As artes sensibilizam o interior humano, permitindo o reconhecimento do belo. É o belo dentro de cada um.
Não tem sido fácil para muitos o contato com o belo. As mentes andam barulhentas. O ritmo de vida tem sido cada vez mais acelerado, somando-se a isso o grande número de ruídos provocados pela presença de muitos aparelhos sonoros eletrônicos. As pessoas falam mais alto e escutam cada vez menos. Tanta correria! Muitos se sentem invadidos por sensação de desespero, de não dar conta da rítmica intensa da semana, de não ter forças suficientes para alcançar as metas. É adoecedor e preocupante. O estresse, a depressão, a ansiedade e o vazio são sintomas frequentes em minha clínica.
A música possui grandes propriedades terapêuticas e pode muito ajudar a retomada rítmica do equilíbrio. Encontra-se em São João Crisóstomo uma observação psicológica atenta e fundamental ao comentar sobre os efeitos do canto dos Salmos: “Os cantos possuem tão grande atrativo para nossa natureza que secam as lágrimas, acalmam o pranto das crianças de peito, conseguindo adormecê-las. Vedes, de fato, que as babás que as levam nos braços passeiam, embalando-as com cantos infantis, para fazer com que fechem as pálpebras. Também os viajantes que guiam animais sob os ardores de um sol abrasador cantam para suavizar assim as fadigas da viagem. E não somente os viajantes, mas também os agricultores, quando pisam a uva, vindimam ou cultivam a vinha ou se dedicam a qualquer outro trabalho; os marinheiros cantam igualmente enquanto impulsionam seus remos. E as mulheres, quando tecem e separam com a ajuda da lançadeira os fios entremesclados, cantam frequentemente, sozinhas ou todas reunidas em coro. Pois bem, a finalidade a que as mulheres, os viajantes, os vindimadores e os marinheiros se propõem com o canto é a de aliviar seu trabalho, pois a alma, graças a esses cantos, suporta sem queixar-se as mais duras fadigas”. Vê-se, portanto, que a Igreja sempre esteve presente na vida de seu povo, no trabalho, na escuta, na oração.
Na liturgia, a música opera com suas qualidades terapêuticas e científicas, mas, acima de tudo, é oração.
Deve ser diferente da correria do mundo. Ela pode mudar o ritmo do corpo e da alma. O coração encontra na música litúrgica a renovação da fé e da esperança.
Em muitas paróquias no Brasil encontramos, algumas vezes, gestos musicais não muito saudáveis: música acelerada demais, volume muito alto e escolha inadequada de repertório. Tudo isso modifica o ritmo da celebração, podendo deturpar o sentido litúrgico da Eucaristia. Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, Bento XVI esclarece de forma doce e profunda como devemos amar e lidar com a Eucaristia e missão da Igreja: “A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada” (parágrafo 64; propositio 14).
O ritmo da Eucaristia é de amor, de alegria e de vida. É silêncio e oração. É o ritmo dos anjos ou panis angelicus. A Eucaristia é ritmo da paz.
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