Estudei e continuo estudando sobre adolescentes e os métodos de atingi-los. Nós da catequese – via de regra – cometemos um erro básico: queremos engajar os que receberam o sacramento da confirmação, após ele ter acontecido. Creio que o RICA está corrigindo isso.
O erro está em que não se engaja na comunidade eclesial os que receberam os sacramentos: se recebe o sacramento porque se está engajado e integrado nela. Percebi isso há muitos anos e depois confirmei isso com pesquisa empírica e com pesquisa bibliográfica teológica. Teologia pastoral é um ramo da Teologia que quer ser prático e por isso mesmo é sempre mal-entendida ou desprezada. Mas ela nos ajuda a checar e revisar nossas “opiniões” e nossos “chutes” (na verdade nossos preconceitos e meias-verdades).
Vejo com grande alegria que o RICA só me dá razão: é preciso confirmar quem já está e não chamar um monte de gente que ainda nem é e nem quer ser católico para DEPOIS do sacramento acontecer você sair correndo atrás TENTANDO colocar eles em algo da comunidade. Isso se parece muito menos com uma pastoral e mais com um curativo mal feito. Mas o que fazer, você vai me perguntar?
Com a realidade interconectada como vai as coisas ficaram um pouco diferentes, mas o essencial é que se precisa que a comunidade já tenha arrumado um lugar para os jovens atuar e que eles queiram atuar aí. Que eles já estejam integrados à comunidade e ao seu processo catequético porque a recepção do sacramento é a finalização da Graça na vida que já existe (o sacramento da recepção completa do Espírito Santo se chama CONFIRMAÇÃO e não INICIAÇÃO). Portanto, o engajamento é suposto e não optativo. Se confirma os engajados e não se engaja os confirmados – como se faz em muitos lugares ainda.
Tendo em vista essas coisas, o engajamento é o passo inicial e não o último a ser dado. É preciso combinar com pais, jovens e comunidade paroquial quais serão as responsabilidades e atividades dos catequizandos para que eles sejam confirmados no final do processo. Muito manual de catequese crismal deixava ou deixa essa conversa para o último encontro, mas ela tem que se dar no primeiro. Isso posto, as atividades caritativas, litúrgicas, recreativas e comunitárias se tornam parte integrante de um processo evangelizador que precisa levar em conta os gostos e as opções dos jovens em processo de catequese. Catequese não pode ser só falação, tem que ser ação também. Ações caritativas e pastorais que não só mostrem aos crismandos o que se espera deles após a recepção do sacramento. Ações que integrem os crismandos com a comunidade que eles vão entrar.
A catequese precisa se inspirar na leitura e na espiritualidade bíblica para partir para ações que não só monitorem os adolescentes/crismandos mas os ajudem a ver coisas que a sociedade não mostra (pior, que esconde!). É preciso ajudar os crismandos a sair de si mesmos e ver realidades que eles não enxergam: leva-los às periferias, as geográficas e as existenciais, desenvolvendo a empatia que falta a tantos brasileiros hoje.
Na adolescência, todo adolescente está ensimesmado (voltado para si e para seus problemas). Ajuda-los a ver outras realidades humanas, além de ser uma ótima fonte de atividade e de integração com grupos da comunidade (vicentinos e outros grupos ) faz com que eles vão amadurecendo a partir de dentro. A compaixão – sentimento bíblico essencial a qualquer cristão – é fonte de crescimento humano.
O engajamento a partir das realidades da pobreza humana e existencial deve ser feito com monitoramento de grupos paroquias, o que faz também que a comunidade se engaje na evangelização dos crismandos. Uma comunidade que não integra casais, grupos de jovens, vicentinos, apostolado de oração, grupos de partilha bíblica com a catequese de crisma vai ter dois problemas sérios:
Vai dar a impressão de que não há trabalhos e lugares precisando de gente nova que possa ser acolhida e seja bem-vinda;
Que ser cristão não tem a ver com compaixão, com ajuda solidária e que basta você ir à missa que tudo se resolve (ser cristão é mais do que se reunir para rezar, não é?)
Uma comunidade cristã precisa apoiar e ir recebendo os crismandos de forma que – ao final da catequese – eles se sintam parte e já tenham achado onde gostam mais de ajudar e de atuar na comunidade paroquial. Sem esse esforço de engajamento e de acolhida dos novos, o fracasso da catequese já está determinado desde o primeiro dia. O engajamento se faz necessário estar no planejamento desde o primeiro dia e requer esforço conjunto de acolhida dos crismandos por parte do padre, dos diáconos, dos grupos da comunidade/paróquia, dos catequistas e deles mesmos. Recomendo que sem esse esforço comunitário – a catequese de crisma nem aconteça, porque já fracassou antes de começar. E não se esqueça: se crisma os engajados e não o contrário, esse princípio está na Igreja desde os primeiros séculos e tem uma razão de ser fundamental.
Por Pe. Paulo Dalla Dea (via Catequese do Brasil
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