Orientações:
Colocar a Cruz em lugar de destaque. Se possível também o Círio Pascal.
Ler a estória e o texto bíblico indicado abaixo.
O PINTASSILGO E AS RÃS
Rubem Alves
Num lugar muito longe daqui, havia um poço fundo, abandonado e escuro que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para quê. Lá dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele lugar era um local bom de se viver, protegido, úmido, gostoso. De um pulo caíram lá dentro. Só que não perceberam que pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda se lembravam da beleza do mundo de fora e morriam de saudades. Contavam estórias para seus filhos e netos.
– Quando eu era jovem, e ainda não tinha caído neste buraco.. Era assim que sempre começavam. A princípio, a meninada parava para ouvir e gostava. “Estórias da carochinha”, eles diziam. O fato é que nunca haviam estado do lado de fora, e pensavam que as tais estórias não passavam de invenções de seus avós já caducos. O tempo passou, os velhos morreram, e até mesmo as estórias foram esquecidas. As novas gerações foram educadas segundo novos princípios pedagógicos, currículos adequados à realidade, o que importa é passar no vestibular, e acabaram por acreditar que o seu buraco era tudo o que existe no universo. Isto era científico, resultado da rigorosa análise material do seu mundo. O real era um cilindro oco e profundo, onde a água, a terra e o ar se combinavam para formar tudo o que existia. As rãzinhas aprendiam que o seu era o melhor dos mundos e, na escola, aprendiam a recitar:
“Rãzinha, não verás buraco algum como este
Ama, com orgulho o buraco em que nascestes…”
A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça…
Se o buraco não era tão bom quanto cantava a poesia (assim diziam os ideólogos da revolução), era porque ele estava dominado pelas rãs fortes…
Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o vôo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas mais perplexas ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença do pintassilgo punha em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso acreditar que existe um “lá fora”. Mas as rãs sabiam que um “lá fora” não existia, pois os limites do seu buraco eram os limites do universo.
O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente. Queria ajudar as pobres rãs… Trinou flores, campos verdes, riachos cristalinos, lagoas, insetos de todos os tipos, sapos de outras raças e outros coaxares, bichos os mais variados, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens.
As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço. Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.
– Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele… Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominando aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido…
As outras fecharam a cara e coaxaram mais grosso ainda. Não acreditavam…
O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas… Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.
– Este bicho é um grande enganador, eles diziam. Sabemos que estas coisas não existem. Aprendemos em nossas escolas..
O rei reuniu seus generais e ponderou que as idéias do pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam perdendo o interesse pelo trabalho. Produziam menos. Com isto havia menos recursos para as despesas do Estado, especialmente uma ferrovia que se pretendia construir, ligando um lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas de oposição…
Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.
As rãs intelectuais, por sua vez, se puseram a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo. O seu relatório foi longo. Nele concluíram que:
-de um ponto de vista filosófico, faltava rigor ao discurso do pássaro, pois ele mais se aproximava da poesia que da ciência;
-de um ponto de vista ideológico, tratava-se de um discurso alienado, no qual não se fazia nem mesmo uma análise crítica das condições objetivas da sociedade ranal;
-de um ponto de vista psicanalítico, era óbvio que o pintassilgo sofria de perigosas alucinações que, dado o seu conteúdo, poderiam se transformar num fenômeno de massas.
Observaram, finalmente, que dadas as evidências, o pintassilgo se constituía num grave perigo tanto para a cultura como para as instituições do mundo das rãs. E com isto pediam das pessoas de boa vontade e responsabilidade as providências devidas para erradicar o mal.
O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda pois, para além de suas discordâncias conjunturais, estava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranquilidade da família ranal.
Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e exposto no Museu de História.
Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara.
Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:
– Que é aquilo, professora?
– É um pintassilgo, ela respondeu.
– E que coisas estranhas são aquelas nas suas costas?, ele perguntou.
– São asas…
– E para que servem?. ele insistiu.
– Para voar…
– E nós voamos?
– Não, respondeu a professora. Nós não voamos. Nós pulamos…
– E não seria melhor voar?
A professora compreendeu então, com um discreto sorriso, que um pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.
(R. Alves. Estórias de Bichos. São Paulo, Loyola, 1989, pp.28-32)
Refletindo
A catequista comenta a história e o sentido da ressurreição de Jesus. Verificar em que essa estória se parece com a história de Jesus Cristo. Será que a sociedade de hoje também é parecida com o poço das rãs? Como reagiu a sociedade das rãs à realidade cantada pelo pintassilgo? Como reagiu e reage a sociedade atual à mensagem de Jesus Cristo?
Em pequenos grupos: Fazer um cartaz com as situações de morte na sociedade atual e as situações de vida.
Celebrando nosso encontro: Diante do que foi refletido sobre a morte e ressurreição de Jesus, vamos rezar sobre a Cruz de Jesus, símbolo de nossa salvação e sobre o Círio Pascal(vela), símbolo do Cristo vivo, presente no meio de nós. (Uma pessoa de cada grupo coloca o cartaz com as situações de morte e vida em nosso cotidiano, no centro do grupo. Uma outra pessoa traz uma cruz e a coloca em cima do cartaz; outra pessoa traz o Círio Pascal ou uma vela e coloca perto da cruz).
Canto: Prova de amor
Cada um diz a frase que
Concluir com o canto “Eu vim para que todos tenham vida”.
Leitura – Jo 20, 1-9
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