“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.”
Com estas palavras, o autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos nos faz entrever com que respeito se aproximava da Palavra de Deus. Ele não pretendia absolutamente promover sua pessoa e por isso não dizia nada de si, nem mesmo o nome: considerava-se simplesmente um ministro a serviço da mesma Palavra e desejava transmiti-la com fidelidade absoluta a todos aqueles que, como ele, não tinham conhecido Jesus pessoalmente, mas haviam feito experiência dele na fé, dentro da comunidade cristã. De sua parte, a Igreja, acolhendo estes escritos entre os livros sagrados, reconheceu nele um homem inspirado por Deus.
Pensa-se com sério fundamento que Lucas era médico ou, pelo menos, um homem de boa cultura, pelo modo que fala das doenças e dos enfermos no Evangelho. Conhecia muito bem a língua grega e a versão bíblica dos Setenta, ao passo que não parecia conhecer igualmente bem a língua e as tradições hebraicas.
O evangelista provinha de uma comunidade cristã do mundo helênico e precisamente devido a esse ambiente, para confirmar a fé dos cristãos vindos do paganismo, escreveu “um relato ordenado” da vida e dos ensinamentos de Jesus até sua ressurreição e glorificação, e, além do mais, com os Atos dos Apóstolos dá também a difusão do reino de Deus no mundo mediterrâneo.
Em seu trabalho, serviu-se, como ele mesmo atesta, de todas as fontes escritas e orais que já circulavam nas comunidades cristãs, compondo-as em unidade. Seguiu a ordem do evangelho de Marcos, porém enriqueceu-o enormemente.
Características de Lucas
Algumas características do seu evangelho o tornaram muito atraente.
Antes de tudo, ele dá ênfase ao amor misericordioso de Deus para com a humanidade, principalmente para com os pecadores, como os publicanos e as prostitutas, e aqueles que não têm com que se alimentar nem se vestir, como o pobre Lázaro. A esse respeito são célebres as parábolas do filho pródigo e a do rico Epulão.
Pode-se dizer também que Lucas possuía um eminente sentido social. Estava muito interessado em um novo tipo de sociedade, baseada no amor fraterno, até o compartilhamento dos bens, como se pode ver na parábola do bom samaritano e na descrição da primeira comunidade de Jerusalém.
Para ele, quem desejava fazer parte da comunidade cristã devia assumir livremente o empenho de renegar a si mesmo e o velho estilo de vida, desapegando-se dos próprios bens e dispondo-se a tomar todos os dias sobre si a própria cruz, para seguir desimpedidamente as pegadas do Mestre.
Protetor dos médicos e pintores
Os médicos o escolheram como patrono, mas também os pintores o quiseram como seu protetor, porque, segundo a lenda, ele teria pintado por primeiro o retrato de Nossa Senhora. Embora seja difícil demonstrar historicamente que tenha sido um artista do pincel, não se pode negar que ele, com a sua pena, nos deixou a imagem mais perfeita da mãe de Jesus.
São Lucas, segundo antigos testemunhos, morreu na Beócia e foi sepultado em Tebas. Daí, como refere São Jerônimo, seus ossos foram transportados para Constantinopla, para a Basílica dos Santos Apóstolos. Posteriormente, constando de fontes que pesquisas históricas estão explorando, foram transferidos para Pádua.
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