No dia 1º de novembro, a Igreja celebra a Solenidade de Todos os Santos. É um dia para recordar a história de tantos santos e santas que, ao longo dos séculos, seguiram o caminho de Jesus e foram reconhecidos pela prática do Evangelho. Também uma ocasião para que os cristãos, em diferentes condições de vida, compreendam melhor o que é a santidade.
Atitudes simples e cotidianas de generosidade e atenção com o próximo podem ser o segredo da santidade, unidas a uma espiritualidade vivida de forma integral e em comunidade.
É importante lembrar que santidade não é um privilégio concedido àqueles que seguem a vocação religiosa consagrada ou sacerdotal, mas todos, independente da condição em que vivem, podem ter uma vida santa reconhecida pela Igreja.
Lembremo-nos de exemplos como São Francisco de Assis, Santa Teresa de Calcutá, e Santa Teresinha do Menino Jesus, mas também de outros como a Serva de Deus Isabel Cristina Mrad ou a Beata Albertina Berkenbrock, jovens que viveram em terras brasileiras e cuja santidade está sendo analisada pela Santa Sé, num caminho que se chama processo de canonização.
BRASIL: TERRA DE SANTOS
A Beata Albertina Berkenbrock e a Serva de Deus Isabel Cristina Cristina Mrad Campos têm aspectos em comum em suas histórias de vida. Ambas tinham grande atenção para com as pessoas próximas, demonstrando, assim, atitudes de intensa caridade cristã. Padre Ezequiel Ramin, missionário comboniano, morreu assassinado aos 32 anos, em 24 de julho de 1985, em Cacoal, Rondônia. A rogatória diocesana para a causa de sua beatificação foi concluída em março de 2017. O Beato Mariano de La Mata Aparício marcou a Arquidiocese de São Paulo (SP) por seu exemplo de cuidado e sensibilidade, sobretudo pelos doentes.
UMA JOVEM APAIXONADA POR DEUS
Albertina Berkenbrock foi beatificada no dia 20 de outubro de 2007 em frente à Catedral Diocesana de Tubarão (SC). A Missa foi presidida pelo prefeito emérito da Congregação para a Causa dos Santos, Cardeal José Saraiva Martins. Albertina nasceu em 11 de abril de 1919, na cidade de Imaruí (SC). Filha de um casal de agricultores, Henrique e Josefina Berkenbrock, teve oito irmãos. Foi batizada em 25 de maio de 1919 e recebeu o Sacramento da Crisma em 9 de março de 1925.
Aos 12 anos, em 15 de junho de 1931, Albertina foi assassinada ao defender-se de uma tentativa de estupro. O assassino, Idalício Cipriano Martins, que era empregado da família, degola a menina após ela não ceder diante das inúmeras tentativas.
O martírio e a consequente fama de santidade espalharam-se rapidamente porque ela era uma menina de grande sensibilidade para com Deus e para com as pessoas próximas. Sempre chamou atenção de todos na comunidade não somente por frequentar constantemente os sacramentos, mas, sobretudo, pela sua forma simples de expressar-se sobre o mistério eucarístico como experiência do amor de Deus. Mesmo sendo muito jovem, todos os que conviviam com ela reconheceram a sua vocação para a santidade.
PROTETORA DOS UNIVERSITÁRIOS
O motivo da morte da Beata Isabel Cristina foi o mesmo de Albertina. A menina nasceu em 29 de julho de 1962 em Barbacena (MG) e foi brutalmente assassinada em 1º de setembro de 1982, aos 20 anos, por um montador de móveis na cidade de Juiz de Fora (MG). O assassino teria dado treze facadas na jovem em sinal de revolta por não ter conseguido consumar o estupro.
Isabel estudava, namorava e participava de movimentos da Igreja, como a Sociedade São Vicente de Paulo. Sonhava em ser pediatra para cuidar de crianças carentes e, por isso, mudou-se para Juiz de Fora a fim de prestar vestibular para a faculdade de Medicina.
Em setembro de 1982 um homem foi ao seu apartamento para montar um guarda-roupas e tentou violentá-la. Isabel foi agredida com uma cadeira, amordaçada, amarrada e esfaqueada, mas, impediu o homem de consumar o estupro. Em 26 de janeiro de 2001, seu processo de beatificação foi instaurado e a Santa Sé conferiu a ela o título de Serva de Deus. Em agosto de 2009, seus restos mortais foram levados para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena.
Considerada protetora dos universitários, a beatificação de Isabel Cristina aconteceu no dia 10 de dezembro de 2022 e sua festa litúrgica é celebrada a cada 1º de setembro.
VIDA MISSIONÁRIA
Ezequiel nasceu em Pádua (Padova), Itália, em 1953. Ainda jovem, decidiu ser missionário. Foi ordenado sacerdote em 1980 e, aos 30 anos, enviado ao Brasil. Desejava viver uma experiência de fronteira. Em abril de 1983, antes de chegar a nosso país, compartilhou: “Ainda não sei aonde irei, porém, estou contente com o fato de partir. É uma coisa mais forte do que eu”.
Ao chegar a Cacoal, encontrou comunidades consolidadas e lideranças que eram formadas e viu-se no meio de conflitos de terra constantes naquela região. No dia 24 de julho de 1985, Padre Ezequiel Ramin, aos 32 anos, foi brutalmente assassinado quando voltava de uma missão de paz na qual havia visitado posseiros na Fazenda Catuva para pedir-lhes que se retirassem, pois, corriam perigo. Foi pego de surpresa e morto com mais de cinquenta tiros de espingarda. Ficou caído na estrada a uns cinquenta metros da traseira do carro.
“Sigo a estrada do missionário, não porque eu tenha escolhido Deus, mas, porque Deus me busca e continuamente me pede para segui-lo”, escreveu Ezequiel a um amigo quando decidiu ingressar na Congregação dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus e foi estudar em Florença, na Itália, antes de vir para o Brasil como missionário. O processo para reconhecer a santidade e o martírio do Padre Ezequiel foi aberto pela Diocese de Ji-Paraná (RO).
CUIDADO E SENSIBILIDADE
O Beato Mariano de La Mata Aparício testemunha a fé cristã e mostra que a santidade é para ser vivida por todos em diferentes épocas. Beatificado no dia 5 de novembro de 2006 na Catedral da Sé, em São Paulo (SP), durante celebração presidida pelo representante do Vaticano, o Cardeal José Saraiva Martins, o Beato Mariano de La Mata morreu na capital paulista e tem seus restos mortais sepultados na Paróquia Santo Agostinho, na Vila Mariana, onde atuou até a sua morte, em 5 de abril de 1983.
“O Padre Mariano foi pobre com os pobres, humilde com os humildes e atento aos enfermos e anciãos, solícito com os alunos, os paroquianos e com os associados das Oficinas de Santa Rita, misericordioso com os penitentes, puro de coração, pacífico na comunidade dos religiosos agostinianos e na respectiva família, superando as dificuldades com a oração e o sacrifício”, disse o Cardeal José Saraiva Martins durante a solenidade de beatificação à época.
Mariano nasceu em Palência, na Espanha, no dia 31 de dezembro de 1905. Cresceu num ambiente cristão e foi incentivado a ingressar na Ordem dos Agostinianos Recoletos também pelo fato de ter outros três irmãos que a tinham abraçado. Sua história ficou marcada por sua sensibilidade e cuidado com todos os seres. Conta-se que mantinha um jardim no colégio do qual cuidava diariamente e para onde ia nos momentos de meditação e descanso.
O QUE É UM PROCESSO DE CANONIZAÇÃO?
Canonização é o processo feito pela Igreja para reconhecer que uma pessoa viveu a fé de modo heroico, podendo ser considerada e reconhecida como santa, com culto público universal. Assim, após o término do processo, o nome da pessoa é inscrito no cânon, ou seja, na lista oficial da Igreja, por isso se chama canonização.
Qualquer fiel batizado pode ser santo e o processo começa após a morte, sobretudo quando a pessoa já tem fama de santidade, ou seja, as pessoas que conviviam com aquele fiel reconhecem que ele vivia de forma diferente dos demais valores do Evangelho. O bispo local escolhe então um postulador, o responsável por recolher documentos e testemunhos que podem ser úteis para verificar essa fama de santidade. Se autorizado pelo Vaticano, a pessoa já é reconhecida como serva de Deus A partir de então, começa a investigação sobre as virtudes que, se reconhecidas, dão à pessoa o título de venerável, ou seja, digna de veneração. A seguir, vem a beatificação, para a qual se exige a apresentação de um milagre alcançado pela intercessão do(a) venerável. Caso a pessoa tenha sido martirizada, o milagre não é exigido. Com o reconhecimento do milagre ou do martírio, a pessoa é considerada beata, ou seja, é feliz junto a Deus.
O último processo é o reconhecimento de mais um milagre alcançado pela intercessão do(a) beato(a) para que o Papa declare a pessoa como santa e a coloque como modelo para todos os fiéis. Então, acontece a canonização, ou seja, a inscrição do nome do santo(a) na lista oficial da Igreja.
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