22 DE JULHO
(SÉCULO I)
Maria de Magdala não é apresentada no Evangelho como a grande pecadora convertida por Jesus, mas, como a apóstola da ressurreição.
A tradição latina, seguindo a opinião de São Gregório Magno, identificou em uma só pessoa Maria Madalena, Maria de Betânia e a mulher pecadora que na casa de Simão, o fariseu, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos. No Ocidente, só pouquíssimos autores, entre os quais São Bernardo de Claraval, distanciaram-se dessa interpretação. A tradição oriental, ao contrário, sempre entendeu que se tratava de três mulheres diferentes. Os estudos mais recentes concordam com a interpretação dos orientais.
A DISCÍPULA FIEL
Então quem era Maria Madalena? As poucas informações seguras que temos estão nos evangelhos. Maria era de Magdala, pequena cidade da Galileia. Jesus a curou de seus problemas espirituais e ela se tornou discípula, passando a fazer parte daquele grupo de mulheres que o seguiam: “Estavam com ele os doze e algumas mulheres que foram curadas dos espíritos maus e de enfermidades: Maria de Magdala, da qual saíram sete demônios; Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiam com seus bens” (Lc 8,1-3).
As expressões “curadas dos espíritos maus” ou “expulsou sete demônios” não significavam necessariamente que antes aquelas mulheres estivessem endemoniadas, porque na mentalidade daquele tempo qualquer distúrbio físico era atribuído aos espíritos maus que, pensava-se, entravam nas pessoas, tanto mais numerosamente quanto mais grave era a enfermidade. As mulheres das quais falamos certamente foram curadas por Jesus das suas enfermidades e, no caso de Madalena, devia tratar-se de enfermidade grave.
Ao pensarmos no papel secundário reservado à mulher na cultura antiga – e também na judaica –, o comportamento de Jesus, que ao lado dos apóstolos admitiu que o seguisse aquele grupo de mulheres, foi algo certamente inusitado, para não dizer revolucionário.
Considere-se que com elas estava também a mãe do Mestre. Constituía seu arrimo, como aparece também na narrativa da paixão. De outra parte, quem mais do que a mãe poderia compreender as necessidades do filho? Todas as vezes que nos evangelhos se faz menção daquele grupo de discípulas, Madalena é sempre citada primeiro, indicando a estima de que ela gozava na primitiva comunidade cristã.
AOS PÉS DA CRUZ
Ela também seguiu Jesus até Jerusalém e tomou parte ativa nos acontecimentos da paixão e da ressurreição. O Evangelho de Marcos (cf. 15,40-41) faz notar que no lugar da crucifixão “havia algumas mulheres que estavam a observar de longe, entre as quais Maria de Magdala, Maria mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé… e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém”. Elas observavam a distância até que os soldados, terminada a crucifixão, permitiram que se aproximassem. O Evangelho de João (cf. 19,25) nos recorda que naquele extraordinário momento “estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria de Magdala”.
Jesus morto foi sepultado em tempo de não violar o rigoroso repouso sabático, que proibia qualquer trabalho. Madalena e as outras mulheres permaneceram até o fim para ver onde haviam depositado o corpo de Jesus e depois retornaram a Jerusalém. Ao amanhecer do primeiro dia da nova semana, o nosso domingo, Madalena estava à frente do grupo de mulheres que correram ao sepulcro com a mirra e outros perfumes para embalsamar o corpo do Crucificado, segundo os costumes dos hebreus.
A APÓSTOLA
No sepulcro esperavam-nas espanto e surpresa, pois não encontraram o corpo de Jesus. Enquanto as outras tinham ido levar a notícia aos apóstolos, Madalena havia permanecido no local, desconsolada à procura daquele que tanto amava, e houve a aparição do Ressuscitado. Num primeiro momento, ela não o reconheceu e o confundiu com o jardineiro, mas, quando Jesus a chamou pelo nome, seus olhos se abriram e do fundo do coração saiu a exclamação “Mestre!” e se jogou aos pés de Cristo. Certamente ela terá querido permanecer longo tempo com Ele e escutá-lo como nos tempos passados, mas, Jesus lhe disse: “Não me retenhas, pois ainda não subi a meu Pai, mas vai e dize aos meus irmãos que eu subo para meu Pai e vosso Pai, ao meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17). Maria foi correndo anunciar aos apóstolos que o Senhor havia ressuscitado.
Madalena, escolhida por Jesus, tendo-o seguido desde o início da vida pública e tendo-o contemplado ressuscitado, tornava-se, segundo a tradição da Igreja, apóstola.
Quantas vezes, ao longo da história, mulheres escolhidas pelo Senhor repetiram com seu amor a história de Madalena! Santas, profetisas, carismáticas levaram a todo o povo cristão, incluídos os sucessores dos apóstolos, o anúncio do Ressuscitado, fazendo cada vez mais reflorescer na Igreja uma nova primavera.
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