Ouve-se que o ritmo de vida anda difícil. A aceleração tomou conta dos seres humanos enquanto a natureza dança sob o ritmo do Criador. A Terra gira num ritmo invariável dentro de um universo que define bem o que é ritmo. A natureza do micro ao macro responde o que é ritmo e vida.
O ser humano tornou-se “surdo” ao próprio ritmo do corpo; o coração bate involuntariamente, mantém o ritmo da vida e a maioria não presta atenção a isso. Não há mais tempo nem mesmo para sentir a vida dentro de si. Medo, violência, ambição, inveja, mentira, corrupção e maldade são ruídos que tomam o lugar da vida nas pessoas onde deveria pulsar o ritmo do amor.
O cristão é alguém que escolhe escutar o ritmo do amor para desenvolvê-lo de modo consciente e ativo. Ritmo é direção. Cristão é aquele cuja direção é a caridade plena, amando ao próximo mais do que a si mesmo.
É o ritmo do Espírito Santo. Murray Schafer escreve no livro O ouvido pensante: “Originalmente, ‘ritmo’ e ‘rio’ estavam etimologicamente relacionados, sugerindo mais o movimento de um trecho do que sua divisão em articulações”. A única certeza que um cristão tem de estar fluindo, caminhando, movimentando-se na direção certa é uma verdadeira vida de oração. Dela depende todo o restante. Dela brota a verdadeira caridade. É por meio da oração que se conquista o “fazer o bem sem olhar a quem”. Gestos caritativos sem vida de oração correm o risco de ser narcísicos: “eu faço; eu sou; eu tenho; eu…”. A verdadeira oração direciona o espírito para o “nós” e o ego não mais se sustenta cedendo ao amor divino. Por isso, orar com o coração e a voz em comunidade é fundamental ao ritmo da Igreja.
Anselm Grün esclarece bem a oração em comunidade no livro Liturgia das horas e Contemplação: “A salmodia comunitária se limita a ‘recitar’ os textos sagrados, para que eles se façam presentes não só na escrita e na letra, mas também ao som da voz da comunidade que reza e para que possam ser absorvidos também pela audição e pelo coração. Mas são justamente o comedimento reverente com o qual isso acontece e a simples uniformidade da execução musical que permitem – e isso é confirmado pela experiência de muitos cantores e ouvintes da salmodia ao longo dos séculos – a criação de uma atmosfera na qual o coração é conduzido a um silêncio atento e receptivo”.
Recitar significa simplicidade. Quem entendeu a mensagem contida no sexto capítulo do Evangelho de Mateus entenderá com facilidade o texto de Anselm Grün acima transcrito. Do contrário, ainda não entendeu muitas coisas e corre grandes riscos de deturpar a mensagem de Jesus.
Santa Teresa de Calcutá disse que “É difícil rezar se você não sabe como rezar, mas devemos nos ajudar a rezar. A primeira coisa a fazer é recorrer ao silêncio. Não podemos nos colocar diretamente na presença de Deus se não praticarmos o silêncio interno e externo. (…) No silêncio encontraremos uma nova energia e a verdadeira unidade”.
O coração manso e humilde solfeja o ritmo do Céu!
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