BISPO E MÁRTIR
(C. 50-110/15)
Nos primeiros séculos, o martírio era a aspiração dos cristãos mais fervorosos, porque permitia a imitação perfeita do Mestre e a entrada na plenitude da vida. Ser cristão significava testemunhar Cristo crucificado e ressuscitado e a palavra grega “martyrio” quer dizer precisamente testemunho.
O martírio não devia ser provocado, mas, quando era infligido, aceitava-se como um dom do Céu. Inácio, temendo que os cristãos de Roma pudessem interceder para poupar-lhe a vida, antecipou-se, escrevendo-lhes uma carta comovente a fim de que não lhe fizessem perder uma ocasião tão preciosa: “Para mim, pedi vós somente a força interior e exterior de ser cristão não só com a boca, mas com o coração; não só de nome, mas também de fato. Porque somente se for reconhecidamente cristão (com os fatos), poderei ser chamado tal e ser reconhecido fiel quando desaparecer deste mundo”.
Pouco sabemos da vida de Inácio. Nasceu por volta dos anos 50 e morreu entre os anos 110 e 115. São João Crisóstomo, confirmado também por São Jerônimo, diz que “teve relações com os apóstolos”. A informação é reforçada por sua fidelidade ao ensinamento apostólico e por sua luta contra as heresias que já então pululavam no Oriente.
Acredita-se que tenha sido o terceiro bispo de Antioquia, depois de São Pedro e Evódio. Era muito estimado em toda a Ásia Menor. Quando se espalhou a notícia da sua condenação e ele empreendeu a viagem para Roma escoltado por nada menos que dez guardas, as igrejas enviaram seus bispos com uma representação das respectivas comunidades em toda cidade em que o navio ancorava. Todos queriam dar o último adeus ao homem apostólico e ouvir suas últimas palavras.
Inácio não deixou de manter as esperanças. Aproveitava-se de toda parada para exortar as igrejas a se manterem firmes na tradição apostólica e, para que a sua voz pudesse chegar não somente aos presentes, mas a todas as comunidades por eles representadas, registrava por escrito suas palavras.
Em Esmirna, encontrou a comunidade do lugar com seu bispo, Policarpo. Os dois se compreendiam perfeitamente e Inácio, depois de haver falado a essa Igreja, escreveu – como nos informa Eusébio – “uma carta à Igreja de Éfeso, da qual recorda o bispo Onésimo; uma à Igreja de Magnésia sobre o Meandro, onde faz menção do bispo Dama; e uma outra à Igreja de Trali, da qual nos informa que o bispo era Políbio. Ele próprio pôde entregar as cartas aos respectivos bispos vindos para saudá-lo”.
“Além de ter escrito para essas comunidades”, continua Eusébio, “escreveu também para a Igreja de Roma, para implorar-lhe que não o privasse, com inoportunas intercessões, do martírio, seu desejo e sua esperança… Tendo partido de Esmirna, foi para Trôade e de lá expediu novas cartas: aos filadelfos, à Igreja de Esmirna e uma em particular ao Bispo Policarpo, ao qual, conhecendo-o por homem inteiramente apostólico, como verdadeiro e bom pastor confia o seu rebanho de Antioquia, garantindo que teria com ele desvelo especial”.
As etapas subsequentes afastaram-no cada vez mais da Ásia. Foi conduzido a Neápolis, na Macedônia, depois a Filipos e a Durazzo e daí chegou à Itália pelo porto de Brindisi. Percorrendo a via Ápia, chegou a Roma.
João obteve tanto sucesso na escola que, aos 18 anos, concluiu os estudos clássicos. Contrariando as expectativas maternas, em vez de se preparar para o batismo, entregou-se aos afãs do mundo e às quimeras da juventude, desabafando com os pronunciamentos no fórum e a paixão pelo teatro. Não cometia erros graves, mas desejava exibir suas habilidades na arte oratória e experimentar a embriaguez da liberdade juvenil. Assim agiu por dois anos.
Sua mãe aguardava com paciência. No entanto, quando João decidiu receber o batismo, aos 20 anos, comunicou à sua mãe que levava a sério sua decisão de se tornar cristão. Por isso, pretendia ser monge, abandonando o mundo e recolhendo-se à solidão.
Foi prontamente aceito para o batismo, recebendo do bispo Melécio o sinal do cristão, na Páscoa do ano 368. Quanto a ser monge, seguiu esse caminho apenas em parte. Sua mãe o fez perceber que os rigores da vida ascética e eremítica não eram adequados para seu físico delicado. Ele permaneceria em casa, vivendo como asceta ao seu lado.
João não estava plenamente convencido, mas aceitou que não deveria contrariar sua mãe. Ficou na cidade, porém, não de braços cruzados.
Em Antioquia, havia um renomado ascetério liderado pelo mestre Diodoro, um homem santo e versado nas Escrituras. O ascetério era simultaneamente um mosteiro, seminário, centro de estudos e um local de propagação do evangelho. João frequentava-o assiduamente e sentia-se perfeitamente à vontade lá, pois ao aprendizado da Sagrada Escritura juntava-se a prática de uma vida evangélica.
Quando o bispo Melécio reconheceu o valor desse jovem asceta, conhecedor da doutrina e exemplar nos costumes, propôs-lhe que se ordenasse padre para auxiliá-lo.
O ideal de João não era o sacerdócio e, com certa astúcia, sugeriu em seu lugar um amigo, Basílio, que julgava mais digno. A sugestão foi aceita. Porém, pouco tempo depois, o bispo insistiu para que João aceitasse ser ordenado ao menos como leitor e se dedicasse à instrução dos cristãos e dos catecúmenos.
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