O mundo enfrenta, atualmente, uma de suas piores crises humanitárias. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), se todas as pessoas que necessitam de ajudas humanitárias emergenciais se juntassem em uma nação, essa seria a quinta nação mais populosa do planeta, com perto de 235 milhões de habitantes. A Organização das Nações Unidas também destaca, entre as principais causas da extrema pobreza que atinge 736 milhões de pessoas, diversos tipos de conflitos.
Nesses conflitos, em geral, de cunho político, econômico, étnico e religioso, comumente as elites locais, associadas a interesses de grandes nações e corporações internacionais, buscam apropriar-se dos poderes do Estado, impor-se midiática e militarmente, tirar proveito de recursos públicos e naturais e beneficiar seus negócios. Embora os setores sociais e econômicos mais frágeis sofram as piores consequências desses conflitos, todos perdem.
Conflitos assim, além de gerarem mortes e miséria, destroem culturas e o potencial de fraternidade entre povos e nações. Conflitos nunca são benéficos; como solucioná-los senão sanando suas causas, por meio do diálogo civilizado, fundado nos valores de fraternidade, justiça, liberdade, corresponsabilidade? Como, pois, exercer o diálogo no Brasil atual, com esses critérios, neste tempo de grandes tensões que afetam nossa vida cotidiana?
Consideremos, por exemplo, que o grande número de mortos pela covid-19 podia ter sido evitado se, desde o início dessa pandemia, cidadãos, instituições e gestores públicos tivessem agido unificadamente, de modo mais corresponsável. Mortes podem ainda ser contidas. No entanto, prevalecem autoritarismos políticos e estímulos a polarizações e divisões na sociedade, que sufocam clamores populares em defesa da saúde pública.
Quais outras situações conflituosas, de grande magnitude, afetam-nos? Desigualdades econômicas extremas, racismo e intolerância a modos de vida, a religiões e a visões políticas diferentes. Divididos somos facilmente dominados e explorados. Desunida, nossa nação continua sendo saqueada. Vale, pois, enfatizar a afirmação de Cristo: “Todo reino dividido ficará em ruínas; toda cidade ou casa dividida não se sustentará” (Mt 12,25).
Como acabar com o que nos divide e construir uma convivência social pacífica e justa? O que a Igreja nos propõe, por meio da Campanha da Fraternidade deste ano, é simples e fundamental: derrubar os muros da inimizade por meio de nossa comunhão em Cristo, fonte de paz. Na perspectiva bíblica, a paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17), construída pelo diálogo amoroso que une corações e unifica ações em prol de um projeto comum de sociedade.
Rejeitemos, portanto, tudo o que divide o próprio corpo de Cristo, a Igreja. Testemunhemos o amor fraterno de forma inquestionável, pois assim seremos reconhecidos como discípulos de Jesus (cf. Jo 13,35). Sejamos solidários, especialmente com os que necessitam de ajuda emergencial para sobreviver. Unamo-nos contra todo tipo de dominação e violência. Almejemos, enfim, ser “perfeitos na unidade” (Jo 17,23) para salvar a humanidade.
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