No santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida, onde estou agora em missão por ocasião da beatificação do Padre Donizetti, em 2019 foi construída uma capela em sua homenagem. Diariamente somos surpreendidos por testemunhos de graças alcançadas pelos muitos peregrinos que passam por nossa terra. No mês passado, meu coração foi muito tocado por ouvir uma pessoa que participou de um dos fatos mais conhecidos pelos devotos, o “milagre da corrente”.
Depois da Missa, veio ao meu encontro um homem da cidade de Santo Antônio da Alegria (SP) chamado Deolindo Xavier Honório, 88 anos, acompanhado de sua esposa, a italiana Liberata, do filho caçula, Eduardo, e da nora, Alessandra. Coloquei cadeiras perto do altar e chamei o jornalista Francisco Donizetti Sartori, que faz parte de nossa comunidade, para escrever as palavras daquele senhor: “Em 1954, eu tinha 21 anos. Vim aqui para Tambaú [SP] com mais 39 pessoas na carroceria de um caminhão ‘pau de arara’. Sinceramente estava desconfiado dos milagres que o Padre Donizetti realizava. Quando cheguei fiquei surpreendido ao ver uma multidão de pessoas que se aglomerava em frente à casa paroquial esperando sua bênção. Havia muita gente na enorme fila que se formava, em sua maioria doentes. Não entrei na fila porque estava bem de saúde, porém, permaneci próximo à porta de entrada da casa. De repente, presenciei uma cena que nunca mais saiu da minha memória: chegou uma jovem acorrentada com as mãos para trás, conduzida por dois homens, seus irmãos. Eles pediram minha ajuda porque ela estava visivelmente transtornada. Entrei com os três e nos aproximamos do padre. Inexplicavelmente ela foi se acalmando. O padre disse para que tirássemos a corrente de suas mãos. Os irmãos falaram que era melhor não fazer isso porque ela agia com violência. Diante da insistência do Padre Donizetti, eles disseram que não se responsabilizariam por qualquer coisa de anormal que ocorresse e a soltaram. Sem a corrente, ela recebeu a bênção, então, ajoelhou-se e, beijando seus pés, pediu: ‘Pelo amor de Deus, me perdoa!’. O padre respondeu: ‘Quem sou eu, minha filha, para a perdoar? Também sou um pecador. Todos somos pecadores! Vai em paz e que Deus a acompanhe’. Depois ele colocou as mãos na minha cabeça e me abençoou, bem como os irmãos da moça. Saí da casa paroquial um pouco assustado com tudo aquilo que havia acontecido. No fim da tarde, retornei para minha cidade com muito mais fé. A partir daquele dia, teve início a minha conversão!”.
Quando lemos os evangelhos, vemos Jesus realizando grandes milagres e sinais.
Essa jovem acorrentada nos faz lembrar da mulher pecadora que quebrou o frasco de perfume perto do Senhor, chorou seus pecados e beijou-lhe os pés. Ela foi perdoada por ter se humilhado diante dele, arrependida de todo erro que havia cometido. Contudo, a história do senhor Deolindo nos recorda também da importância de mudarmos de vida depois que somos curados por Jesus.
Por intermédio do seu servo, Padre Donizetti, Jesus libertou aquela jovem que chegou presa por uma corrente, como também curou a incredulidade daquele jovem que viera em peregrinação, cheio de dúvidas no coração. A perseverança do senhor Deolindo nos ajuda a entender que todo dia é tempo de recomeçar. Façamos nossas as palavras de Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. Estavas comigo e eu não contigo. Provei-te e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz”.
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