“Ao egoísmo e à soberba, Edwiges respondeu com a doçura para com os súditos, a mansidão para com os inimigos, o constante desejo de paz, seja nas contendas internacionais como nas rixas da corte.”
Por longo tempo, na Igreja, a mulher foi mantida em estado de inferioridade em relação ao homem, mas, no início do século XII, ela começou a ocupar o justo lugar na consideração social. Assim São Bernardo de Claraval podia dizer: “Não digas mais, ó Adão: a mulher que me deste me ofereceu o fruto proibido; mas, preferivelmente, dize: a mulher que me deste nutriu-me com o fruto bendito”.
Se os teólogos começaram a demonstrar grande respeito para com a mulher é porque ela, e isso se observa na Polônia e na Boêmia, assume uma função não indiferente na administração dos próprios bens, na fundação e na direção de abadias e, por vezes, também na direção da política. Uma destas figuras de mulher forte foi Edviges da Silésia.
A FONTE INSPIRADORA
Edviges nasceu na Alta Baviera em 1174, filha do conde Bertoldo IV de Andechs. Sua família lhe assegurava um lugar de respeito na sociedade, tendo dois irmãos bispos, uma irmã abadessa, uma outra irmã rainha da Hungria (a mãe de Santa Isabel) e uma terceira irmã, Inês, esposa de Filipe II Augusto de França. A fim de bem prepará-la para sua missão, os pais a confiaram desde pequena às beneditinas de Kitzigen. Aí aprendeu o amor à Sagrada Escritura e inflamou-se nela o desejo da santidade.
Conforme o costume de então, Edviges não teve sequer o tempo de crescer e aos 12 anos foi dada como esposa a Henrique I, conhecido como o Barbudo, príncipe da Silésia. Sendo esta uma região economicamente rica em recursos foi sempre objeto de disputa entre a Polônia, a Alemanha e a Boêmia. Naquela época, sua população era quase inteiramente polonesa.
MULHER FORTE E LABORIOSA
A jovem princesa não só não perdeu o ânimo indo morar em uma terra para ela estrangeira, mas quis cercar-se de pessoas do lugar e, pondo de lado qualquer nostalgia por seu país, aprendeu a nova língua quase brincando, tornando-se desde logo simpática para com os próprios súditos.
Amava o príncipe seu marido, mesmo tendo este um caráter de rude guerreiro. Ela não se havia oposto quando lhe deram ele como marido, mas o havia aceitado como um dom de Deus. Do seu Matrimônio nasceram quatro filhos e três filhas, que ela procurou educar cristãmente. Não foi fácil. As lutas, seja internas, seja com outros Estados, levaram à morte seus filhos e a dor maior ela a teve quando dois deles morreram em uma luta fratricida.
Edviges estava convencida de que somente o cristianismo, penetrando a vivência do seu povo, garantiria um futuro de paz para a Silésia. Empenhou-se então de todos os modos junto ao marido para favorecer a fundação de igrejas e mosteiros.
Mesmo salvando as conveniências sociais de sua classe, viveu em uma grande pobreza: empregava para si apenas um por cento das suas rendas, enquanto que todo o restante era usado em benefício dos pobres e na fundação da famosa abadia cisterciense feminina de Trebnitz.
Quando estava em casa, longe dos olhos do público, preferia caminhar de pés nus para poupar o calçado. Repreendida por seu confessor, que via nisso um perigo de escândalo junto ao povo, fez preparar para si um par de meias sem solas, mantidas firmes por duas ligas escondidas sob a planta dos pés, de tal modo que ninguém pudesse perceber que andava descalça.
Mesmo conduzindo uma vida austera era especialmente jovial e a sua companhia era tão agradável que um biógrafo, seu contemporâneo, colocou estas palavras na boca dos jovens da corte: “É melhor comer como mendicante à mesa da soberana do que como príncipes à mesa do soberano”.
Com a morte do marido em 1238, retirou-se para a abadia de Trebnitz, por ela fundada, onde a abadessa era sua filha Gertrudes. Para não interferir na vida interna da abadia, Edviges não quis se tornar monja, mas viveu dentro dos muros do mosteiro como terciária. Quando recebeu a notícia de que também seu filho Henrique II havia morrido em um combate com os tártaros, não só não se deixou abater, mas foi ela quem confortou a nora e a filha.
Morreu a 15 de outubro de 1243 e foi canonizada em 1267. Em curto espaço de tempo, a fama de santidade ultrapassou os confins da Silésia para difundir-se em todos os países vizinhos.
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