Há menos de dois meses não imaginávamos nada. Tudo corria normalmente. Já pensávamos que a Quaresma e a Páscoa seriam sem muitas novidades. Mas Deus estava preparando outra coisa para a Igreja e para o mundo.
Como num susto, tomamos conhecimento de que o Papa Bento XVI anunciara sua renúncia ao pontificado. Era dia 11 de fevereiro, pela manhã, segunda feira de carnaval, quase início do tempo quaresmal. A Igreja entrou em inesperado movimento, sabendo que, a partir do dia 28 daquele mês, a Sé de Pedro estaria vacante e que, no tempo oportuno, deveria ser convocado novo conclave. O Colégio cardinalício não estava preparado com nomes indicativos.
A notícia foi tão bombástica que a imprensa internacional modificou suas pautas daí para frente e os jornais escritos, falados, televisivos e virtuais passaram a ocupar suas primeiras páginas com o assunto. Lindas coisas foram ditas, mas muitas notícias ruins sobre problemas na Igreja ocuparam grandes espaços; algumas reais, outras ampliadas ao gosto dos editores, outras injustas, pois não comprovadas.
No período de Sede Vacante, a mídia se interessou em prognosticar candidatos os mais variados, segundo os seus critérios ou baseados em elucubrações dos chamados jornalistas vaticanistas. Sem ofendê-los, constatamos que foram, neste particular, profissionalmente ineficientes. O nome escolhido caiu sob o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, um nome não mencionado nas pesquisas, de idade não muito jovem, num conclave rápido, o que também não se esperava.
O eleito era um homem de Deus, marcadamente orante, pobre, amigo da pobreza, simples nos costumes e no jeito de dirigir-se aos fiéis, exemplarmente íntegro, capaz de contestar o governo de seu país para defender corajosamente a doutrina de Cristo, sem se preocupar com sua própria imagem, muito menos com aplausos. Ao ouvir a palavra amiga de seu vizinho de cadeira, o brasileiro e franciscano Cardeal Hummes, que lhe segredou ao ouvido “não se esqueça dos pobres”, escolheu o nome Francisco para si. A inspiração do céu apontou para Assis, onde viveu, há mais de 800 anos, um jovem rico que se desapegou de toda riqueza para viver como pobre junto aos pobres, aos doentes, aos leprosos, aos pequenos, gente lascada, marginalizada pela sociedade. Francisco de Assis viveu tão autenticamente a sua escolha que se tornou admirado não só pelos meios católicos, quanto por outros grupos religiosos ou areligiosos em todo o mundo ocidental e oriental. Com seu jeito de amar como Jesus amou, ele causou necessária e encantadora reforma na Igreja, de um jeito tão bom que ninguém ousa classificá-lo como contestador.
Francisco dos pobres, da paz, da fraternidade universal, do perdão, da misericórdia, da harmonia com a natureza. Ele chamava de irmão a tudo o que Deus criou: árvores, animais, sol, lua, água, fogo e até a morte lhe era fraterna.
A Igreja e o mundo ganharam um Papa chamado Francisco. E isto se deu nas celebrações do mistério Pascal de 2013. Passou-se pela penitência quaresmal, pela dolorosa paixão do Senhor e chegou-se às alegrias da ressurreição. Os que se angustiavam tomaram novo alento e se revestiram de esperança, os profissionais da imprensa iniciaram novo tipo de relacionamento com a realidade religiosa que ora é santa e ora é pecadora chamada à conversão. Novos ares vieram para a humanidade (o Papa veio de uma cidade chamada Buenos Aires).
A virtude que mais tem brilhado em todo este processo é a humildade. Aquela de Cristo. Diz Dostoiévisk que a beleza salvará o mundo. Estou bem inclinado a afirmar que a beleza tem um nome e se chama humildade.
Isto, não há dúvida, é Páscoa. É passagem de situações de morte para realidade vitoriosa da vida, da vida verdadeira que só pode vir de Deus e de mais lugar nenhum!
Boa Páscoa, com Francisco!
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