Páscoa – é conseqüência de sua ignominiosa morte, dos sofrimentos e humilhações de sua Paixão, a Quaresma é iluminada pela Cruz de Jesus Cristo. – Dizemos “iluminada”, porque Jesus Cristo crucificado é a explicação de toda a História da Humanidade. Ele é, pois, a luz que nos ilumina e faz entender os enigmas que pontilham a trajetória do Gênero Humano.
Egoísmo e Misericórdia
Pis, a cruz de Jesus Cristo nos fala da rebeldia do homem, cuja insensatez o Sacrifício do Filho de Deus Encarnado veio reparar. A soberba treslouca do primeiro homem levou-o a pretender para si os atributos divinos. Ele seria o senhor, até mesmo da ordem moral. A ninguém obedeceria. Seria o árbitro do bem e do mal. “Sereis como deuses” disse o tentador ao primeiro casal, dominando o bem e o mal”. Este egoísmo delirante deixou uma tara em toda a progênie humana, geradora dos males que afligem os homens e a sociedade. – neste mundo, assim infeccionado, desceu a Misericórdia Divina, com a Incarnação do Filho de Deus. E ficou a História uma mistura de bem e mal. Os males, que nela registramos, ou são pecado ou fruto do pecado. Ou são as penas, que sobre os homens pesam, como castigo do pecado; ou são, em si mesmos, ofensas, conscientes à Majestade de Deus. – Ao lado de tais misérias humanas, há coisas belas, bem ordenadas, tanto na ordem da natureza, como no campo moral. São frutos da Graça, são merecimentos da sacrossanta Paixão e Morte de Jesus Cristo, que veio para reparar a rebeldia humana e salvar as almas.
A Quaresma aviva a Fé nestas verdades fundamentais da História humana.
Penitência e Oração
Por isso, é a Quaresma tempo salutar. Pois, convida-nos à penitência, à mortificação dos sentidos, que satisfaz pelos pecados e fortalece a vontade contra as inclinações más de nossa natureza decaída, e alimenta a esperança, que confia na graça, sem a qual nada se pode fazer.
A Via Sacra
A melhor maneira de aproveitar bem o tempo quaresma, é o exercício consciente e vivificante da “Via Sacra”. Com efeito, este piedoso e tradicional exercício, que nos une a Jesus Cristo, no doloroso caminho, por Ele percorrido, ao seguir para o Calvário, onde seria imolado por nossos pecados.
1. Excita em nós a gratidão, diante do amor, inefavelmente generoso e misteriosamente misericordioso, com que Jesus nos remiu. Es a gratidão é o penhor das graças de Deus, segundo a recomendação do Apóstolo, cheguem nossas petições ao conhecimento de Deus, envoltas na ação de graças (F 2, 4-6).
2. Mostra, ao vivo, a malícia enorme do pecado. Se para repará-lo teve o Filho bem amado do Padre Eterno que sofrer toda crueldade feroz, com que foi tratado na sua paixão, e todas as profundas humilhações a que o submeteu o ódio e a inveja de seus inimigos, é sinal de que realmente a malícia do pecado é algo tão monstruoso que atinge às raias do mistério. Por isso, pergunta o profeta: quem entenderá o pecado (Sal. 18,13)?
3. A malícia do pecado e o inefável amor que Jesus nos demonstra na sua paixão desperta em nós o desejo de repararmos, nós também nossas infidelidades e de cooperarmos com Jesus Cristo na salvação das almas. Daí o benefício da Via Sacra: predispõe-nos a imitar a Jesus Cristo, na sua humildade e nos seus padecimentos. Faz-nos aceitar e mesmo procurar a mortificação dos sentidos, de nossa gula, de nossas comodidades, e sobretudo de nossa vontade que nos torna mais submissos a Deus e aos nossos superiores por amor de Deus.
Assim, com a “Via Sacra”, meditada e vivida, a Quaresma opera a nossa conversão e nos prepara para as puras alegrias da Santa Páscoa.
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