O processo catequético empreendido no Brasil e em todo o continente latino americano desde o início do século passado, possui características bastante peculiares no tocante à metodologia e caminhos percorridos ao longo do processo.
A catequese é o lugar da experiência de fé e amor, vividos por todos os envolvidos nessa “trama” de fios de seda, tão bem desenhados e delicados, entrelaçados pela troca de desejos, conhecimentos, histórias de vida, caminhos que conduzem ao amadurecimento e educação da fé. Fé que é dom e adesão a Jesus Cristo!
Catequizar é justamente aprofundar essa adesão, iluminando a pessoa de Jesus Cristo, seus gestos, suas palavras, seu modo como acolhia as pessoas e como evangelizava seus discípulos. A pedagogia de Jesus é a inspiração para o processo de educação da fé; e voltar o olhar para a caminhada catequética do nosso continente é importante para se perceber os desejos de retorno à fonte inspiradora- Cristo Jesus! Quantos desafios enfrentados e também quantas oportunidades de novas escolhas que possibilitaram a retomada do Método de Jesus.
O que muito nos impressiona em Jesus é sua fidelidade à missão que recebera do Pai. Veio ao mundo para fazer a vontade do Pai e, mesmo diante da crise de fé de alguns discípulos, mesmo vendo que muitos deixavam de segui-lo, Jesus permanece firme e desafia seus Apóstolos: “vocês também querem ir embora?” ( Jo 6, 67) Não se impressiona com a falta de fé, não se impressiona com o escândalo que seu ensinamento promove no meio do grupo. Nem mesmo suaviza seu ensinamento aos Apóstolos e aos discípulos que ficaram; ao contrário, confirma que ele é o Pão vivo descido do céu e que sua carne e seu sangue são realmente comida e bebida. Se isso escandalizava, dizia Jesus, o que dizer do grande escândalo da Cruz, o caminho necessário para ele subir até o Pai? (Jo 6, 62). Diferentemente de nós, que a todo o momento medimos nossas audiências para avaliar se estamos ou não agradando, Jesus mede a presença dos discípulos pela fidelidade ao que ensina. Aqueles que ficaram, muito possivelmente, não entenderam muita coisa, mas creram e por isso continuaram com Jesus.
Jesus é o paradigma de catequista que escolhe, chama, seduz, caminha, ensina e envia à missão. O Mestre diferenciado que educa para um novo modo de amar: “Não há maior amor que dar a vida pelo irmão”. É o mestre que “aponta saída e cura as feridas”. Catequizar ao modo do Mestre Jesus é despertar no catequizando o olhar para as pegadas de Deus nos fatos, na Sagrada Escritura, na pessoa humana e na liberdade. Seguindo os passos d´Ele, o catequista é aquele que ajuda seus catequizandos a lidar com as dificuldades da vida, que caminha junto e faz junto com os seus interlocutores, numa sincera e verdadeira troca de experiência.
O Evangelho de João conta-nos as características próprias da vocação dos primeiros discípulos e como eles iniciam seu itinerário de fé descobrindo o mistério de Jesus e gradualmente vão conhecendo e aderindo a Ele. A iniciativa parte do mestre que interpela e chama a viver a fé: “Vinde e Vede!”( Jo 1,39) Jesus deseja que o sigamos e que sejamos seus discípulos.
Nesse sentido, o texto de João é modelo de como a vida de Jesus marcou os primeiros discípulos e as comunidades formadas a partir dessa experiência. A identidade dessas comunidades foi se firmando pelo desejo de propagar a Mensagem de Jesus de Nazaré e pela educação da fé ensinada por Ele.
A catequese tem essa tarefa: o agir e prática de educar a fé e a Igreja zela com especial cuidado por ela. A Igreja orienta a volta à fonte que é a Palavra de Deus em Jesus Cristo, à sensibilidade à dimensão humana, à experiência pessoal, comunitária e existencial ao serviço, com um novo jeito de ser Igreja: a catequese tem a missão de aprofundar a vivência da comunidade, suscitando e educando discípulos missionários para o seguimento autêntico de Jesus Cristo.
No contexto histórico que o ser humano vive, educa-se, cria culturas e, expressa o amor a Deus na experiência da Mensagem de Jesus. A V Conferência Episcopal Latino americana e caribenha de Aparecida refletiu-se sobre o espírito renovador da Igreja e que ela encontra-se em momento de recepção pelas Igrejas particulares. Seu “agir” depende da abertura à ação do Espírito aos “novos sinais dos tempos”, e uma resposta corajosa e ativa à tarefa de educação da fé.
Que todos nós catequistas percebamos que a catequese deve unir serviço/ministério e prazer nas pegadas de Jesus de Nazaré. Assim, alimentaremos sempre a mística de nossa vocação através da alegria dessa missão e ser sinal visível da presença de Deus na vida da comunidade e para todas as pessoas.
Texto escrito por Rita de Cássia Rezende, Coordenadora da Comissão para Animação Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Pouso Alegre-MG e co-autora do Livro “O processo de formação da identidade cristã” (Ed. Paulus).
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